
Hamdan Ballal, um dos diretores do aclamado documentário ‘Sem Chão‘, revelou detalhes sobre o sequestro e a tortura que sofreu nas mãos do Exército Israelense.
Em artigo feito para o jornal The New York Times, o cineasta lamentou os abusos sofridos. Em um dos trechos, ele explicou como funcionou o linchamento:
“É difícil para mim escrever sobre esse momento. Depois de ser espancado, fui algemado, vendado e jogado em um jipe do exército. Por horas, fiquei deitado com os olhos vendados no chão, no que mais tarde descobri ser uma base do exército, temendo ser mantido preso por muito tempo e espancado repetidamente. Fui libertado um dia depois”.
Em outro trecho de seu desabafo público, Ballal ponderou sobre sua vitória no Oscar, afirmando que a conquista não melhorou a qualidade de vida do seu povo:
“Minha vida ainda está à mercê dos colonos e da ocupação. Minha comunidade ainda sofre com a violência sem fim. Nosso filme ganhou um Oscar, mas nossas vidas não são melhores do que antes”.
Entenda o caso
Hamdan Ballal, cineasta palestino e codiretor do documentário ‘Sem Chão‘, vencedor do Oscar de Melhor Documentário em 2025, foi agredido por colonos israelenses e detido por soldados em sua vila natal, Susya, na Cisjordânia ocupada, poucos dias após a premiação.
Segundo relatos de Ballal ao jornal The Guardian, o ataque ocorreu em 24 de março, quando colonos invadiram sua comunidade durante o período do Ramadã. Ele afirmou que foi espancado por um colono enquanto dois soldados israelenses o cercavam; um dos soldados também o agrediu com a coronha de seu rifle e disparou para o alto, ameaçando atirar nele. Ballal descreveu o episódio como “o pior momento da minha vida” e sugeriu que a agressão foi uma retaliação pelo conteúdo do documentário, que denuncia a violência e o deslocamento de palestinos em Masafer Yatta.
Após o ataque, Ballal foi levado por soldados israelenses e permaneceu detido por uma noite, algemado e vendado, em uma base militar, onde, segundo sua advogada Leah Tsemel, continuou a ser agredido . Ele foi liberado no dia seguinte, após pressão internacional e denúncias feitas por seu codiretor, Yuval Abraham, que compartilhou imagens da agressão nas redes sociais.
A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas enfrentou críticas por sua resposta inicial ao incidente, considerada vaga e omissa. Após manifestações de mais de 600 membros, incluindo artistas como Olivia Colman e Joaquin Phoenix, a instituição emitiu um pedido formal de desculpas, condenando a violência e reafirmando o compromisso com a liberdade de expressão artística.
Em artigo publicado no The New York Times, Ballal expressou preocupação contínua com a segurança de sua comunidade e destacou que, apesar da visibilidade internacional proporcionada pelo Oscar, os moradores de Susya continuam vulneráveis a ataques e deslocamentos forçados.
O governo israelense descreveu o incidente como um “confronto violento” e afirmou que soldados intervieram após relatos de arremesso de pedras por palestinos. No entanto, Ballal nega ter agido de tal maneira.
‘Sem Chão‘ continua a receber reconhecimento internacional por sua abordagem crítica e sensível sobre a situação em Masafer Yatta, destacando as tensões e desafios enfrentados por palestinos sob ocupação militar.