Visita ao Brasil, cerimônia de lava pés de detentos, viagem histórica ao Iraque, oração esvaziada na pandemia: relembre momentos do papado de 12 anos de Francisco.O papa Francisco, primeiro pontífice das Américas, morreu nesta segunda-feira (21/04), aos 88 anos. O jesuíta argentino comandava a Igreja Católica desde 2013. Relembre dez momentos do seu papado:
13 de março de 2013: Jorge Bergoglio se torna Francisco
O argentino Jorge Mario Bergoglio faz sua primeira aparição pública como papa Francisco Vestido com uma batina branca simples, sem ornamentos, o papa se curvou e pediu às dezenas de milhares de fiéis reunidos na Praça de São Pedro que rezassem por ele, marcando uma mudança de estilo em relação ao seu antecessor desde o início.
28 de março de 2013: lava os pés de jovens infratores
Dias após sua eleição, o papa surpreendeu a todos com uma missa na Quinta-feira Santa em uma penitenciária de Roma. Levando uma tradição que já mantinha quando era arcebispo de Buenos Aires, lavou os pés de 12 jovens infratores detidos, incluindo duas meninas, uma cristã e uma muçulmana, em um gesto inédito.
“Quem está no ponto mais alto deve servir aos outros”, afirmou na ocasião. “Isso é um símbolo e um gesto: lavar os pés quer dizer que estou a seu serviço”, explicou.
8 de julho de 2013: viagem a Lampedusa
Em outra decisão inesperada, Francisco escolheu como destino de sua primeira viagem como papa a pequena ilha italiana de Lampedusa, lugar que é um dos principais pontos de chegada de migrantes que arriscam a vida atravessando o Mediterrâneo.
De um barco, lançou flores no Mar Mediterrâneo para lembrar os migrantes que morreram em suas águas. Desde então, continuou defendendo os refugiados que fogem da guerra e da pobreza.
Julho de 2013: primeira e única visita ao Brasil
O papa Francisco visitou o Brasil pela primeira e única vez em julho de 2013, cerca de quatro meses após ser eleito pontífice. No Rio de Janeiro, em 22 de julho de 2013, foi recebido pela então presidenta Dilma Rousseff, marcando o início de sua participação na Jornada Mundial da Juventude (JMJ).
Ele também visitou o Santuário de Aparecida do Norte, no interior de São Paulo. O ápice da visita ocorreu em 28 de julho, quando 3,7 milhões de pessoas assistiram à sua homilia na Praia de Copacabana.
22 de dezembro de 2014: as “15 doenças da Cúria”
Durante sua mensagem de Natal à Cúria Romana, o governo central da Santa Sé, o papa listou 15 doenças que, em sua opinião, corroem o alto clero.
Diante de uma plateia atônita de prelados, mencionou o “Alzheimer espiritual”, a rivalidade e a ostentação, o “terrorismo da fofoca” e o “exibicionismo mundano”.
O papa também listou o “excesso de planejamento e funcionalismo” e a “indiferença para com os demais”.
Reformar a Cúria era uma das prioridades de Francisco, que nunca apreciou os círculos fechados da burocracia vaticana.
12 de fevereiro de 2016: aperto de mão histórico com o patriarca Cirilo
O papa Francisco e o patriarca Cirilo trocaram um aperto de mão histórico no primeiro encontro entre os principais líderes cristãos do Oriente e do Ocidente desde o cisma de 1054.
Apesar dessa reaproximação, a guerra na Ucrânia esfriou significativamente as relações com o patriarca ortodoxo russo, muito próximo do presidente Vladimir Putin. Em 2022, meses após a invasão russa, Francisco reprendeu publicamente Cirilo por sua aliança com o regime russo, chegando a afirmar que o patriarca não podia “se transformar num coroinha de Putin”. Após a fala de Francisco, a Igreja Ortodoxa russa afirmou ser lamentável que o pontífice tenha adotado tal tom.
27 de março de 2020: encarando a pandemia sozinho
Em meio à pandemia de covid-19, que atingiu duramente a Itália, Francisco celebrou a bênção “Urbi et Orbi” na Praça de São Pedro, chuvosa e deserta devido ao confinamento.
A imagem do papa solitário rodou o mundo como símbolo da crise sanitária que esvaziou as ruas do planeta. “Não nos detivemos perante os teus apelos, não despertamos face a guerras e injustiças planetárias, não ouvimos o grito dos pobres e do nosso planeta gravemente enfermo”, rezou Francisco, na ocasião.
Março de 2021: visita histórica ao Iraque
Durante uma inédita viagem ao Iraque sob forte esquema de segurança, o papa se reuniu privativamente com o aiatolá Ali Al Sistani, uma das principais autoridades do islamismo xiita.
Durante suas várias viagens a países de maioria muçulmana, Francisco multiplicou seus gestos a seus “irmãos e irmãs” e chegou a assinar um documento sobre fraternidade em 2019 com o imã de Al Azhar, a mais alta autoridade do islamismo sunita.
Apesar do elevado risco à sua segurança pessoal, o papa argentino cruzou o país, indo a Bagdá e Mossul, antigo bastião do grupo “Estado Islâmico” (EI), que permaneceu sob controle do grupo terrorista entre 2014 e 2017.
Em 2024, em sua autobiografia, Francisco relatou que escapou de uma tentativa de assassinato durante a viagem. Segundo o texto, após a chegada do papa a Bagdá, a equipe de segurança do pontífice no Vaticano recebeu um aviso urgente dos serviços de inteligência britânicos sobre um duplo ataque planejado por terroristas suicidas. Os agressores acabaram sendo interceptados e mortos pela polícia iraquiana antes que pudessem detonar explosivos.
8 de dezembro de 2022: lágrimas pela Ucrânia
Durante as festividades pela Imaculada Conceição, o papa não conseguiu conter as lágrimas ao mencionar a “Ucrânia martirizada”, dez meses após o início da invasão russa.
Francisco leu seu discurso na Praça da Espanha, em Roma. De repente, ele o interrompeu, tomado pela emoção, e permaneceu em silêncio por alguns segundos, antes de retomar a leitura sob os aplausos do público.
Em sua última aparição pública no Vaticano, no domingo de Páscoa, durante a bênção Urbi et Orbi, o papa Francisco reforçou o apelo para que os esforços para uma paz justa e duradoura na Ucrânia
5 de janeiro de 2023: caixão de Bento 16 é abençoado
Aos pés da Basílica de São Pedro envolta em neblina, Bergoglio presidiu a missa de funeral do papa emérito Bento 16, que morreu aos 95 anos, encerrando assim uma coabitação sem precedentes entre os dois pontífices.
O teólogo alemão, que passou seus últimos anos aposentado em um mosteiro dentro do Vaticano, conseguiu ofuscar seu sucessor e até inspirou um filme de Hollywood: Dois Papas, dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles.
jps (AFP, DW, ots)
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