
Com sua mistura de sátira afiada, distopia tecnológica e reflexões sombrias sobre o futuro, Black Mirror retornou para sua sétima temporada na última quinta-feira, 10 de abril, prometendo mais uma leva de seis episódios provocativos e, de certa forma, conectados com narrativas anteriores. Criada por Charlie Brooker, a série antológica, que estreou em 2011 no britânico Channel 4 — e que, desde a terceira temporada, é produzida pela Netflix —, continua a explorar os limites da relação entre humanidade e tecnologia, variando em tom, gênero e intensidade.
No total, Black Mirror já conta com 33 episódios e um especial interativo, Black Mirror: Bandersnatch (2018), que tem conexão com esta nova temporada. Entre os rostos conhecidos desta nova leva estão Issa Rae, Tracee Ellis Ross, Awkwafina, Rashida Jones, Will Poulter, Chris O’Dowd, Emma Corrin e Paul Giamatti. Com atuações marcantes e roteiros que oscilam entre o desconforto, a ironia e a crítica social, nós ranqueamos os episódios do menos impactante ao mais memorável. De longe, todos os seis episódios superam a sexta temporada inteira, lançada em junho de 2023.
6 – Meros brinquedos (Plaything)
Em um futuro próximo de Londres, um excêntrico suspeito de assassinato está ligado a um videogame incomum da década de 1990 – um jogo povoado por formas de vida artificiais fofas e em evolução. Apesar de uma proposta visualmente intrigante e do modelo retrofuturista, Meros Brinquedos tropeça em seu ritmo e entrega um final que não alcança todo o potencial emocional sugerido. A conexão com o esquecível filme interativo Black Mirror: Bandersnatch (2018) é quase irrisória, a ponto de o tom macabro chamar mais atenção do que o aspecto tecnológico.
5 – Bête Noire (Fera Negra)
Logo após uma degustação teste de um dos seus novos sabores de chocolate, a jovem cientista química Maria (Siena Kelly) se sente desconcertada quando sua ex-colega Verity (Rosy McEwen) entre os presentes e, logo em seguida, ela começa a trabalhar na mesma empresa. Envolvendo um passado de bullying no ensino médio entre as duas, Maria nota que algo nessa aparição surpresa de Verity em sua vida não soa natural.
Pouco a pouco, Maria começa a perder credibilidade e cair em contradições diante dos seus colegas. As ocorrências parecem cada vez mais fora de proporção e a jovem cientista começa a perder a cabeça e, claro, suspeitar de Verity. Com clima de suspense psicológico e uma atmosfera crescente de paranoia, o segundo episódio Bête Noire é eficiente, entretanto, o segredo é revelado de forma abrupta e estapafúrdia. Ótima premissa, contudo ordinário no momento derradeiro.
4 – Hotel Reverie
Vamos fazer um remake clássico do cinema em preto e branco, porém com alta tecnologia, as mesmas imagens do passado, mas como atriz ultrapopular no presente? Não é difícil comprar a ideia do episódio Hotel Reverie, quando temos refilmagem de Branca de Neve em live-action nos cinemas. O clássico filme britânico do título ganha uma repaginada levando a estrela de Hollywood Brandy Friday (Issa Rae) a outra dimensão, onde ela deve seguir o roteiro cena por cena se quiser voltar para casa.
Este é o episódio mais estiloso dessa temporada, além de metalinguístico, brincando com os conceitos das produções audiovisuais, a fama e o controle narrativo. Como sempre, apresenta o questionamento moral de reutilizar o trabalho alheio, mas a dinâmica em cena entre Issa Rae e Emma Corrin e o visual impecável encantam os espectadores, sendo capaz de perdoar os deslizes da produção em nos fazer acreditar que qualquer empresa investiria dinheiro em projeto com riscos fatalistas.
3 – USS Callister: rumo ao infinito
Pela primeira vez Black Mirror lança a sequência de um episódio, apresentado na quarta temporada (2017). De lá para cá, Robert Daly (Jesse Plemons) continua morto, mas agora a tripulação do USS Callister – liderada pela Capitã Nanette Cole (Cristin Milioti) – está presa em um universo virtual infinito, lutando para sobreviver contra 30 milhões de jogadores. Para continuarem voando pelo espaço infinito, eles precisam dos créditos dos jogadores reais, o que causa problemas para o fundador do jogo, Walton (Jimmi Simpson), no mundo real.
Com uma mistura de ficção científica, aventura e comédia — mas sem super-herois —, a narrativa espacial distópica mantém o fôlego com novos desafios tanto para os tripulantes clonos quanto para os terráqueos e ainda atualiza a crítica ao vício em jogos online. Com duas reviravoltas, o episódio cumpre muito bem seu papel de boa continuação e expande com sucesso o universo criado anteriormente.
2 – Eulogy
Se a tecnologia pode ser usada de forma vingativa, macabra, aventureira e capitalista, como nos episódios já mencionados neste ranking, ela também encontra seu momento de nostalgia e drama. Protagonizado pelo duas vezes indicado ao Oscar Paul Giamatti (Os Rejeitados), Eulogy nos submerge em um mundo de reminiscências, no qual as pessoas podem literalmente entrar em fotografias antigas. Nesse processo, o solitário Phillip (Giamatti) é convidado a abrir seu baú de fotos, destroçadas pelas mágoas do passado, reviver emoções poderosas, reencontrar-se jovem (Declan Mason) e analisar suas escolhas.
Intimista e emocional, Eulogy é um dos episódios mais comoventes da série e nos coloca muitos próximos dos sentimentos expostos em tela. Com uma entrega autêntica, o protagonista nos convida a navegar em ondas de memória, de luto e da dolorosa beleza das lembranças.
1 – Pessoas comuns (Common People)
Seria cômico se não fosse tão trágico e palpável, o capitalismo e o sensacionalismo consomem a poesia do casamento entre a professora Amanda (Rashida Jones) e o operário de obra Mike (Chris O’Dowd) neste episódio. Com pequenos rituais do cotidiano, o roteiro nos apresenta um casal simples com o sonho de formar uma família, mas impedidos por problema médico. Após um aneurisma, Amanda é condenada a nunca mais sair do coma. Gaynor (Tracee Ellis Ross), no entanto, aparece como um anjo salvador no seu caminho com uma solução milagrosa, ou melhor, tecnológica.
Desesperado para salvar a esposa, Mike a inscreve no Rivermind, um sistema de alta tecnologia que a manterá viva, porém a assinatura mensal do projeto piloto é apenas a ponta do iceberg de um mar de dívidas a serem acumuladas em troca de mais tempo da mulher amada. Com uma premissa angustiante e plausível, Pessoas Comuns é o primeiro e o melhor desta temporada, ao combinar o melhor de Black Mirror: crítica social, drama emocional e dilemas éticos. Um episódio com o poder de ecoar por dias em nossa mente.
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