Após quatro meses consecutivos de saldo positivo, os investidores estrangeiros voltaram a puxar o freio na B3. Em abril de 2025, até o dia 11, o saldo de capital externo na Bolsa, já considerando os aportes via IPOs e Follow-Ons, registra uma retirada líquida de R$ 8,67 bilhões — o maior valor mensal desde abril de 2024, quando o fluxo também havia sido negativo. O levantamento foi realizado pela consultoria Elos Ayta.
Com esse movimento, abril se posiciona como o terceiro pior mês desde janeiro de 2024 em termos de saída de capital estrangeiro, mesmo com o mês ainda em curso. E o dado é ainda mais expressivo quando excluímos os aportes em IPOs e ofertas subsequentes: o saldo parcial negativo passa a ser o maior dos últimos 12 meses, evidenciando uma aversão crescente ao risco Brasil por parte do investidor estrangeiro.
O principal fator da retirada foram as tarifas anunciadas pelo presidente Donald Trump no último dia 2 de abril. O impacto nos mercados foi imediato: bolsas globais passaram a operar sob maior volatilidade, o dólar se fortaleceu, e o fluxo de capitais migrou, mais uma vez, para os EUA. As tarifas adicionais sobre produtos estratégicos da Ásia e da Europa acenderam o pavio de uma nova tensão comercial, ressuscitando os fantasmas da guerra tarifária que marcaram o primeiro mandato do republicano.
O Brasil, tradicionalmente visto como um mercado sensível ao apetite por risco global, sentiu o baque. A perspectiva de desaceleração do comércio internacional, somada ao avanço dos juros americanos, tornou o ambiente ainda mais desafiador para mercados emergentes.
Títulos do tesouro norte-americano voltaram a subir
Parte dessa mudança também acontece por conta da movimentação do mercado internacional. Os juros dos títulos do Tesouro norte-americano (T-Bonds) com vencimento em 10 anos voltaram a subir e atingiram a marca de 4,32% — um patamar que amplia o diferencial de risco e torna os ativos dos EUA novamente atrativos, inclusive em relação às ações brasileiras.
Em um cenário onde a segurança dos títulos norte-americanos oferece retorno elevado com risco praticamente nulo, a lógica de alocação global se impõe: gestores de fundos e investidores institucionais globais voltam os olhos para Wall Street e reduzem exposição em mercados emergentes, como o Brasil, onde a volatilidade política e fiscal aumenta a percepção de risco.
Acumulado no ano segue positivo
Ainda assim, o acumulado do ano continua positivo. Até 11 de abril, o fluxo estrangeiro líquido na Bolsa — considerando as captações via mercado primário — soma R$ 2,32 bilhões. Se desconsiderarmos os IPOs e Follow-Ons, o saldo também permanece no azul, mas com menor robustez: R$ 1,97 bilhão.
O dado reforça o papel das ofertas de ações na sustentação do fluxo estrangeiro nos primeiros meses do ano. Mas também acende um sinal de alerta: se a tendência de abril se prolongar, e os juros americanos seguirem elevados em meio a uma nova onda de protecionismo global, o acumulado anual pode rapidamente migrar para o campo negativo — o que traria novas pressões sobre o câmbio, os ativos de risco e, sobretudo, o humor do mercado.
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