Após pouco mais de 40 dias, o inquérito policial que investigou o tiroteio durante o carnaval em Rio Pomba, município a cerca de 70 quilômetros de Juiz de Fora, em que Luciane dos Santos Marques, de 25 anos, morreu e outros 15 ficaram feridos, foi concluído. Ao todo, foram oferecidas denúncias contra sete suspeitos. Seis deles estão presos preventivamente, enquanto um segue foragido. O trabalho foi realizado de forma conjunta pelo Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), pela Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) e pela Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG).
O crime aconteceu no último dia 3 de março. Na ocasião, dois investigados foram presos em flagrante e a arma do crime, uma pistola Glock calibre 9mm, foi apreendida. Dois dias depois, durante operação de combate ao tráfico de drogas em Ubá, outros quatro suspeitos foram presos dentro de residência “utilizada para fins criminosos”, conforme Breno Coelho, promotor e coordenador do Gaeco da Zona da Mata. Ele ainda detalha que havia “quantidade substancial de maconha, duas armas de fogo, munição e material destinado à preparação de lança-perfume”.
“A partir disso, fizemos um elo com as informações pretéritas que tínhamos, de que esses novos presos rivalizavam com os dois homens presos em Rio Pomba na data do crime. Eles estavam vendendo lança-perfume na festividade.” Conforme o promotor e coordenador do Gaeco, com o material apreendido na operação em Ubá, sobretudo os dispositivos eletrônicos, Breno conta que ficou claro que os presos conversavam entre eles a respeito do evento.
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Sem arrependimento
“Um dos envolvidos estava ferido. Outro comparsa orienta a não procurar o hospital, pois poderiam levantar suspeita a respeito da identidade, já que, até então, nas palavras deles, estavam passando em branco e teriam conseguido fugir ‘com muito custo’, devido à grande mobilização de policiais. Além disso, por meio das mensagens, conseguimos descobrir quem estava presente ou não durante o acontecimento de Rio Pomba.” Ele completa destacando que, em nenhum momento, há manifestação de arrependimento ou preocupação com as vítimas, apenas considerações negativas em relação aos rivais, o que trouxe a certeza de não se tratava de crime passional, mas, sim, praticado por vingança oriunda de uma rivalidade pela expansão do tráfico de drogas.
Dois grupos dividem os sete denunciados: cinco fazem parte de um oriundo do Bairro Cristo Redentor (os quatro presos em operação em Ubá e o homem que continua foragido, tratado como líder da facção) e os outros dois, presos na data do crime em Rio Pomba, que atuam no Bairro Talma. As facções são rivais no contexto do tráfico de drogas. No momento do tiroteio, os dois investigados do segundo grupo estavam presentes (e foram presos em flagrante), enquanto do primeiro grupo, a princípio, apenas três se encontravam no local.
Foram imputados, na acusação, 19 crimes de homicídio tentado triplamente qualificado, um homicídio consumado triplamente qualificado, associação para o tráfico de drogas, tráfico de drogas majorado, porte de arma de fogo de uso restrito – em relação ao grupo apreendido na primeira ocasião -, posse irregular de arma de fogo de uso permitido – no grupo apreendido posteriormente -, tráfico de droga, associação criminosa e, aproximadamente, 15 delitos contra a vida.
O somatório das penas possui especificidades por investigado, mas alça o patamar de mais de cem anos de prisão. Também foi pedida a fixação de dano moral coletivo de R$ 1 milhão por denunciado, a ser revertido para as vítimas, familiares e Fundo Penitenciário de Minas Gerais. Ainda foi pedida a transferência de todos para um presídio de segurança máxima do Estado de Minas Gerais, para tirá-los da Zona da Mata. A requisição já foi atendida pela Justiça, e a juíza deu cinco dias para manifestação da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais (Sejusp-MG) para efetivar a transferência.
Arma do crime
Em relação à arma, a qual um laudo já havia apontado como a utilizada no crime, a Polícia Civil também apreendeu diversas cápsulas, de calibre 9mm, além de um único projétil de um calibre diferente. A confirmação na investigação foi obtida após trabalho de micro comparação balística, que indicou que os estojos encontrados na cena do crime foram propelidos pela arma encontrada com um dos suspeitos presos na data. A munição diferente comprova a presença de outra arma no evento, mas pela perda de massa do projétil, não há como precisar o calibre, como destaca o delegado da PCMG de Ubá, Douglas Motta.
“Um fato que também chamou atenção, na questão qualificadora do perigo comum, é que a vítima fatal, de acordo com os autos penais, foi alvejada diretamente de forma atípica: ela estava em estado de proteção. Tudo indica que estava agachada e com as mãos na nuca, se protegendo dos disparos. O projétil a atingiu pelas costas, de baixo para cima, e saiu na região do pescoço, atingindo de raspão o dedão. Isso mostra o terror causado pela situação.”
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