Envelhecer: privilégio ou recusa?

Pitico Fernando Priamo

Se tem um tema que gera controvérsias, resistências pessoais e pouca aceitação social esse tema é o da velhice. Velho é sempre o outro. Quem está à minha frente ou quem está atrás de mim. É difícil me aceitar velho. Baseio essas afirmações em várias leituras que desenvolvo na área da geriatria e da gerontologia. Como por exemplo em Simone de Beauvoir (1908-1986), escritora, professora de filosofia em Marselha e Ruão, e mais, tarde na Sorbonne. Viveu no território francês. Companheira de Jean-Paul Sartre – ícone da filosofia existencialista – por muito tempo, em seu tratado sobre “A velhice”- referência bibliográfica fundamental – para quem deseja enveredar pela ciência do envelhecimento. Sendo bastante superficial na minha interpretação, ela apresenta a diversidade do tratamento cultural dispensado aos mais velhos: a atenção a eles varia de acordo com os hábitos estabelecidos. Ou seja, resumindo: não se trata as pessoas idosas da mesma maneira em todas as culturas humanas.

Por aqui as coisas não andam bem. Nunca estiverem bem. Há uma luta desesperada contra os efeitos da passagem do tempo em nós, onde o envelhecimento é combatido por muitas maneiras; por técnicas cirúrgicas, injeções, narrativas, marketing, vitaminas e procedimentos afins. Vivemos num mundo que luta contra a chegada da idade, apesar de que desde muito cedo aprendemos cantando o “parabéns pra você, muitos anos de vida”….

Que boa fantasia: bom seria se pudéssemos fazer com que a vela do bolo ficasse acesa eternamente, para sempre. Não tem jeito. O tempo vai. Ano que vem teremos mais um ano de vida. Diante do inexorável da vida que precisa ser vivida, “estamos condenados a viver”; envelhecer não pode ficar de fora desse nosso caminho existencial. É o que há de novo. Essa é a grande novidade do século XXI. Estamos vivendo mais e vamos viver cada vez mais.

Não sei vocês, caros leitores e leitoras, que respostas dariam ao título provocador dessa coluna; mas, para mim, essas mais de três décadas, de trabalho social com parcela da população idosa da cidade, tem me sido muito importante para o meu próprio envelhecimento. A conscientização pessoal do envelhecimento me faz procurar e fazer um novo modo de vida. Mudar hábitos. Ter mais preocupação com a saúde física, se cuidar mais. Adquirir também a importância de sair de um comportamento sedentário, não somente em relação ao aspecto físico, mas também buscar ter mais flexibilidade mental e emocional diante das pessoas e dos fatos da realidade.

Minha resposta portanto, à questão-título da coluna de hoje é a de que envelhecer é um privilégio. Não como sendo uma exceção, uma condição para poucas pessoas. E sim uma meta a ser atingida ou um desejo a ser realizado, um compromisso político e público a ser inaugurado na nossa cultura social. Por que alguns (a maioria) de nossos líderes políticos, não falam para as pessoas idosas, olhando para si, em suas condições de idosos? Eu vejo um futuro pela frente. Aqui não importa a quantidade de horas e sim, a qualidade delas. Estamos diante de um novo mundo velho. Somos os novos velhos.

Podemos começar o planejamento para envelhecer o quanto antes. O certo é para mim que a velhice é uma invenção da sociedade. Cabe a nós re/inventarmos uma nova sociedade. Sem recusar e sem negar a nossa idade. Provocar uma educação para essa tão desejada conquista de toda a humanidade que é a de viver mais. Portanto envelhecer está contido nesse desejo, nessa possibilidade real de uma nova vida: a não ser que se deseja morrer antes da hora. Em sã consciência ninguém quer isso.

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