Criador do Tripsy, brasileiro Rafael Streit revela planos para o app em entrevista ao MM

Imagem hero do app Tripsy

Criar um aplicativo de sucesso no cenário atual e em que, muitas vezes, parece não haver mais tanto espaço para a concorrência, já parece algo bem difícil naturalmente. Agora imagine alcançar esse feito conquistando uma projeção internacional, como foi o caso do desenvolvedor brasileiro Rafael Streit!

Um dos responsáveis pelo aplicativo focado em viagens Tripsy, sobre o qual já falamos uma porção de vezes aqui no site, o desenvolvedor contou um pouco mais sobre a experiência de tocar adiante um projeto desse porte em entrevista concedida ao MacMagazine!

Na conversa, ele nos deu alguns insights sobre o mercado de apps (nacional e internacional), bem como falou sobre temas como inteligência artificial (IA) e revelou planos ambiciosos para o aplicativo.

Bora pra entrevista?

Como surgiu a ideia de desenvolver o Tripsy? O que motivou você a tirar o app do campo das ideias e transformá-lo em um produto real? Teve algum gatilho ou necessidade pessoal por trás dessa decisão?

Eu estava planejando uma viagem mais longa para a Itália e sempre achei muito difícil organizar todas as informações da viagem em um só lugar. Era uma viagem de um mês e queríamos conhecer muitas cidades importantes, muitos locais que não poderíamos deixar de ver — fora todos os restaurantes incríveis.

Então, em um passeio com o nosso cachorrinho da época, o Théo, surgiu a ideia de desenvolver um app que centralizasse tudo: passagens, emails, documentos, itinerário, lugares salvos, informações de voo e hospedagem, entre outros. E, com isso, ainda pude atender a um desejo antigo de criar um aplicativo para mim, que pudesse se tornar minha ocupação principal, um projeto ao qual eu realmente pudesse me dedicar ao longo de anos para um aprimoramento aprofundado e algo que me desse satisfação de trabalhar.

Dando uma olhada aqui no app, vi que ele é muito bem construído em termos de interface e experiência do usuário. É você mesmo o responsável por essa parte? Aliás, existe mais alguém responsável pelo Tripsy?

O time é composto por mim e por meu sócio, Thiago, que é um designer incrível, e consegue trazer toda a bagagem e competência dele pro aplicativo, deixando a experiência do app muito fluida e boa de navegar — além de muito bonito.

Nós sempre tratamos a usabilidade do app com muito cuidado, fazendo vários testes internos e protótipos, até que a solução seja a mais próxima do ideal que conseguimos encontrar naquele momento.

As funcionalidades do aplicativo geralmente são desenvolvidas a partir das nossas próprias necessidades nas viagens que fazemos, ou então de contato direto com nossos clientes que utilizam bastante o app, muitas vezes em viagens com estilo bem diferente do nosso — afinal, cada um tem um estilo de viajar. O suporte do aplicativo é todo feito por nós dois — o que nos aproxima muito do cliente final e das suas necessidades.

Dando uma breve olhada aqui no seu site, vi que você tem um currículo bem extenso e, claro, o Tripsy é o grande destaque. O aplicativo atualmente é a sua única ocupação ou tem alguma outra?

Sim! Depois de muito planejamento para poder viver isso. Era um grande sonho, na verdade. Fiquei cerca de cinco anos dividindo meu tempo entre o Tripsy e outros projetos, até que o app gerasse receita suficiente para sustentar meu sócio e eu trabalhando em tempo integral. Desde 2023, estamos 100% focados nele — o que tem sido uma experiência incrível!

Ao longo da sua carreira, já chegou a trabalhar com Android ou Windows ou sempre teve como foco os dispositivos da Apple?

Comecei a trabalhar com mobile em 2009 e, por um breve período, utilizei uma tecnologia chamada Titanium Appcelerator — inclusive, cheguei a contribuir com o projeto, que é open source. Durante esse tempo, desenvolvi projetos que rodavam tanto no iOS quanto no Android, mas minha preferência sempre foi o iOS. Por volta de 2011, passei a usar exclusivamente o Objective-C para criar apps apenas para iOS. Antes disso, também trabalhei bastante com web e PL/SQL.

É possível que o Tripsy seja lançado algum dia em alguma dessas outras plataformas?

Não temos planos atualmente para desenvolver uma versão para Android. No entanto, eu sempre gostei muito do ambiente mais democrático da web. Hoje temos uma versão reduzida do Tripsy para ela, e é algo em que eu gostaria de investir no futuro, sim, mas ainda está apenas nos planos por enquanto.

Embora o nome mais puxado para o inglês meio que deixe isso subentendido, o Tripsy foi pensado como um produto para o mercado global desde o início ou houve um foco primeiramente no Brasil?

Sim! Quando estava pensando em um nome para o app, buscava duas coisas inegociáveis: a primeira é que o nome fosse internacional, justamente para que não tivesse limites geográficos ou de linguagem. E a segunda era que fosse um nome simples. Sempre pensamos no mercado global, por conta de todas as oportunidades que ele oferece.

Não dá pra negar que inteligência artificial é a moda atual na maioria dos aplicativos. Há algum recurso focado em IA no Tripsy ou planos para algo do gênero? Quem sabe uma integração futura com alguma(s) das APIs da Apple Intelligence, por exemplo…

Com certeza está em nossos planos. Estamos trabalhando em uma grande atualização do app que vai introduzir diversas app intents e shortcuts, abrindo espaço para integração com a Apple Intelligence e também com outros aplicativos, como o ChatGPT. Também temos planos de incorporar IA diretamente no Tripsy para ajudar na organização dos roteiros e até na recomendação de atividades. Como o app já armazena o histórico de viagens dos usuários, podemos usar essas informações como base para sugestões futuras — o que pode ser realmente incrível!

Um dos atalhos que criamos, por exemplo, utiliza o ChatGPT para buscar lugares recomendados na cidade que você está viajando — e automaticamente você pode salvar estes lugares com todas as informações em sua viagem; outro exemplo muito legal é um shortcut que pega qualquer página na internet, extrai as informações dos locais mencionados naquela página, e salva os lugares que o usuário selecionar na viagem — o que é muito útil em posts de recomendação e curadoria de lugares.

Sabemos bem que tornar um app bem-sucedido globalmente não é uma tarefa fácil, especialmente se ele tem origem brasileira. Quais foram as principais dificuldades que você enfrentou nesse sentido?

Acredito que a barreira de comunicação é uma dificuldade. Mesmo o nosso time falando bem inglês, nossa língua principal é o português e, às vezes, a tradução acaba sendo um desafio — tanto no aplicativo quanto no site e nas descrições.

Também acho que existe uma dificuldade com relação ao networking com os meios de comunicação do exterior, que são mais complicados de chegar [para entrar em contato], tanto pela língua quanto pela confiança.

O que foi feito para superar esses desafios? Teve alguma estratégia que possa apontar como dica para nossos leitores que são desenvolvedores ou estão pensando em entrar no ramo?

Ambos trabalhamos por anos para empresas do exterior antes de focarmos 100% no Tripsy, o que nos deu uma certa experiência para entender o mercado.

Acho que algo que também nos ajudou foi sempre pensar no aplicativo como um negócio, já pensar no modelo de assinaturas desde o início e o que no cliente teria em troca. Isso nos permitiu gerar valor desde o início.

Acredito que focar em criar um produto com extrema qualidade, cuidando de cada detalhe, e colocando ainda mais cuidado na entrega final dele, fez toda a diferença. Sempre buscamos ajuda da própria Apple ou outras pessoas de referência no setor para pedir feedback e construir algo incrível.

No fim, quando um produto é bom e bem avaliado, as pessoas recomendam para outras e a churn 1 do produto acaba sendo menor, o que ajuda-o a se manter a médio/longo prazo.

Já consolidado o aplicativo, outro desafio é a concorrência, né? Isso considerando o quão grande é esse mercado de apps de viagens, uma vez que temos players bem conhecidos por aí. Como fazer pra se manter relevante em meio a esse cenário?

A forma como evoluímos o Tripsy está muito mais relacionado às nossas necessidades reais durante as viagens e aos feedbacks dos nossos clientes do que de fato olhar o que a concorrência está fazendo. Nós buscamos inspirações em outras áreas e outros produtos, nem sempre relacionados ao setor de viagens, mas que mostram o cuidado com a usabilidade e interface que sempre buscamos.

Como nós construímos o Tripsy sem nenhum tipo de investimento externo, o nosso ritmo acaba sendo bem diferente de alguns competidores que receberam grandes quantias de investimentos e acabam focando em outras áreas. Sempre focamos na qualidade, usabilidade e funcionalidade, para que isso por si só conquistasse nossos clientes e entregasse o valor esperado, antes, durante e depois da viagem.

Portanto, acho que a forma que nós optamos por nos mantermos relevantes é continuar viajando e usando o nosso produto, melhorando-o na medida que identificamos as necessidades, e não tanto olhando a concorrência, sabe?

Puxando um pouco para o lado do público, existe alguma diferença notável em relação ao brasileiro e o de fora? Em termos de monetização, por exemplo, é meio que um senso comum achar que eles tendem a pagar mais por apps, né? Até que ponto isso é verdade?

Os Estados Unidos realmente são, de longe, o nosso maior público, representando mais da metade dos assinantes. Mas, entre todos os outros países, o Brasil lidera, com um público maior que o de países como Reino Unido, França e Alemanha. Acredito que isso mostra que o público brasileiro está mudando e se adaptando cada vez mais à ideia de que software tem custo.

No nosso caso, também está muito relacionado à questão de que o brasileiro ainda tem muito mais dificuldade de acessar e fazer viagens do que o americano ou o europeu, que têm linhas de trens incríveis ou uma quantidade imensa de aeroportos e voos a disposição. Sem contar o poder aquisitivo para poder fazer essas viagens, que também conta muito — e o brasileiro tem muito menos.

Ainda falando em monetização, sabemos bem que o modelo por assinaturas hoje em dia acaba sendo mais viável até mesmo para a manutenção do app em si, mas o Tripsy também oferece uma opção de pagamento único?

Sim! Oferecemos uma versão lifetime do Tripsy Pro [disponível apenas no site]. Como o nosso produto tem custos variáveis — como APIs 2, armazenamento em nuvem e processamento de emails — , o preço acaba sendo um pouco mais alto do que o habitual. Ainda assim, é uma ótima opção para quem pretende usar o Tripsy por mais de cinco anos — já estamos há oito anos com o app e queremos continuar por muitos mais!

Para concluirmos, tem alguma novidade sendo preparada para o app que você gostaria de compartilhar com os nossos leitores?

Estamos trabalhando em uma atualização incrível faz alguns meses já, a qual vai permitir que o app se comunique com a Siri (Apple Intelligence) e também com outros aplicativos no iOS. Inclusive, criamos alguns shortcuts de exemplo já que se integram com o Fotos (Photos) e o ChatGPT, mas a possibilidades aqui são infinitas. O lançamento deverá acontecer nas primeiras semanas de maio.

Notas de rodapé

1    Taxa de rotatividade.
2    Application programming interfaces, ou interfaces de programação de aplicações.
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