A direitona se organiza

Por Marcos Cardoso*

Pergunta sincera: alguém tem dúvida de que lado estariam o senador Laércio Oliveira (PP) e o ex-deputado André Moura (União Brasil) se o golpe de estado planejado por Bolsonaro tivesse logrado êxito? E os deputados federais Yandra Moura (União Brasil), Rodrigo Valadares (União Brasil) e Thiago de Joaldo (PP), de que lado estariam? Na resistência democrática contra a ditadura que não vingou por um triz ou aboletados no bem bom da nova desordem institucional?

Também não deve haver muita dúvida sobre de que lado estariam os deputados federais Ícaro de Valmir (PL), Gustinho Ribeiro (Republicanos), Delegada Katarina (PSD) e Nitinho (PSD). Mas miremos apenas naqueles que integram os quadros dos partidos Progressista e União Brasil.

É que essas duas agremiações estão se unindo numa federação partidária chamada União Progressista, uma super aglomeração que conta com 109 deputados federais e 14 senadores. Será a maior bancada do Congresso Nacional. Na Câmara, desbanca o PL, com 91 parlamentares, e a federação PT, PCdoB e PV, com 80. No Senado, empata com PSD e PL.

União Brasil e Progressista formam superfederação

A nova federação também contará com a força de seis governadores e de 1.350 prefeitos espalhados pelo país, um quarto dos 5.569 municípios brasileiros. Ainda deverá ser registrada no Tribunal Superior Eleitoral, com validade já a partir de 2026. O PP, de Ciro Nogueira e Hugo Motta, e o União Brasil, de Antonio Rueda, ACM Neto e Davi Alcolumbre, funcionarão como uma única agremiação partidária e juntos poderão ter ou apoiar um candidato a presidente, além de manter o alinhamento nas demais disputas eleitorais.

Há uma questão de genética partidária que aproxima e não esconde a hereditariedade de PP e União Brasil. Parafraseando Leonel Brizola, são partidos filhotes da ditadura. O regime tinha o próprio partido, a Aliança Renovadora Nacional (Arena), que na reforma partidária de 1979 virou o Partido Democrático Social (PDS). Na mesma reforma surgiu o PT, PDT, PP, ressurgiu o PTB e o MDB se transformou no PMDB. Esse primeiro PP, de Partido Popular, do finado Tancredo Neves, sumiu em 1981, quando foi incorporado ao PMDB.

Em 1993, uma dissidência do PDS funde-se com o Partido Democrata Cristão (criado em 1988) e nasce o Partido Progressista Reformador (PPR). Em 1995, o PPR fundiu-se com o Partido Progressista (PP), legenda criada no ano anterior, também por agregação de outras forças partidárias. Nascia, então, o Partido Progressista Brasileiro (PPB), que posteriormente viria a se chamar apenas Partido Progressista, o atual PP.

Em 1985, o grupo majoritário do PDS já havia criado o Partido da Frente Liberal (PFL), que, em 2007, se transformaria no Democratas (DEM). O União Brasil é a fusão do DEM com o PSL, partido que abrigou o ex-presidente Jair Bolsonaro quando ele foi eleito em 2018.

Por essa conexão com o partido que dava sustentação à ditadura militar, os jornalistas José Roberto de Toledo e Tiago Mali, do UOL, apelidaram a federação União Progressista de “Arenão Brasil”. E eles revelam um dado surpreendente: esse agrupamento ofereceu mais votos ao governo Lula na Câmara dos Deputados do que o próprio PT. O Arenão Brasil é o maior partido da base de sustentação de Lula naquela casa do Congresso.

Lembremos que a nova federação comanda quatro ministérios do governo Lula: as pastas de Esportes, com André Fufuca (PP) — indicação apoiada por Arthur Lira —, e Turismo, com Celso Sabino (União), além de indicações dentro da cota partidária do União Brasil como Frederico Siqueira Filho, das Comunicações — indicado por Alcolumbre —, e Waldez Goés (PDT), da Integração e do Desenvolvimento Regional.

Claro que tudo isso interessa ao governo e aos partidos com assento na Esplanada dos Ministérios. Mas o apoio de hoje pode não significar nada no próximo ano para quem historicamente sempre divergiu de Lula e do PT. O bolsonarista governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), é o candidato que a maioria dessa turma sonha na disputa à presidência em 2026. Se não for ele, a federação tem nome próprio, o também bolsonarista governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), que está rezando para ser o ungido.

Como sugerem alguns petistas, é bom Lula manter a barba de molho.

*Marcos Cardoso é jornalista. Autor, dentre outros livros, de “Sempre aos Domingos – Antologia de textos jornalísticos”  (Editora UFS, 2008), do romance “O Anofelino Solerte” (Edise, 2018) e de “Impressões da Ditadura” (Editora UFS, 2024).

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