Inspirados na organização clássica dos elementos químicos, pesquisadores do MIT, Google e Microsoft desenvolveram a primeira “tabela periódica da inteligência artificial“.
Apresentada na 13ª edição da ICLR (International Conference on Learning Representations), em Singapura, a ferramenta propõe uma nova forma de enxergar e combinar os principais algoritmos de aprendizado de máquina.
A estrutura, batizada de I-Con (Information-Contrastive Learning), atua como um modelo matemático unificado que conecta técnicas como CLIP, SimCLR, k-Means, PCA e t-SNE.
A proposta permite visualizar como esses métodos se relacionam entre si com base em seus fundamentos probabilísticos.

Um novo alicerce para o aprendizado de representações
A ideia central da I-Con é reorganizar métodos de aprendizado de representações — uma área do machine learning que busca transformar dados brutos em formas compreensíveis e manipuláveis por algoritmos.
Dentro desse campo, o aprendizado contrastivo se destaca por agrupar dados similares e afastar os diferentes, algo essencial em tarefas como classificação de imagens. A I-Con mapeia mais de 23 desses métodos em um sistema visual e lógico, permitindo comparar, adaptar ou combinar algoritmos com base em seus princípios matemáticos comuns.
Como cada algoritmo “se conecta”: a lógica por trás da I-Con
Um dos grandes diferenciais da I-Con está em sua analogia de conexões sociais: assim como em uma festa, os algoritmos se agrupam por afinidade — seja por proximidade física, função semelhante ou objetivos comuns.
A tabela abaixo, apresentada pelos pesquisadores, mostra como a estrutura mapeia diferentes tipos de algoritmos com base em como os dados se “relacionam” entre si na entrada e o que geram como saída.
Algoritmo | Conectividade de Entrada | Conectividade de Saída |
---|---|---|
Exemplo do Baile (The Gala Example) | Amizade | Compartilhar uma mesa |
Agrupamento (K-Means) | Proximidade física | Compartilhar um cluster |
Redução de Dimensionalidade (SNE, t-SNE, PCA) | Proximidade física em espaço de alta dimensão | Proximidade em espaço de baixa dimensão |
Aprendizado Auto-supervisionado | Os pontos vieram do mesmo processo? | Proximidade física |
Agrupamento por Grafos (Spectral Clustering) | Dois nós estão conectados por uma aresta? | Compartilhar um cluster |
Classificação (Cross Entropy) | O ponto está associado a uma classe específica? | Proximidade física |
Modelagem de Linguagem (LLMs) | Este token completa o texto? | Proximidade física |

A visão ajuda a enxergar que, apesar das diferenças aparentes entre técnicas como K-Means, CLIP ou t-SNE, muitas delas compartilham fundamentos matemáticos semelhantes — a conexão entre os dados.
Ao reorganizar essa estrutura, cientistas conseguem recriar, combinar ou até propor novos algoritmos mais eficientes e éticos.
Tabela propõe novas combinações e desempenho superior
Ao posicionar algoritmos como se fossem elementos químicos, a I-Con oferece insights práticos. Com ela, cientistas conseguem identificar lacunas, sobreposições e potenciais inovações.
Um dos resultados mais concretos foi o desenvolvimento de um novo classificador não supervisionado, com desempenho 8% superior às abordagens anteriores.
Assim, a ferramenta expande a compreensão teórica da IA e pode orientar a construção de algoritmos mais eficientes e éticos.

Estamos deixando para trás o improviso e entrando numa era em que o machine learning pode ser previsto, testado e estruturado como uma ciência formal
Shaden Alshammari, principal autora da pesquisa.
Redução de vieses e adaptação entre domínios
Além da organização conceitual, a I-Con permite aplicar estratégias para mitigar vieses em modelos contrastivos, um problema recorrente na IA.
A estrutura também mostra como transferir técnicas entre domínios distintos — como adaptar um método supervisionado para tarefas não supervisionadas — com base em suas semelhanças internas.
Esse tipo de técnica híbrida pode acelerar pesquisas em áreas como linguagem natural, visão computacional e aprendizado auto-supervisionado.
Lista completa de algoritmos classificados na tabela:
🔵 Dimensionality Reduction (Redução de Dimensionalidade)
- SNE [Hinton 2002]
- PCA [Pearson 1901]
- t-SNE [Van der Maaten 2008]
- t-SNE with Uniform Affinities
- SNE with Uniform Affinities
- SNE Graph Embeddings
- t-SNE Graph Embedding
🟠 Cluster Learning (Aprendizado por Agrupamento)
- K-Means [Macqueen 1967]
- t-K Means
- Normalized Cuts [Shi 2000]
- DCD [Yang 2012]
- InfoNCE Clustering [Ours]
- Supervised Clustering
🟥 Unimodal SSL (Aprendizado Auto-supervisionado Unimodal)
- InfoNCE [Bachman 2019]
- SimCLR [Chen 2020]
- MoCoV3 [Chen 2021]
- VI-Reg [Bardes 2021]
- Triplet Loss [Schultz 2004]
- X-Sample CL [Sobal 2025]
- LGSimCLR [El Banani 2023]
🟪 Multimodal SSL (Aprendizado Auto-supervisionado Multimodal)
- CLIP [Radford 2021]
- CMC [Tian 2020]
- Average Margin CLIP
- Triplet CLIP
- t-SimCNE [Böhm 2023]
- t-SimCLR [Hu 2023]
- t-CLIP
🟩 Supervised Learning (Aprendizado Supervisionado)
- SupCon [Khosla 2020]
- Cross Entropy [Good 1963]
- Average Margin SupCon
- Triplet SupCon
- t-SupCon
⬛ Interpretation of Gaps (Interpretação de Lacunas / Métricas)
- Dual t-SNE
- Doubly t-SNE
- Error Rate
- Harmonic Loss [Baek 2025]
Metáfora do baile: como os algoritmos “se agrupam”
Para ilustrar o funcionamento da I-Con, a Microsoft usou uma analogia simples: imagine um baile, onde você conhece poucas pessoas. Ao observar interações e comportamentos semelhantes, você escolhe com quem se sentar. Esse é o mesmo comportamento que os algoritmos contrastivos utilizam para agrupar dados.
A tabela periódica da IA é exatamente isso: algoritmos que aprendem relações com base em afinidade, mas agora descritos matematicamente como variações de um mesmo modelo lógico.
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Impacto prático e futuro da estrutura
A publicação da I-Coné um avanço cujas consequências representam mais do que um framework visual. Ela veio para se estabelecre como um instrumento de engenharia e investigação para pesquisadores, startups e grandes empresas que desejam explorar caminhos mais previsíveis e combinatórios na construção de sistemas inteligentes.
Ao oferecer uma estrutura sólida e adaptável, a tabela periódica da IA pode se tornar um pilar no avanço de modelos mais robustos, interpretáveis e justos.
Fonte: Open Review

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