O economista Daron Acemoglu, professor do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e vencedor do Prêmio Nobel de Economia em 2024, disse nesta terça, 6, que a crise provocada pelas tarifas impostas pelo presidente Donald Trump apresenta uma grande diferença em relação a outras crises que preocuparam o mundo.
Desta vez, os ativos americanos deixaram de ser vistos como uma opção segura, ressaltou Acemoglu em sua apresentação no evento Cenário Geopolítico e a Agricultura Tropical, promovido pela Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) – Sistema CNA/Senar -, em parceria com o Estadão e o Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), em São Paulo.
“Isso pode trazer consequências fundamentais não apenas para a segurança financeira, mas para a forma como a economia dos EUA opera”, disse. “Ninguém sabe os efeitos disso, podemos construir cenários, mas ninguém sabe.”
O economista mencionou ainda que há dúvidas sobre a sobrevivência da democracia americana, o futuro da ordem comercial global, os ativos americanos, o dólar e as relações entre EUA e China. “Estes são dias muito importantes para todos os países do mundo, e é impossível para nós termos qualquer certeza do que acontecerá”, enfatizou.
‘Poucas oportunidades’
Acemoglu enfatizou que a geopolítica passa por um período “completamente confuso e desorganizado”. O mundo, ressaltou o economista, está enfrentando mudanças sem precedentes que trazem perigos e desafios, ao mesmo tempo que há “algumas poucas oportunidades”.
O professor do MIT abordou quatro grandes tendências, centrais em seu trabalho: as interações entre instituições e tecnologia; inteligência artificial e seus impactos na sociedade e na democracia; as mudanças demográficas; e as mudanças climáticas.
Segundo ele, a eleição de Trump é resultado de mudanças nas dinâmicas tanto sociais quanto econômicas que abriram espaço para agendas mais radicais e a uma revisão completa da ordem global.
Nas últimas quatro décadas, disse o professor, a desigualdade disparou em muitas democracias, inclusive nos EUA. Em paralelo, houve uma deterioração na qualidade dos serviços públicos.
“Parte da razão pela qual Donald Trump está no poder agora nos Estados Unidos é porque, após seu primeiro mandato, a população e os políticos no âmbito democrático não o levaram a sério o suficiente para entender que Donald Trump é um sintoma de um mundo em mudança e dos desafios que foram criados ao longo das últimas várias décadas nos Estados Unidos e no mundo”, afirmou.
Para Acemoglu, Trump realiza nos Estados Unidos uma experiência doméstica, tendo como primeiro objetivo remodelar as instituições americanas. Seus ataques à ordem global, frisou, são essenciais em relação à maneira como ele está tentando moldar as instituições do país. “Quando a administração de Trump desafia os tribunais ao expandir seu poder além da letra da lei, faz parte desta agenda”, afirmou.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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