Premiê do Canadá diz a Trump que seu país “não está à venda”

Líderes se reúnem na Casa Branca em meio a tensões geradas pelas ameaças de Trump à soberania canadense, além da guerra comercial provocada pelas novas tarifas de importação americanas.O presidente dos EUA, Donald Trump, e o primeiro-ministro canadense, Mark Carney, estiveram frente a frente pela primeira vez nesta terça-feira (06/05) no Salão Oval da Casa Branca e não demonstraram sinais de recuo em suas diferenças, em meio a uma guerra comercial que abalou décadas de confiança entre os dois países.

A reunião não chegou a se transformar no bate-boca que o público viu na reunião de Trump com o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, no mesmo Salão Oval, mas tampouco teve a leveza da conversa de Trump com o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, que o convidou para uma visita oferecida pelo Rei Charles 3º.

Desde de que voltou à Casa Branca, Trump promoveu repetidos abalos às tradicionalmente amigáveis relações com o Canadá, ao dizer que desejava fazer do país o 51º estado dos EUA e cobrar pesadas tarifas de importação contra um parceiro fundamental na fabricação de automóveis e no fornecimento de petróleo, eletricidade e outros bens.

A indignação provocada pelos ataques à soberania canadense acabou alavancando a campanha do Partido Liberal de Carney, que obteve uma impressionante vitória nas eleições do mês passado.

Canadá “não está à venda”

Na Casa Branca, Carney as rebateu declarações recentes de Trump, segundo as quais, o Canadá poderia se tornar o 51º estado dos EUA.

O canadense insistiu que seu país “não está à venda”. “Não estará à venda. Nunca. Mas a oportunidade está na parceria e no que podemos construir juntos.”

“O tempo dirá”, respondeu Trump. “Nunca diga nunca, nunca diga nunca.”

O americano disse que os dois líderes não discutiriam a integração do Canadá aos EUA, apesar de insistir que a ideia resultaria em impostos mais baixos para os canadenses.

Questionado por um repórter se havia algo que Carney pudesse lhe dizer para suspender as tarifas de até 25% impostas pelos EUA ao Canadá, Trump respondeu simplesmente que “não”. “É assim que as coisas são”, acrescentou.

O líder canadense reconheceu que nenhum argumento referente às tarifas seria suficiente para mudar a posição de Trump, e disse que “esta é uma discussão mais ampla”. “Há forças muito maiores envolvidas”, prosseguiu. “Isso levará algum tempo e algumas discussões. E é por isso que estamos aqui, para ter essas discussões.”

Em certos momentos, o canadense teve dificuldades para expressar suas opiniões enquanto Trump discorria longamente alternando entre os tópicos. O americano criticou o governador democrata da Califórnia, Gavin Newsom, falou sobre o antecessor de Carney, Justin Trudeau, e insinuou que fará em breve um “ótimo” anúncio que “não é necessariamente sobre comércio”.

“Independentemente de qualquer coisa, seremos amigos do Canadá. O Canadá é um lugar muito especial para mim”, afirmou Trump, acrescentando que os Estados Unidos sempre protegeriam o país vizinho ao norte.

Clima hostil antes do encontro

O encontro entre os dois líderes foi mistura única de agressividade, hospitalidade e teimosia por parte de Trump.

Pouco antes da chegada de Carney, Trump afirmou em postagem em tom hostil nas redes sociais que seu país não precisa de “nada” do Canadá, inclusive das importações de energias, embora quase um quarto do petróleo que os EUA consomem diariamente venha da província canadense de Alberta.

Mais tarde, na presença do primeiro-ministro, ele parabenizou o político liberal pela vitória nas eleições de 28 de abril, antes de mostrar sua obstinação em questões de substância política

Carney, de 60 anos, conquistou o cargo de primeiro-ministro prometendo confrontar a agressividade cada vez maior demonstrada pelos EUA sob Trump, ao mesmo temo em que mantinha a postura calma de um economista que liderou os bancos centrais do Canadá e do Reino Unido.

Os riscos da reunião eram altos e as mensagens antes do encontro eram confusas. Trump disse a repórteres na segunda-feira que não tinha certeza do motivo da visita de Carney. “Não sei bem sobre o que ele quer me ver”, disse Trump. “Mas acho que ele quer fechar um acordo.”

O Secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, alimentou ainda mais as dúvidas sobre o interesse americano em reparar o relacionamento com o Canadá em uma entrevista na segunda-feira à emissora Fox News.

Lutnick chamou o Canadá de um “regime socialista” que vem “basicamente se alimentando dos Estados Unidos”, e disse que a reunião desta terça-feira seria “fascinante”.

Canadá busca novos parceiros

Carney, em entrevista coletiva na sexta-feira, antes de sua viagem, disse que as negociações se concentrariam nas pressões comerciais imediatas e nas relações econômicas e de segurança nacional mais amplas. Ele disse que seu “governo lutaria para conseguir o melhor acordo para o Canadá” e que “tomaria todo o tempo necessário” para conseguir isso, mesmo enquanto seu país busca um conjunto paralelo de negociações para aprofundar as relações com outros aliados e reduzir seus compromissos com os EUA.

O Canadá é o segundo maior parceiro comercial individual dos EUA, depois do México, e o maior mercado de exportação de produtos americanos. Mais de 760 bilhões de dólares em mercadorias fluíram entre os dois países no ano passado.

O território canadense é o principal destino de exportação de 36 estados americanos. Quase 3,6 bilhões de dólares em bens e serviços canadenses cruzam a fronteira todos os dias. Cerca de 60% das importações de petróleo bruto dos EUA vêm do Canadá, assim como 85% das importações de eletricidade dos EUA.

O Canadá também é o maior fornecedor estrangeiro de aço, alumínio e urânio para os EUA e possui 34 minerais e metais essenciais, nos quais o Pentágono está investindo para a segurança nacional americana. O Canadá também é um dos países mais dependentes do comércio exterior do mundo, com 77% de suas exportações indo para os EUA.

rc (AP, Reuters)

O post Premiê do Canadá diz a Trump que seu país “não está à venda” apareceu primeiro em ISTOÉ DINHEIRO.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.