
Quanto mais a gente presta atenção nas notícias dos jornais, mais o nosso cérebro nos instiga a criar diversas teorias conspiratórias em que tudo que vemos parece estar conectado e voltado contra nós, de uma maneira mirabolante. Linhas de raciocínio como esta são motivadores de escritores e roteiristas para criar histórias que deixam o leitor ou espectador no limite da tensão, principalmente quando o protagonista é um cidadão comum, gente como a gente. Esse é o plot de ‘Operação Vingança’ (‘The Amateur’), o mais novo filme da 20th Century Studios e que chega aos cinemas brasileiros a partir dessa semana.
Heller (Rami Malek, o eterno Freddie Mercury de ‘Bohemian Rhapsody’) e Sarah (Rachel Brosnaham) são casados e apaixonados. Ela está prestes a viajar a trabalho para Londres, a negócios, e pede uma vez mais que o marido vá, porém Heller, analista de dados criptografados da inteligência dos EUA, tem trabalho a fazer e recusa o convite. Infelizmente, nesta viagem Sarah é feita de refém em um episódio de violência e perde a vida, o que faz com que Heller perca seu chão. Com o passar dos dias e a ineficiência do serviço de inteligência em ir atrás dos culpados pela morte de Sarah, Heller toma uma decisão radical: se voluntaria para receber um treinamento de alto padrão, tal qual oferecidos aos informantes, para ele mesmo buscar, encontrar e punir os assassinos de sua esposa.
Baseado no livro homônimo escrito pelo estadunidense Robert Littell, a adaptação fílmica de ‘Operação Vingança’ transparece ser exatamente isso: uma adaptação literária. Ou seja, em vez de enxugar enredos, situações, personagens para promover dinamismo na narrativa visual, o roteiro de Ken Nolan e Gary Spinelli entrega uma enxurrada de elementos para esta história, que deve caber em duas horas de duração. O resultado é que o espectador fica os cento e vinte minutos olhando para lá e para cá, tentando acompanhar os personagens, as locações, as motivações e as sequências de plot twists do enredo.
Com tantos elementos a serem inseridos e pouco tempo para desenvolvê-los, não são poucos os momentos em que o espectador se perde na história. E ainda temos o franzino Rami Malek, no papel de um super nerd introspectivo que, pela força da perda, se transforma num mega espião capaz de dar a volta no sistema. Talvez na literatura a gente consiga apostar nesta ideia, mas a fragilidade que Rami Malek emprega ao seu personagem torna difícil para o espectador acreditar em toda a sua capacidade física e intelectual, afinal, estamos falando de um sujeito comum versus o FBI dos EUA né.
Ainda que confuso, ‘Operação Vingança’ é um filme muito bem realizado, com orçamento milionário e que entrega cenas de ação condizentes às grandes produções hollywoodianas, com direito a explosões, carros capotando, tiroteios e muitos deslocamentos para cenários improváveis. Também o elenco de apoio – que conta com nomes como Laurence Fishburne, Jon Bernthal, Holt McCallany e Julianne Nicholson – entrega competência e sintonia a personagens duas caras, intrigantes e cheios de responsabilidade. É o trabalho desse grupo que ajuda a equilibrar a atuação de Malek.
Misturando thriller com ação e dirigido por James Hawes, ‘Operação Vingança’ chega aos cinemas trazendo a velha história de conspiração e corrupção que embala boa parte dos filmes de perseguição em que o sistema dos EUA está ameaçado.