Trump gerou incerteza ‘tão fora do normal’ que paralisou investidores, diz CEO da BlackRock

Em meio a um início de 2025 no mercado que está sendo turbulento e recheado de incertezas geradas por Donald Trump, o Country Manager da BlackRock no Brasil, Bruno Barino, comenta que os investidores profissionais ficaram paralisados por conta da montanha-russa com a cotação dos ativos.

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Ao Dinheiro Entrevista, o executivo da BlackRock relata uma experiência pessoal em que, em um evento da empresa, investidores profissionais decidiram não tomar nenhuma decisão por conta da volatilidade na bolsa de valores que estava atrelada ao tarifaço de Trump. A entrevista foi gravada antes do acordo dos EUA com a China, firmado no início desta semana.

“A BlackRock faz um evento em Miami todos os anos com os 140 maiores clientes da América Latina. Levamos clientes do Brasil, do México, de todos os lugares. São investidores profissionais, com nível de sofisticação maior, com uma base de ativos sob gestão relevante. Ficamos dois dias trancados em um hotel….são temas interessantes, o evento é bem sofisticado com relação a conteúdo, então tem uma presença de clientes grandes – CIOs de bancos, gestoras”, conta.

“Tudo que aconteceu foi tão fora do normal que ninguém fez nada. O dia que o S&P saiu de -5% para +7% por causa de um boato, você via todo mundo na plenária efetivamente parado. Você esperaria que com o mundo pegando fogo estaria todo mundo correndo para fazer alguma coisa, mas é um nível de volatilidade,  de mudança e de falta de cenário, de informação, tão grande, que para um investidor profissional o melhor que ele pode fazer é nada, e então tentar ler o movimento e ver o que pode ser feito melhor”, completa.

Bruno Barino comenta que a empresa tem tentando cada vez ficar mais perto dos clientes para ‘entender impactos de curto prazo’ como esse. Além disso, frisa que não tomar decisões, nesse tipo de contexto, geralmente é o melhor caminho – em detrimento de tentar acertar o ‘tempo exato’ do mercado.

“Tentar acertar o timing, o tempo de mercado, de entrar e sair, é a pior coisa que você pode fazer. Se você está confiante na tese, deixa o solavanco chegar e vai”, defende.

Por fim, ressalta que os primeiros meses de 2025 viraram as projeções da casa de ponta cabeça e que o momento é de grande cautela tanto para realizar alocações quanto para traçar cenários

“O ponto que mais preocupa é o ambiente de incerteza com relação ao crescimento econômico dos Estados Unidos, não só no médio e longo prazo, mas no curto também. Dependendo de como essa discussão evoluir, você tem um impacto econômico relevante para ser gerenciado. É um cenário totalmente diferente do que tínhamos. Nós tínhamos um cenário de expansão econômica”, explica.

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Barino ainda avalia que esse cenário de instabilidade gerado pelas recentes decisões comerciais dos EUA tende a provocar uma movimentação global no destino dos investimentos. Com as novas tarifas implementadas pelo governo Trump, o capital deve começar a buscar alternativas fora dos ativos americanos.

Essa mudança abre espaço para que países como Japão, Europa e Brasil tentem atrair parte desses recursos. Ele afirma que o momento exige que o Brasil busque se posicionar de forma estratégica para se beneficiar desse movimento.

“Um foco que temos que trabalhar agora, que temos que explorar, é como o Brasil se posiciona para capturar um pedaço desse fluxo de capital. Hoje em dia o nível de incerteza da economia americana, com as medidas que começaram a ser implementadas neste ano, é muito grande. A oportunidade que o Brasil tem agora é se posicionar para captar um pouco desse fluxo”, explica o executivo da BlackRock

Ele faz um paralelo entre o ambiente econômico americano e o que ocorreu no Reino Unido na época do Brexit. Na opinião de Barino, os níveis de incerteza gerados pelas políticas de Trump podem ser comparados, em certa medida, aos que surgiram na economia britânica naquele período. Esse quadro, segundo ele, vem forçando investidores a reverem suas alocações.

Foco no acesso ao mercado internacional

A BlackRock é, atualmente, a maior gestora de investimentos do mundo, com mais de US$ 11 trilhões sob custódia. Além disso, a companhia desenvolve tecnologia financeira e tem influência enorme no mercado global.

Barino comenta que, no Brasil, a companhia segue com uma fatia de mercado relevante em nichos específicos, como é o caso dos fundos de índice (ETFs, na sigla em inglês).

“A BlackRock tem liderança em nichos específicos, nos fundos [ETFs] chegamos a ter 38% de market share [fatia de mercado]”.

Atualmente a companhia tem alguns dos ETFs mais famosos da bolsa brasileira, como o IVVB11, que replica o desempenho do S&P 500, o principal índice da bolsa dos Estados Unidos, ou o BOVA11, que acompanha a performance do Ibovespa.

Segundo Barino, além desse negócio que já é amplamente consolidado, a gigante dos investimentos tem mirado crescer em uma outra linha de negócio, que é trabalhar junto a institucionais – como bancos e corretoras – na ampliação do acesso ao mercado internacional.

“Você tem toda a oferta possível, é um universo praticamente infinito. Os bancos e corretoras são nossos parceiros, e ajudamos eles a trabalhar o cliente final. É uma linha de negócios que tem crescido bastante democratização no acesso ao investimento no exterior. Hoje em dia se abre contas com um clique. Estamos ajudando os clientes a levar soluções escaláveis”, explica o Country Manager da BlackRock.

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