Falece Geraldo de Andrade, veterano da construção de Itaipu, aos 81 anos

Falece Geraldo de Andrade, veterano da construção de Itaipu, aos 81 anos

O operário aposentado Geraldo de Andrade carregou na memória o dia 17 de junho de 1977, inverno na ainda pequena Foz do Iguaçu. Foi quando chegou para trabalhar em uma das maiores obras de engenharia do mundo e nunca deixou a cidade. Nessa terça-feira, 29, seu Geraldo, o “Feijão”, faleceu aos 81 anos, por complicações de saúde.

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Deixa a companheira de uma vida, Juraci Ferreira de Andrade, e os filhos Gislaine, psicóloga; Márcia, bancária e arte-educadora; Patrícia, agente de viagens; e João, artista circense e arte-educador. E os netos Diego, Maria Fernanda e João Arthur. O velório será nesta quarta-feira, 30, no Cemitério do Jardim São Paulo, às 11h. O sepultamento ocorrerá em Ipaussu (SP).

Juraci e Geraldo de Andrade com os filhos Gislaine, Marcia, Patrícia e João – foto: arquivo familiar

Em quase meio século de vida em Foz do Iguaçu, grande parte foi dedicada à Itaipu Binacional, de 1977 até perto do fim da obra. Primeiro, na construção da usina, operando guindastes de grande porte, serviço especialíssimo na época. Depois, no programa de turismo para ex-barrageiros, do então Parque Tecnológico Itaipu (PTI), compartilhando reminiscências com visitantes, sem remuneração.

Nos 50 anos da Itaipu, em 2024, Geraldo de Andrade foi entrevistado no programa Marco Zero, produção do H2FOZ e Rádio Clube FM 100,9, em que expôs o olhar, pelo viés dos trabalhadores, da grandiosidade da obra de concreto e aço. E reportou as dificuldades e transformações ocorridas em Foz do Iguaçu que viu e viveu.

Foz, outros tempos

Ao desembarcar em Foz do Iguaçu, trazia a experiência de ter ajudado a erguer a hidrelétrica de Ilha Solteira, uma das grandes do país em capacidade, entre os estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul. Já aqui na fronteira, trabalhou para firmas dos consórcios de construtoras Unicon e Conempa, brasileira e paraguaia.

Juraci e Geraldo, companheiros de uma vida – foto: aquivo familiar

Ingressou no canteiro de obras da Itaipu com as atividades ainda no início, ajudando a montar os trilhos do cabeamento aéreo para guindastes, contou. Morou no centro e na Vila A, um dos conjuntos destinados aos profissionais da usina. Em seguida, comprou uma casa no Cohapar II, na região do Conjunto Libra e Campos do Iguaçu. Eram outros tempos em Foz do Iguaçu.

“Era só terra para chegar. Eu tinha um Fusca verde. Quando chovia, ao passar o Estádio do ABC, o bichinho rodava, patinava, patinava e não ia”, rememorou, retratando como era a infraestrutura da Avenida República Argentina naquele tempo. Hoje, a via é uma das principais ligações entre a parte central da cidade e a área leste.

Confraternização de fim de ano da família do seo Geraldo – foto: arquivo familiar

“O Fusca não subia. Tinha que retornar, contornar a Vila Yolanda para chegar em casa”, narrou Geraldo de Andrade, com humor, ao resgatar os perrengues em uma cidade que experimentava uma expansão sem o devido planejamento.

Nos primeiros dois anos na Itaipu, a labuta era intensa, quase não tinha folga. “Eu trabalhava nos domingos e, durante a semana, fazia 24 horas de jornada. Não dava tempo para nada”, lembrou o barrageiro. Depois desse período, o serviço amainou, permitindo, por exemplo, passeios às Cataratas do Iguaçu, a principal – quase a única – diversão daquele tempo, revelou.

A cidade, no fim dos anos 1970, era pequena, puxou seu Geraldo na memória. Tinha o cinema, listou como uma referência. No centro, porém, o “mais arrumadinho” era a antiga rodoviária, na opinião do veterano das grandes obras. As limitações nas regiões fora do centro eram ainda maiores, inclusive de acesso a escolas e a outros serviços.

Pedras de Itaipu

Quanto ao dia a dia na usina, Geraldo Andrade detalhou um pouco da rotina de milhares de trabalhadores que, assim como ele, aventuraram-se em um período de sacrifício individual e esforço coletivo. Sobre acidentes de trabalho, viu apenas um, quando o colega desabou por 17 metros por uma ponte rolante. “Foi só esse caso. A gente via mais a ambulância sair para o hospital.”

Geraldo de Andrade guia a visita da filha, genro e netos na Itaipu Binacional – foto: arquivo familiar

Seu Geraldo, experimentado na labuta humana capaz de modificar realidades, reservou espaço em seu testemunho para um aspecto lúdico da história da Itaipu. Citou a significação do nome da obra, escolhido a partir das pedras que compunham a paisagem que deu espaço à barragem imensa, em tupi-guarani: “pedra que canta”.

Ao colocar-se diante do feito de milhares de trabalhadores, que moldou a sua própria trajetória, fez questão de demonstrar gratidão. “Tenho de agradecer muita coisa. Valeu a pena. Dediquei muitos anos da minha vida para trabalhar na obra de Itaipu. Por sinal, trabalho até agora”, concluiu, sorrindo, com o crachá à mão da função de barrageiro e contador da história da binacional, de Foz do Iguaçu e da fronteira.

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