Guerra tarifária preocupa fornecedora da Apple, que cogita produção nos EUA

Luxshare

A Luxshare, gigante chinesa que monta iPhones, AirPods e Apple Watches, pensa em levar parte da produção para fora da China — e os Estados Unidos poderá ser um dos destinos.

Segundo uma matéria da Reuters, um dos motivos para essa decisão seria as novas e pesadas tarifas que o governo Trump impôs aos produtos chineses. Quem contou isso foi a própria presidente da empresa, Wang Laichun.

Posts relacionados

  • Como ficará a fabricação e importação de iPhones com o tarifaço nos EUA?
  • Tarifas de Trump “derretem” ações da Apple e ameaçam preços nos EUA
  • Microsoft bate Apple em market cap e se torna a mais valiosa do mundo

Em uma conversa com analistas, Wang disse que, por agora, o impacto das tarifas no bolso da empresa deve ser pequeno — porque eles exportam poucos produtos prontos direto para os EUA.

Mesmo assim, a Luxshare sabe que precisa repensar a sua estratégia. Isso pode significar segurar alguns investimentos na China e colocar mais dinheiro em outros lugares, principalmente no Sudeste Asiático.

Tudo isso acontece no meio de uma guerra comercial que só piora. As tarifas americanas sobre produtos chineses pularam de 54% (ontem) para 104% hoje em retaliação aos aumentos anunciados pelo governo chinês.

A China não deixou barato e também anunciou um aumento para 84% sobre produtos americanos, que começarão a valer amanhã (9/4). Pensa que a guerra acabou? Não: Trump dobrou a aposta e subiu a tarifa sobre a China para incríveis 125%.

Só que, ao mesmo tempo, ele deu uma aliviada para outros países: uma pausa de 90 dias com tarifa de “apenas” 10%, se eles toparem negociar e não partirem para o revide.

Mapa do Brasil com uma bandeira da Apple

Apple estaria planejando fabricar mais iPhones no Brasil para fugir de tarifas dos EUA

Sobre produzir nos EUA, Wang ficou com um pé atrás. A chance existe, mas há obstáculos : “Se tivermos garantia comercial e uma boa análise [de viabilidade], não descartamos produzir algumas coisas por lá [nos EUA]”, disse ela.

Qualquer passo nessa direção, ela avisou, dependeria de pensar na “segurança e no desenvolvimento a longo prazo” e seria mais para produtos que usam “muita automação”. Em nenhum momento ela citou o nome da Apple, vale comentar.

A Luxshare tem fábricas em vários territórios (Malásia, Tailândia, Vietnã e México), mas, nos EUA, a empresa possui apenas um escritório, que fica na Califórnia. E, como Wang lembrou, montar uma linha de produção nova, mesmo onde já existe estrutura, leva de um ano a um ano e meio.

Apesar da declaração, analistas recomendam ir com calma. Muitos acham que essa fala foi só para “cumprir tabela” ou talvez para tentar agradar o governo americano, sem um plano de verdade por trás.

Eles lembram de problemas gigantes como, por exemplo, o custo altíssimo, achar um lugar ideal e, o principal, falta mão de obra qualificada nos EUA para montar eletrônicos tão complexos — algo que na Ásia é mais fácil de encontrar. O caso das fábricas da TSMC no Arizona, que demoraram anos e custaram bilhões, vive sendo citado como exemplo.

Trump insiste na produção nacional de iPhones

Enquanto isso, o governo Trump bate o pé que a mudança é possível. A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, disse que o presidente “acredita totalmente” que a Apple consegue fazer iPhones nos EUA.

Durante um discurso, Leavitt até mencionou o investimento de US$500 bilhões que a Apple anunciou no país. No entanto, os críticos dizem que, muito provavelmente, esse montante vai mais para data centers e pesquisa do que para fábricas de iPhones.

A verdade, segundo os especialistas, é outra: a produção da Maçã é um quebra-cabeça global, com peças vindo de dezenas de países.

Levar tudo para os EUA seria quase impossível e deixaria o iPhone muito mais caro. Eles também lembram da dificuldade que a Apple passou para fabricar o Mac Pro no Texas, com falta de peças e de gente capacitada.

Cook e Trump em fábrica do Mac Pro nos EUA

Tim Cook deu a Trump o primeiro Mac Pro fabricado nos EUA

E quem paga essa conta das tarifas? Wang deu a entender que não são as fabricantes. Ela disse que, historicamente, esses custos acabam chegando ao preço final, mas admitiu que os clientes podem fazer pressão para baixar os valores.

Por enquanto, essa “guerra tarifária” já está bagunçando os mercados e deixando as empresas assustadas, principalmente em termos de atrasos e eletrônicos mais caros. Mesmo que tímida, a declaração da Luxshare mostra o malabarismo que as gigantes da tecnologia estão tendo que fazer nesse cenário incerto da guerra comercial.

via AppleInsider, MacRumors

Adicionar aos favoritos o Link permanente.