Onde e como o papa Francisco será enterrado

Francisco manifestou desejo de ser sepultado de forma mais simples do que seus antecessores. Seu último descanso não será na Basílica de São Pedro, mas na Basílica de Santa Maria MaggioreO funeral do papa Francisco,que morreu na segunda-feira de Páscoa, aos 88 anos, será no Vaticano neste sábado às 10h no horário local (5h no horário de Brasília), informou o Vaticano nesta terça-feira (22/04). A data, que respeita o prazo tradicional para tais cerimîonias, foi anunciada nesta terça-feira após uma reunião de cardeais. Ela parece, no entanto, ser uma das poucas tradições que serão mantidas no enterro de Francisco.

Notório por romper com os rituais seguidos por seus antecessores, Francisco manteve seu estilo atípico até mesmo em seu último testamento: desde março de 2023, já era sabido que o chefe da Igreja Católica queria ser enterrado de forma e em local diferentes: não na Basílica de São Pedro, como de praxe, e sem cerimônia alguma que possa parecer de alguma forma majestosa.

“Quando chegar a hora, não serei enterrado na Basílica de São Pedro, mas em Santa Maria Maggiore”, escreveu Francisco em sua autobiografia Esperança, publicada em janeiro de 2025. O Vaticano , conforme suas palavras, pode ser seu “último local de trabalho na Terra”, mas não será sua residência na eternidade.

Francisco fez ainda questão de descrever em detalhes que será levado à Basílica de Santa Maria Maggiore, onde deverá ser enterrado “muito perto da Regina della Pace”, a estátua da Virgem Maria a quem sempre recorreu em busca de ajuda durante seu pontificado e que “o abraçou mais de cem vezes”. “Foi-me confirmado que tudo está pronto”, afirmou. Mesmo depois de seus 38 dias na clínica Agostino Gemelli, durante os quais pessoas do mundo inteiro rezaram pela vida do gravemente enfermo Francisco, seu caminho de volta ao Vaticano sofreu um desvio de rota: ele queria orar em frente à igreja nem que fosse de dentro de seu carro.

Enterro na igreja favorita do papa Francisco

Foi assim que Francisco se despediu em vida de sua igreja romana favorita: Santa Maria Maggiore, situada a cerca de quatro quilômetros da Basílica de São Pedro, do outro lado do rio Tibre – não muito longe da principal estação ferroviária e do centro da capital italiana. Consagrada há quase 1.600 anos, a igreja está em posse extraterritorial da Santa Sé, o Vaticano. Quase todos os visitantes de Roma conhecem este marco, que impressiona pela sua decoração em mosaico, datada quase inteiramente do século 5. Antes de Francisco, sete papas dos séculos 12 a 16 encontraram seu lugar de descanso final nesta igreja.

Com a decisão de Francisco, ele se tornará o primeiro papa em quase 150 anos a não ser enterrado na Basílica de São Pedro. O último foi Pio 9º (1846-1878), que embora tenha sido inicialmente enterrado na Basílica de São Pedro, acabou sendo transferido três anos depois para a Basílica Romana de San Lorenzo fuori le Mura (São Lourenço Fora dos Muros), conforme desejava.

Humildade na vida e na morte

Também em sua autobiografia, Francisco se distanciou dos rituais cerimoniais fúnebres do Vaticano, que ele apontava como “extremamente pomposos”. Para si mesmo, preferiu optar por algo mais simples: nada de catafalco (plataforma decorada que serve de suporte para o ataúde) ou mesmo de cerimônia para fechar o caixão. Ele também abriu mão dos três caixões habituais feitos de madeira de cipreste, chumbo e carvalho e justificou: “Com dignidade, mas, de resto, como qualquer cristão normal, porque o Bispo de Roma é um pastor e discípulo, e não um soberano deste mundo.”

Também típico das ações de Francisco nos últimos anos de seu papado é a maneira como ele comunicou a decisão sobre seu local de sepultamento de forma um tanto casual e fragmentada ao longo dos últimos anos. A importante decisão, afinal, não foi anunciada em uma declaração oficial do Vaticano ou sequer em um discurso do chefe da Igreja. Em vez disso, Francisco, então com 86 anos, simplesmente comunicou seu desejo durante uma das muitas entrevistas que deu antes do décimo aniversário de sua eleição papal em 13 de março de 2023.

Em entrevista à emissora suíça RSI, ele citou como motivo de sua decisão o funeral de seu antecessor, o papa Bento 16, que morreu na véspera de Ano Novo de 2022, nove anos após renunciar ao cargo. Aparentemente, as autoridades responsáveis ​​no Vaticano tiveram que quebrar a cabeça sobre como organizar o funeral de um papa que não estava mais em exercício.

Francisco contou à RSI que aproveitou o evento como uma oportunidade para simplificar “a cerimônia de sepultamento de futuros papas, de todos os papas”. Agora, disse ele, os especialistas da Igreja removeram todos aqueles elementos “que não se encaixam liturgicamente”. Dessa forma, o funeral de Bento 16 pôde ser planejado de forma mais simples, sem omitir referências à antiga dignidade papal.

Despedida do papa na Basílica de São Pedro

Tudo o que Francisco disse em entrevistas desde 2023 foi incorporado a um conjunto de regras eclesiásticas no segundo semestre de 2024 com o título latino Ordo Exsequiarum Romani Pontificis (Ordem das Exéquias do Sumo Pontífice).

Ainda será dado um tempo, contudo, para que os fiéis possam se despedir de Francisco no caixão na Basílica de São Pedro. O papa Bento 16 foi elevado em um catafalco e só foi colocado no caixão triplo após o velório.

No caso dos três últimos papas que morreram no cargo (João Paulo 2º em 2005, João Paulo 1º em 1978, Paulo 6º em 1978), assim como no caso de Bento 16, enterrado no início de 2023), o enterro ocorreu no sexto dia após o anúncio da morte, praxe que deve ser mantida.

O clero atuante na igreja de Santa Maria Maggiore – outra determinação de Francisco ainda em vida – deve se concentrar principalmente na piedade mariana, na confissão e na liturgia. Eles devem praticar cantos gregorianos e serviços em latim. Canto gregoriano no descanso eterno. Os romanos provavelmente aprovam.

O post Onde e como o papa Francisco será enterrado apareceu primeiro em ISTOÉ DINHEIRO.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.