
José “Pepe” Mujica, ex-presidente do Uruguai, ganhou fama internacional como “o presidente mais pobre do mundo” por seu estilo de vida austero enquanto comandava o país entre 2010 e 2015. Ele morreu na última terça-feira (13), aos 89 anos, após complicações causadas por um câncer de esôfago.
O apelido veio do contraste entre o cargo que ocupava e a simplicidade com que vivia. Durante seu mandato, entre 2010 e 2015, Mujica desafiou o padrão dos líderes globais. Rejeitou a residência oficial e preferiu continuar morando em sua chácara nos arredores de Montevidéu, onde cultivava flores com a esposa, Lucía Topolansky, ex-vice-presidente do Uruguai.
Seu cotidiano simples incluía dirigir um Fusca azul, vestir-se sem formalidades — às vezes com sandálias em eventos oficiais — e abrir mão de grande parte do salário presidencial.
Mujica não acumulava riquezas nem fazia disso um objetivo. Doava cerca de 90% do que recebia como chefe de Estado para causas sociais e para o partido que ajudou a fundar, a Frente Ampla (FA).
Apesar da fama, Mujica não se considerava pobre. “Pobres são aqueles que precisam de muito”, dizia. Para ele, viver com pouco era uma escolha de liberdade e coerência com seus valores políticos e pessoais: “pratico a sobriedade no viver”.
Esse estilo de vida rendeu-lhe atenção global e o apelido que, apesar da simplicidade, carrega um peso simbólico: “o presidente mais pobre do mundo”. A alcunha, amplamente difundida na mídia internacional, contrastava com o poder que ocupava, e o transformou em ícone de coerência entre discurso e prática política.
Quanto Mujica tinha de patrimônio?
Em sua última declaração de bens à Justiça Eleitoral, feita em 2014, Mujica declarou um patrimônio estimado em cerca de R$ 716 mil. Esse total incluía:
- A chácara onde morava, avaliada em R$ 434.772
- Metade de dois terrenos (R$ 53.353)
- Dois carros (R$ 10.570)
- Tratores e máquinas agrícolas (R$ 42.414)
- Depósitos bancários: R$ 231.447, divididos em duas contas
Na presidência, recebia cerca de R$ 28.671 mensais. Desse valor, doou mais de R$ 570 mil ao Plano Juntos, voltado à construção de moradias populares, além de equipamentos como uma pá mecânica (R$ 89.294) e uma serraria (R$ 44.647).
Também repassou cerca de R$ 192 mil à Frente Ampla, coalizão de esquerda que ajudou a fundar e que exige contribuição salarial dos políticos filiados.
Últimos dias
Nos últimos dias de vida, Mujica esteve cercado por silêncio e cuidado. Em janeiro, revelou que o câncer havia avançado e que não buscaria novos tratamentos. Lucía Topolansky confirmou que ele estava sendo acompanhado por uma equipe médica para amenizar o sofrimento.
Sua morte encerra uma trajetória singular, marcada mais por ideias do que por posses — uma coerência rara em tempos de descrença política.
Ao deixar a presidência e a vida pública, Mujica não saiu do imaginário popular. Sua figura permanecerá como símbolo de uma liderança baseada em convicções, não em privilégios. E, para muitos, continuará sendo o presidente mais pobre — e talvez o mais rico em valores — que o mundo já conheceu.
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