
Com a proximidade do Dia do Trabalho, na quinta-feira, o país teve registro recorde de empregos com carteira assinada: 431,9 mil somente em fevereiro. O saldo trouxe percepções positivas para o governo no início de 2025 e celebrou o sucesso das políticas do governo Lula.
Contudo, dados do Ministério do trabalho revelam que 60% dos empregos gerados em Abril foram absorvidos pelo programa de assistência do governo, o CAD único. O professor de Gestão do UniArnaldo, Eduardo Bonfim, mostra que é necessário olhar os dados com cuidado.
“É um dado a ser comemorado de alguma forma, porém deve ser entendido. Quando você percebe a preferência da pessoa em sair de programas assistencialistas e partir para empregos formais com carteira assinada, indica uma certa melhora assim.”, afirma o especialista.
Confira a entrevista na íntegra:
O que o aumento da participação de indivíduos do CadÚnico no mercado de trabalho revela sobre a evolução da pobreza e da vulnerabilidade social no Brasil nos últimos anos?
Quando você tem uma massa de pessoas entrando no mercado de trabalho via CLT, que rege e coordena todas as regras de ser empregado e ter acesso a programas sociais básicos, a gente vê que é uma oxigenação interessante.
A população está envelhecendo, tem mais pessoas se aposentando do que propriamente contribuindo e o programa Bolsa Família, ele retirou parte dessas pessoas dessa contribuição.
Quando a gente recebe uma notícia que uma massa interessante de pessoas está procurando emprego e conseguindo, é um fato bom a ser verificado. Porém, é necessário ver alguns ajustes de qualidade dessa informação.
Quais fatores econômicos e políticos contribuíram para que pessoas registradas no CadÚnico se tornassem a maioria entre os novos empregados no Brasil?
Temos que destacar que há uma estrutura de empregos muito qualificados em um em um espectro e em outro extremo temos empregos menos qualificados sendo ofertados também. O CAD vai ao encontro exatamente desse segundo contingente, pessoas com baixa qualificação que assumem postos de trabalho que requerem escolaridade mínima.
Por que as pessoas do CAD foram maioria? Primeiro, a base econômica no Brasil é bem achatada, são muitas pessoas com baixa remuneração no Brasil. Haja vista a determinação que classe média seria pessoas com renda familiar acima de 3.500.
Isso é alarmante de um ponto de vista de paridade com dólar, poder aquisitivo e capacidade econômica das famílias. Logo, a gente entende que essas pessoas com essa baixa qualificação, dependente de programas de assistencialismo, são os primeiros alvos para empregos com baixa qualificação.
Esse fenômeno indica uma melhora na mobilidade social ou apenas uma precarização do mercado de trabalho formal?
É um dado a ser comemorado de alguma forma, porém deve ser entendido. Quando você percebe a preferência da pessoa em sair de programas assistencialistas e partir para empregos formais com carteira assinada, indica uma certa melhora assim.
Do ponto de vista econômico, você percebe que os estados brasileiros que comandam esse tipo de evolução na no mercado de trabalho, são estados que têm superávit de empregos como Minas, São Paulo e Paraná. Coincidentemente, são estados que possuem política contrária ao governo federal.
Então, outros estados alinhados, né, politicamente com Brasília, você percebe que tem uma baixa adesão desses empregos ou regimes deficitários, ou seja, as pessoas estão ficando cada vez mais “demitidas” nesses estados.
A mobilidade da “saída” das pessoas do CAD no mercado de trabalho indica realmente um uma melhora, né, em alguns indicadores microeconômicos de renda, consumo e gastos.
Isso ajuda muito a qualquer tipo de esforço econômico principalmente da união para uma melhoria geral do país. Nós temos notícias alarmantes sobre a previdência social do país e com a entrada de novos contribuintes, com certeza isso pode ser minimizado.
De que forma o crescimento da empregabilidade entre beneficiários do CadÚnico impacta a dinâmica de consumo e a demanda interna da economia brasileira?
O Brasil parece que entrou numa linha desde o governo Fernando Henrique Cardoso, de assistencialismo e parece que isso tem sido a tônica, de eleições, propostas e campanhas, isso é muito perigoso.
A gente precisa pensar para essa segunda metade de século sobre como poderia ser o governo federal, o principal agente capitalista dentro de um sistema, retirando pessoas da sua necessidade de crescimento pessoal e profissional.
O Bolsa Família propriamente que deve ser uma das poucas políticas do mundo, senão a única que incentiva a natalidade. O valor que você recebe por família por um filho é exatamente o mesmo valor que recebe pelo segundo filho e assim por diante. Então você vê o Brasil na contramão de políticas de controle populacional no mundo.
Esse dado pode ser interpretado como sinal de inclusão produtiva ou como reflexo de um mercado que depende da mão de obra mais vulnerável para manter a atividade econômica?
É um dado que deve ser olhado de perto, porque pela metodologia do CAGED, a gente tem algumas questões de rotatividade que não são consideradas.
Pode ser que algumas pessoas com mais tempo de serviço fossem demitidas para que outras pessoas inexperientes fossem admitidas. O que justifica até a percepção de queda do poder aquisitivo das famílias em detrimento da renda.
A gente percebe que talvez os empregos gerados agora são empregos em maior quantidade, mas em menor remuneração do que os que já estavam aqui. Pelo cálculo dele, você tem que subtrair os demitidos para você ter esse superávit registrado pelo programa.
Quais são os possíveis desdobramentos, no longo prazo, para a economia brasileira se esse padrão de geração de emprego se mantiver?
Seria interessante para o Brasil manter consistentemente não só esse tipo de entrada no mercado de trabalho. É necessário a percepção que uma pessoa que entra numa organização ou em um emprego mais operacional, ela pode ter uma ascensão social dentro dessa empresa, galgando cargos, sendo promovida, aprendendo mais com o tempo de serviço.
E seria muito importante que futuramente, já pensando em longo prazo, a gente percebesse que, se possível uma diminuição de programas sociais.
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