O mercado de delivery de refeições e alimentos no Brasil tende a ficar mais competitivo. A Didi, controladora da 99, anunciou o retorno ao Brasil do serviço de entregas da plataforma, a 99Food, e que investirá R$ 1 bilhão no Brasil. Rumores dão conta também de que a gigante chinesa Meituan estuda entrar no mercado brasileiro.
Atualmente, o iFood detém cerca de 80% do mercado de entregas de comidas no Brasil. A empresa, recentemente, comemorou o número de 100 milhões de entregas por mês, mas não abre os números totais de entrega.
Na terça-feira, 29, o iFood anunciou um reajuste de até 15% no valor mínimo pago aos entregadores. O aumento veio em um momento em que entregadores fazem uma série de protestos por melhores condições de trabalho nos apps de entrega.
Já a 99Food abriu oficialmente nesta terça-feira o cadastro para restaurantes de todo o Brasil que queiram integrar a plataforma, e com um diferencial que pode dar uma ideia da disposição para o ’embate’ com a concorrente: não cobrará nem taxas, nem comissões dos estabelecimentos.
Preços vão cair?
Os aplicativos de entrega funcionam em um modelo onde eles faturam com os restaurantes que desejam fazer parte do portifólio e também com uma parte da taxa de entrega que é paga para os entregadores.
Com isso, a expectativa é que a entrada de dois concorrentes baixem os preços para o consumidor final e, ao mesmo tempo, aumente o repasse para restaurantes e entregadores, já que um aplicativo novo vai precisar ser mais atrativo para pegar uma parte desse mercado.
“Com a entrada de novos concorrentes, a expectativa é que os preços sejam pressionados para baixo. O iFood terá que se desdobrar para defender sua fatia de mercado, enquanto os novos entrantes tentarão ganhar espaço por meio de isenções e taxas melhores, além de descontos”, acredita Victor Abreu, CEO da ATW, empresa especializada em Dark Kitchens.
A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) também anunciou que vê com otimismo o retorno da 99Food ao mercado para aumentar a concorrência e diminuir a concentração de mercado no setor.
“O mercado precisa de mais diversidade e de condições mais justas. É essencial remover barreiras que impedem a concorrência plena, criando um ambiente saudável para os negócios e benéfico para toda a sociedade”, afirma Paulo Solmucci, presidente executivo da Abrasel.
Por outro lado, o desafio de crescer nesse mercado é grande. O próprio 99Food e o Uber Eats já descontinuaram serviços no Brasil por não conseguirem penetração de mercado o suficiente.
De acordo com Leandro Guissoni, professor da FGV e da Universidade de Virgínia e cofundador da Decoupling, a chegada de novos players não significa, necessariamente, diversificação duradoura, já que a Prosus, controladora do iFood, também detém 4% da Meituan.
“O mercado de delivery tende à concentração. O iFood virou dominante porque o consumidor não quer ficar entrando em vários apps diferentes para acessar restaurantes distintos. Se a 99 Food ou a Meituan não entregarem máxima conveniência e escala, terão pouca chance de competir”, afirmou.

A Meituan em números
- Somente no terceiro trimestre de 2024, a Meituan registrou 7,1 bilhões de pedidos, o equivalente a 77 milhões de pedidos por dia. Recentemente o iFood comemorou o número de 100 milhões de entregas por mês;
- Aplicativo tem 200 milhões de usuários somente na China e mantém 70% do market share no país;
- O lucro da companhia no terceiro trimestre de 2024 foi de US$ 1,7 bilhão, alta de 124% sobre 2023;
- A receita total da companhia é de US$ 46 bilhões, isso significa um valor 12 vezes maior que o iFood.
Meituan e 99 podem inaugurar guerra de superapps no Brasil
Além de atuar com entrega de comida, a Meituan também atua na China como um agregador de diversos serviços, como reservas de hotel, compra de passagem aérea, locação de bicicleta, venda de ingressos para cinema e muitos outros. O nome desse conceito, de um aplicativo atuar em várias áreas do mercado, é “superapp”. No anúncio, o head Global da DiDi’s International Business Group, controladora da 99, Stephen Zhu, disse que o investimento bilionário visa agregar todos os serviços do 99 em um aplicativo só.
“Este investimento reflete nosso compromisso de longo prazo com o Brasil. Isso é mais do que entrega de comida, trata-se de moldar o futuro da conveniência do país”, disse.
Guissoni, no entanto, é cético quanto a transformação da 99 em um super app e lembrou de algumas outras tentativas frustradas de outras companhias a entrar nesse mercado.
“Apesar de várias empresas já terem anunciado esse objetivo, o contexto brasileiro é bem diferente do chinês, onde os super apps prosperaram. A história recente mostra que mesmo com investimentos robustos e posições favoráveis, esse modelo não se concretiza facilmente. O Magazine Luiza, por exemplo, tentou desenvolver um ecossistema digital completo com várias aquisições e chegou a anunciar sua ambição de ser um super app — estratégia que acabou sendo revista. A Rappi, em 2020, também se posicionou como o futuro super app da América Latina, integrando funcionalidades como live shopping, streaming e games. Mas, na prática, o conceito nunca se consolidou”, encerrou.
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