
‘O Homem Invisível’ é uma das histórias de monstros mais populares de todos os tempos e, eternizada pelas mãos de H.G. Wells, ganhou inúmeras adaptações cinematográficas que marcaram época. E, com a chegada de uma nova era de terror, histórias clássicas são mais que bem-vindas para receberem um tratamento contemporâneo ou remasterizado – ainda que boa parte delas não funcione como deveria. Felizmente, a mais recente rendição desse icônico conto do terror, chegando aos cinemas em 2020, passou longe de trazer convencionalismos do gênero às telonas e sagrou-se como uma potente e analítica história sobre o caráter vingativo e frustrado do ser humano, permeando a narrativa com importantes discussões sociais.
O filme, dirigido por Leigh Whannell, tempera as conhecidas investidas dessa história com uma roupagem sci-fi de tirar o fôlego e que nos deixa com os nervos altíssimos do começo ao fim. A trama é centrada em Cecilia (Elisabeth Moss), uma mulher que está presa em um relacionamento extremamente tóxico com um gênio da tecnologia óptica, Adrian (Oliver Jackson-Cohen), e que, em um ímpeto para se libertar dos constantes abusos físicos e psicológicos que sofre, acredita ter se livrado dele. Algumas semanas depois, ela recebe a notícia de que Adrian se matou e deixou milhões de dólares em testamento para Cecilia – mas as coisas não parecem certas quando eventos sobrenaturais começam a assombrá-la.
A verdade é que Cecilia acredita ferozmente que Adrian ainda está vivo e que, de alguma maneira, a está atormentando como uma compulsiva e predatória vingança. A protagonista sente que ele criou uma forma de se tornar invisível para torturá-la em uma histeria constante que, em pouco tempo, a levaria a uma total insanidade. E, como vemos com o desenrolar da narrativa, Adrian de fato utilizou seu poderoso conhecimento científico para criar um traje óptico que o fundiria a qualquer ambiente, transformando-o em um homem capaz de sumir à plena vista. Porém, cansada de se ver submetida aos prazeres sádicos de um monstro psicótico, ela luta com todas as forças que lhe restam para por um fim nesse reino de terror.
A condução de Whannell transmuta essa obra-prima do suspense e do terror em muito mais que uma remodelagem de um dos maiores ícones da sétima arte. Ao ficar responsável pelo roteiro, o realizador tem espaço o suficiente para usar os tropos do gênero e rearquitetá-los em uma exploração da psique humana e de relações destrutivas que acontecem mesmo nos dias de hoje. Delineando uma trama que mergulha em temas como feminicídio e denuncia os abusos domésticos sofridos pelas mulheres, além de ramificar-se para incursões sobre gaslighting e manipulação, e de que forma isso culmina na gradativa desestabilização mental de uma vítima das circunstâncias erradas.
Para garantir que isso funcione, o cineasta se vê rodeado de possibilidades diversas, escolhendo um caminho muito bem demarcado e esquadrinhado ao trazer elementos do horror psicológico e da ficção científica para uma atmosfera de pura e angustiante sinestesia cênica. Unindo-se à impecável fotografia de Stefan Duscio, acompanhamos a montanha-russa emocional de Cecilia, crédula de que se livrara das amarras da toxicidade e acompanhada de uma melancolia agonizante, e arrastada para um vórtice asfixiante e claustrofóbico, se torna alvo de uma realidade da qual não pode escapar – e nem ao menos enxergar. E, como a cereja do bolo, temos uma tétrica trilha sonora pincelada com comprometimento apaixonante pelas mãos de Benjamin Wallfisch.
Nada disso seria possível sem atuações magníficas, guiadas pela sempre incrível Elisabeth Moss. A atriz, que já havia nos conquistado com um trabalho admirável na série ‘The Handmaid’s Tale’, sabe muito bem como transmitir pânico e medo através de uma performance pautada na sutileza e no domínio cênico, dançando com seus colegas em uma narrativa visceral e crua. Moss divide os holofotes com Jackson-Cohen, que se metamorfoseia em um assassino sem coração e que fará de tudo para garantir a decadência iminente de sua ex-namorada. A presença de Aldis Hodge, Storm Reid e Harriet Dyer trazem ainda mais camadas para um projeto ambicioso e cujas engrenagens se encaixam com facilidade envolvente.
Completando meia década desde seu lançamento oficial nos cinemas, ‘O Homem Invisível’ encontra sucesso absoluto ao mostrar que o terror ainda pode ser explorado de maneiras diferentes, com investidas que sabem o que querem dizer e cumprem essa missão com desenlace aprazível. E é claro, é sempre bom resgatar histórias clássicas e atemporais que caem nas mãos certas para serem reintroduzidas a uma nova geração.
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