
A cultura de um povo é um conjunto de características em comum que um grupo compartilha e que reflete os pensamentos, as normas e o comportamento de uma determinada sociedade. Nas últimas décadas, porém, com o mundo cada vez mais globalizado e conectado, fenômenos como sociedades de culturas diferentes agirem e pensarem da mesma forma podem ser observados, especialmente dentre os jovens – parcela da população mais antenada e absorvente das influências externas de outros países. Porém, mesmo com o passar do tempo, algumas coisas nunca mudam, como a busca pelo amor. E é esse retrato que podemos ver no k-drama sul-coreano ‘Regras do Amor na Cidade Grande’, que chega essa semana nos cinemas brasileiros.
Heung-soo (Steve Sanghyun Noh) é um jovem tímido que cursa faculdade de Francês quando, certo dia, é surpreendido pela chegada de uma nova aluna – Jae-hee (Kim Go-eun) –, um verdadeiro furacão que abala a todos os alunos pela sua forma livre, despojada e despreocupada de se comportar. Inesperadamente, os dois se tornam amigos, grandes amigos, que não só cursam as mesmas aulas com também curtem as festas e baladas na noite sul-coreana. O que era para ser apenas uma amizade passageira, aos poucos vai se tornando um sentimento profundo de companheirismo entre os dois, principalmente por causa das escolhas individuais de ambos que não se encaixam na sociedade conservadora em que vivem: ela, uma jovem independente e autônoma; ele, um rapaz gay.
Colocando assim, parece que o filme é só isso, mas é muito mais. A premissa de ‘Regras do Amor na Cidade Grande’ parte do lugar comum de todo jovem – sentir-se deslocado no mundo que não o compreende – para aprofundar-se nos conflitos das relações humanas e trazer à tona o debate sobre como a sociedade trata diferentemente aos homens e às mulheres, aos solteiros e aos casados, aos heterossexuais e os homossexuais.
Baseado no livro homônimo de Sang Young Park (lançado no Brasil pela editora Record), o próprio autor adaptou o roteiro e transformou o filme num delicioso k-drama salpicado de situações de humor e de romance, que entram perfeitamente nos momentos em que a história mais precisa – e que a gente menos espera. Assim, o espectador é constantemente surpreendido por sensações opostas daquilo que deveria estar sentindo no momento, e esse contraste é a base do que alivia as situações as quais os protagonistas atravessam e com as quais o espectador se relaciona. Pois assim é a vida.
Com um roteiro alinhado aos anseios da juventude, todos os outros departamentos entram em sintonia com a trama, e absolutamente tudo funciona: elenco, figurino, maquiagem, arte, trilha sonora e, acima de tudo, a direção de Eon-hee Lee. Mesmo com duas horas de duração, dá vontade de continuar assistindo e acompanhando a vida desses personagens, e, ao mesmo tempo como esses cento e vinte minutos percorre quase vinte anos na vida de Heung-soo e de Jae-hee, o gostinho ao final é como se tivéssemos ouvido dois grandes amigos nossos contando suas desventuras e aventuras para a gente durante um jantar de reencontro.
Fofo, bem-humorado e absolutamente de acordo com a realidade, ‘Regras do Amor na Cidade Grande’ é um filme adorável, um prato cheio não só para as dorameiras de plantão, mas para todo cinéfilo em busca de um bom filme.