Mães de Luiz Maurício e Gabrielzinho mostram como o amor transformou os filhos em atletas olímpicos

Mães de Luiz Maurício e Gabrielzinho mostram como o amor transformou os filhos em atletas olímpicos

Nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Paris, realizados em 2024, Juiz de Fora esteve presente nas finais do lançamento de dardo, com Luiz Maurício da Silva, e da natação, com Gabriel Araújo, o “Gabrielzinho”. O que une a história dos dois atletas, além da relação com a cidade, é o apoio que tiveram desde sempre de uma pessoa fundamental em suas vidas: as mães.

Dando continuidade a uma série de reportagens em homenagem ao mês das mães, a Tribuna conversou com Cláudia Dias, mãe de Luiz Maurício, e Eneida Santos, a “Neidinha”, mãe de Gabrielzinho, que contaram como apoiaram seus filhos desde o começo para que eles pudessem realizar os seus sonhos.

Do Nossa Senhora de Fátima para Paris

Criado no Bairro Nossa Senhora de Fátima, Zona Oeste da cidade, o juiz-forano Luiz Maurício da Silva se tornou o primeiro brasileiro a chegar a uma final olímpica na disputa do lançamento de dardo em 92 anos nos Jogos Olímpicos de Paris, em 2024. A sua maior incentivadora é sua mãe, Claudia Dias, que não cansa de externar seu orgulho pelo filho e destaca o seu papel para que ele conquistasse os seus objetivos. “Mãe é fundamental, porque a gente bota no mundo, cria e é muito bom saber que não ficou só naquilo. Ele faz parte do Brasil, competindo, trazendo muita alegria pra mãe mas também para todos os brasileiros”, afirma.

Cláudia entende que sua principal atitude para ajudar Luiz Maurício a se tornar um atleta foi ter acreditado no sonho dele, independente da dificuldade. “Não deixei apagar a chama. Tentei barrar tudo de ruim que o mundo oferece para não chegar no coração dele. A criança tem um sonho, e eu não poderia falar que é impossível. Não deixei ele apagar o sonho que ele tinha, mesmo sabendo que podia ser impossível”, conta.

O apoio deu certo. Luiz Maurício já se destacava dentro do lançamento de dardo desde as categorias de base, no projeto de extensão Cria UFJF, da Faculdade de Educação Física e Desportos (Faefid) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Com 18 anos, em 2018, o juiz-forano competiu no Mundial de Atletismo sub-20 em Tamperes, na Finlândia. Em 2022, o atleta se tornou campeão sul-americano sub-23, com sua melhor marca pessoal até então: 80,79 m.

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Cláudia guarda com carinho suas fotos com seus filhos Luiz Maurício e Maria Júlia (Foto: Felipe Couri)

No dia 30 de julho de 2024, Luiz Maurício conquistou uma vaga nos Jogos Olímpicos ao atingir a marca de 85,57m durante a disputa do Troféu Brasil de Atletismo. Nas Olimpíadas, estabeleceu o novo recorde sul-americano, ao lançar a distância de 85,91m nas classificatórias, o que lhe rendeu um lugar na final. Na decisão, terminou na 11ª colocação.

“Ele é meu orientador”

Cláudia relata que sua vida mudou depois da participação de Luiz Maurício em Paris 2024. A maior transformação se deu com relação aos estudos. Incentivada pelo filho, concluiu o ensino médio e agora cursa o segundo período de Ciências Humanas, na UFJF. “‘Mãe, volta a estudar que a gente tem que ter sonho, tem que ter objetivo’, ele dizia. Aí voltei, fiz o Educação de Jovens e Adultos (EJA), depois fiz o Enem e hoje estou na faculdade. Primeiro período é muito difícil porque é outro mundo, é muita novidade. Eu ligava pra ele chorando, falava que estava difícil, e ele dizia que eu iria conseguir. E consegui, estou aí, caminhando”, conta

Amor incondicional

Além de Luiz Maurício, Cláudia também é mãe de Maria Júlia, para quem também deixa um relato. “Filhos, obrigada! Muito obrigada por me tornar mãe. E eu agradeço de ter cumprido o papel de mãe pra vocês e vocês de filhos pra mim, que a gente é uma família. Amo vocês. E o melhor presente é ver a alegria de vocês”, diz, emocionada.

Amor, força e coragem

A história de Gabriel Araújo, o “Gabrielzinho”, cinco vezes medalhista paralímpico e exemplo de superação nas piscinas, começa antes mesmo de seu nascimento. No centro dessa trajetória está sua mãe, Eneida Santos, a “Neidinha”, de 57 anos, natural de Corinto, cidade distante cerca de 468 quilômetros de Juiz de Fora. Ela transformou o amor pelo filho em força, a fé em coragem e a maternidade em missão.

Ao quinto mês de gravidez, Eneida soube que seu filho nasceria com focomelia, uma condição congênita rara que afeta o desenvolvimento dos membros superiores e inferiores.O diagnóstico poderia ter sido um baque, mas foi, na verdade, o ponto de partida para uma história de dedicação e esperança. “Fui para Belo Horizonte buscar o tratamento dele. Tivemos todo o suporte para eu ter uma gestação tranquila e ele um bom alicerce”, relembra.

Desde pequeno, Gabriel mostrava uma personalidade vibrante. “Sempre foi uma criança muito alegre, determinada. Nunca gostava que ninguém fizesse as coisas para ele, tentava fazer sem a ajuda de ninguém”, conta a mãe. Eneida não poupou esforços para prepará-lo para o mundo. A escola, ainda despreparada para acolher alunos com deficiência, não foi um obstáculo. “Deixava claro para ele como tudo ia ser, fazia esse trabalho mental. Passei esses ensinamentos e ficou fácil dele lidar com essas situações. O diferencial foi eu aceitar como ele é”, acredita.

Assim, a infância do fenômeno da natação não foi cercada por limitações, mas por amor e liberdade. “Na minha casa não tinha nada adaptado, ele que foi se adaptando”, diz Eneida. “Nunca foi tratado como um coitado. Ensinei que temos dois ouvidos. Um para ouvirmos o que acrescenta na nossa vida e outro para usarmos como lixo. Por isso, ele descartava tudo que falassem que magoasse ele”.

Com o tempo, Gabriel desenvolveu habilidades para lidar com o dia a dia. Começou a jogar futebol em um projeto social, e a natação surgiu de forma despretensiosa. “Parece até brincadeira, mas a habilidade dele foi um dom. Ele nunca fez aula de natação. Aprendeu porque íamos muito em clube e queria entrar nas piscinas. O talento foi notado por Aguilar de Freitas, professor que se tornou peça fundamental na descoberta do atleta. “Ele nunca deixou Gabriel de fora das atividades, apesar da deficiência”, recorda Eneida.

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Eneida sempre esteve ao lado de Gabrielzinho (Foto: Arquivo pessoal)

O resultado dessa confiança e incentivo não demorou a aparecer. Após vir para Juiz de Fora para ser treinado pelo técnico Fábio Antunes, Gabrielzinho estreou nas piscinas internacionais com brilho. Em 2021, aos 19 anos, conquistou duas medalhas de ouro nos Jogos Paralímpicos de Tóquio, nas provas dos 200m livre e 50m costas, classe S2. Também foi medalhista no Mundial de Natação Paralímpica em Manchester e em outras edições, firmando-se como um dos principais nomes da natação adaptada no mundo. Em Paris, faturou três ouros e se consagrou como o maior nome da natação paralímpica do mundo na atualidade, exalando carisma, disciplina e talento.

Mesmo com a ascensão meteórica, a fama e as conquistas não mudaram os valores da família. Pelo contrário, fortaleceram os laços. “A união da gente depois que a fama veio ficou ainda mais forte. Sempre ensinei para ele manter os pés no chão, a humildade e ter foco naquilo que ele quer fazer. Gabriel tem mente de vencedor e de campeão. Ele nasceu com foco e determinação”.

Hoje, Eneida Santos olha para a trajetória do filho com orgulho e a consciência tranquila de quem sempre esteve presente. “Sinto que cumpri minha missão. Acredito que qualquer pessoa pode alcançar o que deseja, desde que confie em si mesma”, afirma. Mais do que mãe de um campeão paralímpico, ela considera que se tornou um símbolo de força. “É papel da mãe acreditar no filho, não se envergonhar e buscar os direitos que ele tem. Todo ser humano tem um talento, o importante é descobrir e incentivar. O novo assusta, mas a fé move barreiras”.

Figura constante nos bastidores das competições, ela faz questão de preservar a simplicidade e os vínculos familiares. “O que mais gostamos é de estar juntos, celebrar a vida, ouvir música, dançar e fazer um churrasco em casa”, conta.

Para as outras mães, Eneida deixa o recado de que é preciso coragem para acreditar nos filhos e lutar por eles, independentemente das circunstâncias. “Toda mãe precisa enxergar o potencial do próprio filho, não sentir vergonha e buscar os direitos que ele tem. Cada pessoa carrega um talento, o desafio é descobrir e incentivar. Acreditar faz toda a diferença.

Para ela, o papel da família é essencial na formação da autoestima e da confiança. “Ensinar a gostar de si, ser firme e se adaptar ao mundo como ele é. Foi isso que fiz com o Gabriel. Não transformei a casa para ele, foi ele que aprendeu a transformar o mundo ao redor”.

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