Dólar cai 1,30% com commodities e apetite externo ao risco

O dólar apresentou queda firme na sessão desta terça-feira, 22, a primeira após o feriado prolongado de Páscoa e Tiradentes, e fechou abaixo do nível de R$ 5,75. O dia foi marcado por enfraquecimento da moeda americana em relação a divisas emergentes, impulsionadas pela valorização de commodities, em especial do petróleo, e pelo apetite ao risco no exterior.

O real pode ter absorvido hoje parte do tombo da moeda americana no exterior ontem, quando investidores fugiram de ativos dos EUA em razão da instabilidade provocada pelos ataques de Donald Trump ao presidente do Federal Reserve, Jerome Powell. A moeda brasileira teve hoje o segundo melhor desempenho entre a divisas mais líquidas, atrás apenas do peso chileno.

Ontem, o índice DXY – termômetro do comportamento da moeda americana em relação a uma cesta de seis divisas fortes – caiu ao menor nível desde 30 de março de 2022. O Dollar Index subia cerca de 0,70% no fim da tarde de hoje, acima dos 98,900 pontos.

Mesmo sem sinais de trégua por parte de Trump, houve melhora do apetite ao risco, com uma recuperação das bolsas em Nova York, que exibiram ganhos de mais de 2%. Tradicional refúgio ao risco, o ouro, que renovou recorde histórico ontem, hoje recuou. À tarde, o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, afirmou que o impasse tarifário com a China era insustentável e que espera um arrefecimento das tensões, segundo a Bloomberg.

Com mínima a R$ 5,7184 à tarde, o dólar à vista encerrou o pregão em queda de 1,30%, a R$ 5,7284 – menor valor de fechamento desde 3 de abril (R$ 5,6281), sessão seguinte ao anúncio do tarifaço pelos EUA, chamado por Trump de “Dia da Libertação”. Apesar do tombo de hoje, o dólar ainda apresenta leve alta no mês (0,40%).

O economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, afirma que, apesar do enfraquecimento da moeda americana ontem, o real poderia ter sofrido, caso o mercado local estivesse aberto, com o aumento da aversão ao risco diante do acirramento das críticas de Trump a Powell.

Enquanto o presidente do Fed alerta que o tarifaço aumenta a incerteza e pode pressionar a inflação, o que sugere uma postura mais cautelosa na gestão da política monetária, Trump exige corte de juros, acusa Powell de ter viés político e o ameaça com demissão, apesar da independência legal do Fed.

“Ontem, vimos uma busca maior por proteção. Investidores abandonaram o dólar e compraram ouro com essa tensão entre Trump e o Fed. Hoje, os mercados mostram uma certa recuperação do apetite ao risco, o que é bom para divisas emergentes”, afirma Velloni, ressaltando que o Brasil pode se beneficiar de aumento de exportação de commodities agrícolas, como soja e milho, para a China diante do tarifaço de Trump. “Vemos agora um cenário em que as economias e moedas emergentes podem ser puxadas pela China”.

O presidente do Fed de Minneapolis, Neel Kashkari, disse hoje que Powell faz um “ótimo trabalho” e que as decisões do BC americano são técnicas. Kashkari afirmou que é cedo para julgar qual será a trajetória da política monetária, mas ressaltou a importância de manter as expectativas de inflação ancoradas.

À tarde, a secretária de Comunicação da Casa Branca, Karoline Leavitt, afirmou que Trump deixou “clara sua posição sobre o Fed e Powell”, de que “é preciso cortar os juros”, e que o presidente dos EUA deseja que o dólar permaneça como a moeda de reserva mundial.

Por aqui, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, reiterou pela manhã, em audiência no Senado, o desconforto com a inflação elevada e a necessidade e de manutenção de política monetária restritiva. Galípolo lembrou que o processo de elevação da Selic no fim de 2024 tornou menos atrativo apostar contra o real, mas reiterou que o regime de câmbio é flutuante e que o BC tem meta de inflação.

Apesar de a taxa de câmbio estar abaixo de R$ 5,80, o Citi mantém a previsão de dólar ao redor de R$ 6,00 no fim deste ano. O banco observa que o ambiente externo se tornou mais adverso e incerto após o tarifaço de Trump, com o dólar oscilando entre R$ 6,10 e R$ 5,60 ao longo de abril.

Segundo o banco, os fatores determinantes para a formação da taxa de câmbio se movem em direções divergentes, com aversão ao risco maior, como mostra o índice VIX, preços de commodities razoavelmente estáveis e um enfraquecimento global do dólar, que leva a uma queda do índice DXY em 2025.

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