Por que o dólar desabou após tarifaço de Trump e o que esperar daqui para frente

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, cumpriu sua promessa de campanha e anunciou seu “tarifaço” para produtos importados na quarta-feira, 2. Como reação, houve um movimento global de desvalorização do dólar.

+ Fórmula ‘sem nenhuma metodologia’ do tarifaço de Trump confunde o mundo e pune países pobres

No Brasil, a moeda norte-americana despencou 1,18% na sessão de quinta-feira, 3, cotada a R$ 5,62, menor valor desde 16 de outubro de 2024. O índice DXY, que mede a força do dólar americano em relação a moedas fortes de países desenvolvidos, recuou mais de 2%, atingindo a maior queda diária desde 2016.

A queda da divisa americana reflete o aumento do temor de uma recessão global impulsionada pelas novas tarifas do governo Trump, que podem impactar, sobretudo, a própria economia americana.

 “Esse cenário intensifica as expectativas de que o Federal Reserve [banco central dos EUA] poderá adotar cortes mais agressivos nas taxas de juros, o que coloca pressão sobre o dólar. A forte liquidação da moeda americana reflete esse novo ambiente”, aponta André Matos, CEO da MA7 negócios.

As tarifas anunciadas foram mais pesadas do que o esperado, especialmente para os países asiáticos. Os produtos brasileiros terão uma tarifa adicional de 10%, que vale para outros países da América Latina, como Argentina e Colômbia. Para China, a tarifa anunciada será de 34%, enquanto para a União Europeia, de 20%. Para o Japão será de 24% e para Índia de 26%. Já para todos os carros produzidos fora do país, por exemplo, será aplicada uma tarifa de 25%.

+ ‘Tabelão’ do Trump: veja a lista de países incluídos no tarifaço dos EUA

O problema do tarifaço está no risco contratado para a própria economia norte-americana, avalia Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos. Isso porque, o maior custo de produtos importados pode levar a um aumento de preços – seja por redução de oferta, seja pelo repasse do custo maior com tarifas – e a uma consequente redução na atividade econômica.

“Com a restrição às importações, escassez de oferta e aumento de preços deverão ser uma realidade já no curto prazo, com grande impacto ao bem-estar social. Com isso, uma desaceleração econômica e até mesmo uma possível recessão passam a ser riscos concretos na principal economia do planeta, o que, claro, impacta o mundo inteiro”.

Os mercados também esperam que haja uma retaliação parte dos países afetados e uma possível nova acomodação do comércio mundial, com países e blocos direcionando seus negócios para trocas entre si. “Existe uma expectativa de que Trump não recuará na sua estratégia, o que pode gerar ainda mais desconfiança em relação à economia americana e consequentemente queda do dólar”, diz Matos, da MA7.

Para o Brasil, apesar dos impactos nas exportações, o momento pode significar uma valorização do real, na esteira dos juros altos e das novas relações comerciais. Hoje, a taxa básica de juros da economia está em 14,25% ao ano. Para efeitos de comparação, nos Estados Unidos, os juros estão na faixa de 4,25% a 4,50% ao ano.

“Do ponto de vista comercial, é possível que em um segundo momento as economias mais afetadas se organizem e busquem alternativas aos EUA, cada vez mais fechado para produtos internacionais. Com isso, novos acordos bi ou multilaterais podem surgir”, afirma Veronese, da B.Side. Mas ela ressalta que é apenas uma possibilidade.

+ Resposta a ‘tarifaço’ terá como base reciprocidade aprovada no Congresso, diz Lula

Para o dólar, a economista da B.Side acredita que “é muito difícil falar perspectiva para dólar”, pois ainda estamos em maior a um cenário bastante incerto. E justamente em meio a incertezas é quando os investimentos tendem a buscar um porto seguro, sendo o dólar ainda um ativo de segurança.

“Acho que o movimento dessa quinta foi mais intenso porque hoje foi o dia que o mercado digeriu. Na minha leitura, nos próximos dias, esse movimento não deve ser tão intenso, mas o dólar tende a ficar nesse patamar, talvez um pouquinho mais para baixo”.

Já a MB Associados projeta que a moeda norte-americana deva fechar o ano no patamar dos R$ 5,70, ante uma projeção de ficar acima de R$ 5,90 divulgada no mais recente boletim Focus. “A ideia de uma balança comercial mais forte com os chineses e outros países, com os efeitos adicionais de, por exemplo, acelerar o acordo comercial com os europeus, tende a manter a taxa de câmbio mais baixa nos próximos meses. Assim, o câmbio tende a se manter na faixa de 5,70 ao longo de 2025”, diz relatório da consultoria.

Vai viajar ao exterior? Veja se é hora de comprar dólar

Para quem precisa comprar a moeda norte-americana tendo como meta uma viagem ao exterior, a recomendação dos especialistas é que esse investimento seja feito paulatinamente.

Como a cotação do dólar não é previsível, é projetada, e está sujeita aos cenários internos e externos, ela pode sofrer variações inesperadas – para cima ou para baixo. Portanto, a estratégia mais indicada é comprar as moedas aos poucos, e não esperar por um momento de baixa da moeda.

O post Por que o dólar desabou após tarifaço de Trump e o que esperar daqui para frente apareceu primeiro em ISTOÉ DINHEIRO.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.