Durante crise, dólar exerce papel de risk-off; afirmam especialistas

Foto: Unsplash / dólar

O dólar tem apresentado volatilidade desde o anúncio das tarifas reciprocas nos EUA, com forte queda no fechamento do pregão da sexta-feira (4). Especialistas ouvidos pelo BP Money conectam o comportamento da moeda com o cenário de insegurança mundial e como o dólar ancora o sentimento do investidor mais avesso ao risco.

Os investidores observam uma fuga de capitais em ativos de risco com a escalada do conflito tarifário ao redor do mundo. O destino mais procurado por investidores são os títulos de dívida pública norte-americana, considerados os mais seguros em um período de instabilidade.

Segundo Lucas Nardi, sócio da The Hill Capital, o fenômeno se insere no chamado “Dollar Smile”, onde a moeda americana se fortalece tanto em cenários de forte crescimento nos EUA quanto em momentos de aversão global ao risco.

“No caso atual, prevalece o segundo vetor: a retórica protecionista de Trump reabre temores sobre uma nova rodada de desglobalização, que ameaça cadeias produtivas e pressiona a confiança de empresas e consumidores.”

Head de Investment Solutions da SulAmérica Investimentos, Marcel Andrade, segue o mesmo raciocínio ao comentar que o fortalecimento do dólar se justifica devido a um ambiente de aversão à risco nos mercados.

Para ele, em um primeiro momento, a moeda americana perdeu valor frente a boa parte das moedas globais, com os agentes de mercado precificando uma possível aceleração no movimento de corte de juros por parte do FED, visando estimular a economia.

“No entanto, após a retaliação da China as tarifas americanas, e uma eventual escalada na guerra comercial, o dólar exerceu o seu papel de ativo procurado pelos investidores em momentos de risk-off, fazendo com que a moeda americana se valorizasse”

Dólar valorizado acompanha desaceleração

De acordo com Gabriel Senna, CEO da Advisor’s Society, um dólar forte pode ser um sinal de várias coisas e não necessariamente um indicativo de estagnação econômica global.

Para o Brasil, o gestor destaca que a alta pode, também, aumentar o custo de capital e dívida, consequentemente diminuindo a lucratividade de algumas empresas. O fenômeno influencia tanto as operações de empresas que dependem de importações quanto as exportações.

“Além disso, pode afetar o apetite de investidores estrangeiros pelo mercado brasileiro, uma vez que um real desvalorizado aumenta o custo em dólar de investir no Brasil.”, conclui o dirigente.

A forte valorização da economia americana pode, para algumas economias, impulsionar a inflação, o que vem acompanhado de alta nos juros. Andrade lembra que o Brasil tem cobertura nesse cenário graças a suas reservas:

“O BC (Banco Central) possui nível de reservas internacionais relevantes, para caso ocorra, combater uma disparada da moeda americana. Porém, só atuará de forma a intervir no mercado de câmbio ocasionalmente, quando entender que o mercado está se comportando de forma disfuncional, e com o objetivo de estabilizar a moeda de movimentos específicos”, reforçou.

Nardi salienta que em períodos de comercio internacional tensionado, produção arrefece e consumo é enfraquecido. “Esses fatores contribuem para um quadro de crescimento global mais frágil, aumento de riscos geopolíticos e menor sincronização entre as economias desenvolvidas e emergentes.”

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