Pepe Mujica em Foz evocou sentido para a existência: ‘Viver é um milagre’

Em sua primeira passagem por Foz do Iguaçu, o ex-presidente do Uruguai José Pepe Mujica bradou que as pessoas devem dar um sentido para a existência, afirmando que “viver é um milagre”. Foi em 2016, durante aula magna da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), reportada, na ocasião, pelo H2FOZ.

Ícone da ação política e do pensamento progressista na América Latina, respeitado por seu humanismo, Mujica faleceu nesta terça-feira, 13, aos 89 anos, comunicou o presidente do Uruguai, Yamandú Orsi, em suas redes sociais. Ele fazia tratamento contra câncer de esôfago, sendo que, desde outubro de 2020, o líder do Movimiento de Participación Popular (MPP) havia se retirado da política.

Ele falou a um auditório lotado de estudantes e professores. Analisou a conjuntura, defendeu a integração latino-americana como fator decisivo para o desenvolvimento dos povos continente e abordou política, consumo, riqueza e desigualdade, estimulando a juventude a construir um mundo mais justo e solidário.

Na ocasião, Pepe Mujica disse que o tempo livre é outro nome para liberdade. “Você é livre quando usa o tempo para a sua própria felicidade, na cultura, para o amor, com os amigos e a família”, refletiu. Para ele, as pessoas não devem passar a vida trabalhando para pagar contas. “Viver é um milagre. Não vivam apenas porque nasceram, deem um sentido para a existência e não queiram nada em demasia, pois na sociedade capitalista o consumo acaba com a liberdade das pessoas”, asseverou.

Sem fazer apologia à pobreza, na época senador, Pepe combateu duramente a frivolidade do consumo. “Há supermercados e shoppings que oferecem todos os produtos, só não vendem tempo de vida”, ressaltou. “O consumo rouba o tempo de vida, porque quando você compra algo não compra com dinheiro, mas sim com o tempo de vida envolvido na produção daquele produto”, apontou, provocando longos aplausos do público.

Para viver melhor, segundo o uruguaio, as sociedades precisam reduzir o tempo de trabalho. “Precisamos trabalhar apenas quatro ou cinco horas por dia. Trabalhar menos para trabalhar todos”, enfatizou. Para o ex-presidente uruguaio, a diminuição da jornada laboral acontecerá no futuro. “A redução do tempo de trabalho vai ser inevitável e deverá acontecer em todos os países. O mundo precisa ser e será mais justo”, definiu.

Jornadas em Foz

Em fevereiro do ano passado, Pepe Mujica foi o convidado ilustre da Jornada Latino-Americana e Caribenha de Integração dos Povos, em Foz do Iguaçu. Ele aproveitou a passagem pela cidade para visitar a Itaipu Binacional, refletindo que a integração latino-americana, para ser efetiva, carrega o desafio da participação popular.

“Enquanto o povo não entender que a integração defende os interesses do próprio povo, ela não nunca será plena”, afirmou Mujica, em reportagem de Guilherme Wojciechowski no H2FOZ. E mencionou considerar a denominação América Latina equivocada. “É um nome de fora, que não integra os negros que foram trazidos da África ou os indígenas originais de nossa região.”

Pepe Mujica

Foi um dos fundadores do Movimento de Libertação Nacional – Tupamaros, na década de 1960. O grupo, voltado para a guerrilha urbana, enfrentou diretamente a ditadura militar uruguaia. Mujica foi preso quatro vezes — ao todo, passou 14 anos na prisão —, foi baleado, torturado, passou vários anos em solitárias e conseguiu escapar da prisão em pelo menos duas ocasiões.

Com o fim do regime autoritário, Mujica foi libertado e ajudou a criar o Movimento de Participação Popular (MPP), uma coalizão de forças da esquerda e centro-esquerda. A chamada Frente Ampla o conduziu à Presidência da República. Ao longo de sua trajetória político-institucional, Mujica também exerceu os cargos de deputado federal, ministro e senador.

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