
A recente criação da chamada Faixa 4 do programa Minha Casa Minha Vida, voltada a famílias com renda mensal entre R$ 8 mil e R$ 12 mil, reacendeu o debate sobre o acesso à moradia para a classe média brasileira.
Enquanto o setor imobiliário vê com otimismo o potencial de estímulo às vendas e à construção de imóveis de médio padrão, especialistas jurídicos apontam riscos de frustração e judicialização caso as condições do programa não sejam claramente compreendidas.
Classe média mais próxima da casa própria, dizem empresários
Para Alexandre Despontin, CEO da Mérito, a nova faixa representa uma oportunidade concreta de retomada do poder de compra da classe média, que vinha sendo comprimida pelo patamar elevado dos juros nos últimos anos.
“Essa parcela da população estava cada vez mais distante do sonho da casa própria. Com a criação dessa nova faixa, esperamos observar um incremento nas vendas de imóveis com valor de até R$ 500 mil e um impacto muito positivo no setor imobiliário”, afirma.
Despontin avalia que, embora a nova faixa não vá necessariamente mudar o foco das incorporadoras que atuam nas faixas 1 a 3 do programa, ela deve funcionar como um complemento estratégico.
“A inclusão desse novo patamar de renda contribuirá para reforçar a atuação das empresas que já têm foco no médio padrão e diversificar o portfólio das que atendem os segmentos mais populares”, completa.
Um dos principais atrativos da nova faixa é a taxa de financiamento reduzida, estimada em torno de 10% ao ano — abaixo da média de mercado para a classe média, que gira em torno de 11,5%.
Segundo o CEO, isso deve atrair um público significativo. “Muitas famílias terão interesse em adquirir seus imóveis com essas novas condições.”
Falta de subsídios pode gerar frustração e conflitos, alerta jurista
Por outro lado, o advogado Stéfano Ribeiro Ferri, especialista em Direito Imobiliário e membro da Comissão de Direito Civil da OAB/Campinas, chama atenção para os desafios jurídicos que podem surgir com a implementação da nova faixa.
“Como essa faixa não oferece os mesmos benefícios das anteriores, há risco de frustração por parte dos consumidores, que podem acreditar que terão subsídios semelhantes”, afirma.
Ferri destaca que o diferencial da Faixa 4 está mais nas condições facilitadas de financiamento do que em incentivos diretos como subsídios ou descontos.
Essa discrepância de expectativa pode, segundo ele, gerar questionamentos e até disputas judiciais, sobretudo se os contratos não forem bem explicados.
“O risco de judicialização está no radar. Interpretações diferentes das novas regras, dúvidas sobre elegibilidade e alterações nas diretrizes do programa podem gerar insegurança jurídica”, alerta.
Para minimizar esses riscos, o especialista recomenda que consumidores busquem orientação especializada, façam uma análise cuidadosa do contrato e verifiquem a regularidade do imóvel antes de fechar negócio.
Interiorização e novos mercados
Além do impacto direto no público comprador, as mudanças no programa também podem afetar as estratégias do setor de construção.
“O incentivo à construção no interior e o foco na classe média podem levar incorporadoras a diversificar seus projetos e buscar novos mercados em cidades médias e regiões metropolitanas”, observa Ferri.
A Faixa 4 do Minha Casa Minha Vida representa, portanto, uma oportunidade e um desafio: pode abrir as portas da casa própria para uma parcela relevante da população, mas exige clareza na comunicação e responsabilidade na contratação.
“Desde que bem orientado, o consumidor pode se beneficiar do programa. Mas é fundamental que ele saiba exatamente o que está contratando”, conclui Ferri.
Gostaria que eu complementasse a matéria com dados sobre o impacto potencial no mercado de crédito imobiliário ou comparativos com as demais faixas do MCMV?
O post Nova Faixa do MCMV: avanço ao setor ou risco de frustração? apareceu primeiro em BPMoney.