Em crise, Correios miram corte de R$ 1,5 bi com corte de férias e redução de jornada

Em meio a um cenário de aumento do prejuízo, déficit bilionário e figurando como o maior peso para as estatais fecharem no vermelho, os Correios desenham um plano de mudança que envolve ajustes de custos. A expectativa da companhia é de que, com o pacote de medidas, a economia fique na casa dos R$ 1,5 bilhão – cifra que não seria suficiente para a empresa fechar no lucro, mas reduziria o prejuízo em mais da metade.

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A IstoÉ Dinheiro teve acesso a um documento internos do Correios que mostra que uma série de iniciativas estão em andamento no momento, incluindo incentivos a redução na jornada de trabalho, prazo maior para Programa de Desligamento Voluntário (PDV), retorno ao trabalho presencial e cortes nas férias:

  • Prorrogação das inscrições para o PDV
  • Incentivo a redução da jornada de trabalho, com ajuste proporcional de remuneração, em unidades administrativas
  • Incentivo à transferência voluntária e temporária de carteiros e atendentes comerciais para centros de tratamento
  • Suspensão temporária da fruição de férias, com retomada a partir de janeiro de 2026
  • Revisão da estrutura da sede da empresa, com corte de pelo menos 20% no orçamento de funções
  • Retorno ao regime de trabalho presencial a partir de 23 de junho de 2025
  • Lançamento de novos formatos de planos de saúde, com economia estimada de 30% para a empresa e para os empregados

Além dessas, o documento aponta que outras medidas estão em fase de elaboração e ‘serão anunciadas oportunamente’. Nesse caso, são medidas com ‘foco no aumento da eficiência operacional’, podendo sinalizar um enxugamento maior em outras linhas.

A estatal também deve trabalhar com a venda de imóveis ociosos, o compartilhamento de unidades operacionais e revisão de contratos nas 10 maiores Superintendências Estaduais (SEs).

Vale destacar que, desde meados de 2023, a empresa mantém em voga um plano de reestruturação. Todavia, a companhia tem adotado medidas quem não excluam medidas do acordo coletivo com os trabalhadores – o qual foi um alvo da gestão anterior, que cortou 40 itens desse rol, reduzindo benefícios trabalhistas dos funcionários dos Correios.

Desde meados de 2024 a crise na companhia veio se intensificando, já com a empresa sendo responsável pela metade do déficit bilionário das estatais.

Um documento de 2024, um ofício circular mantido em sigilo, mostra que a companhia chegou a citar risco de insolvência como justificativa para medidas de corte de gastos.

“Tais medidas visam, fundamentalmente, a recompor o saldo do orçamentário/caixa para retomada do equilíbrio econômico-financeiro e evitar que a Empresa entre em estado de insolvência”, consta no trecho do documento.

O ofício ainda descreve que a empresa ‘vem enfrentando dificuldades na manutenção de um patamar razoável de equilíbrio entre receitas e despesas’, e que entre janeiro e agosto de 2024 as disponibilidades de caixa registraram redução de, aproximadamente, R$ 1,81 bilhão.

Sendo uma estatal, a companhia não iria falir como uma empresa privada, mas teria de ser resgatada pelo Tesouro Nacional após não conseguir arcar para com suas obrigações financeiras.

Nesse caso, o Tesouro Nacional poderia intervir, aportando capital ou renegociando dívidas e dpendendo do caso, o governo pode fazer um resgate financeiro (bailout), promover reestruturações administrativas e financeiras, alterar o estatuto social e os conselhos e também vender ativos ou subsidiárias.

Afora corte  custos, Correios quer gerar mais receita com novas verticais e marketplace

No lado da receita, os Correios preveem expansão negócios com novos modelos operacionais – incluindo B2C, B2B e D2C – e políticas de precificação customizadas.

A companhia aposta, ainda, no lançamento da sua própria plataforma de marketplace. Em entrevista ao Dinheiro Entrevista divulgada em fevereiro deste ano, o presidente da estatal, Fabiano Silva dos Santos, comentou que há ‘diálogos avançados’ com grandes empresas do varejo, que poderão poderão colocar seus produtos à venda na plataforma de comércio eletrônico dos Correios.

“O objetivo do nosso marketplace, do nosso site de vendas, é possibilitarmos um maior acesso à população brasileira. Hoje no Brasil, acho que temos cerca de 25% do nosso comércio em via eletrônica. Então a ideia é que aproveitamos a capilaridade que os Correios tem, essa grande penetração que temos na sociedade”, disse à época.

O executivo ainda frisou que a companhia tem como foco a diversificação de receita, visando deixar de ser uma empresa limitada somente a entregas e serviços postais. Essas duas verticais devem seguir sendo as maiores fontes de receita, todavia a empresa mira levantar recursos com outras operações, como operações logísticas – que tem multiplicado de tamanho nos últimos meses, segundo relata o executivo.

Prejuízo dos Correios mais do que quadruplica e vai a R$ 2,6 bilhões em 2024

Os Correios fecharam o ano de 2024 com um prejuízo de R$ 2,6 bilhões, conforme informações publicadas no Diário Oficial da União (DOU) no início deste mês de maio.

O resultado representa um aumento expressivo em relação a 2023, quando os Correios haviam encerrado o ano com perdas de R$ 597 milhões. Na comparação, o prejuízo quadruplicou.

Hoje, 85% das unidades operacionais da empresa trabalham com resultado negativo. Apesar disso, os Correios afirmam que seguem prestando atendimento nos 5.567 municípios brasileiros, com preços que a própria companhia considera acessíveis.

Entre janeiro e dezembro de 2024, a companhia arrecadou R$ 21,4 bilhões em receita líquida, um recuo inferior a 1% frente aos R$ 21,6 bilhões obtidos no mesmo período do ano anterior. No entanto, os gastos aumentaram 7,9%, saltando de R$ 22,3 bilhões em 2023 para R$ 24 bilhões no acumulado de 2024.

Parte desse prejuízo foi associado a investimentos. A estatal direcionou R$ 830,27 milhões para projetos relacionados ao Plano Plurianual e outras ações internas.

Além disso, os Correios atribuem a queda na receita às alterações nas regras para importações, especialmente a criação da chamada ‘taxa das blusinhas’, implementada em julho. A mudança impactou o volume de encomendas de sites internacionais, um segmento importante para a empresa.

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