Entenda o conceito que o CEO da Gerdau trouxe do Butão para ter funcionários mais felizes

Gustavo Werneck, CEO da Gerdau, utiliza conceitos modernos e orientais para melhorar a qualidade de vida dos mais de 30 mil funcionários da gigante do aço.

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Ao Dinheiro Entrevista, o executivo conta que viajou ao Butão para aprofundar seu conhecimento sobre o conceito de Felicidade Interna Bruta (FIB), e lá foi recebido pelo ex-primeiro-ministro do país, Tshering Tobgay, um dos principais embaixadores mundiais do tema. ​

O conceito foi trazido para dentro da empresa, e Gustavo Werneck promove a ideia de que o bem-estar dos colaboradores é um impulsionador essencial para os negócios.

CEO da Gerdau diz que visa ‘usufruir de toda a capacidade criativa das pessoas’ e que não concorda com ferramentas de gestão que, por exemplo, demitem 10% dos que possuem pior desempenho em um ano.

“As pessoas às vezes tem dificuldades, enfrentam problemas familiares, elas estão em momentos mais difíceis. E nós vamos punir justamente quem está enfrentando problemas difíceis como depressão e ansiedade?”, diz.

Werneck revela que atualmente a companhia opera uma central de chamados e atende funcionários e familiares com problemas, sejam eles emocionais, financeiros ou de outro teor.

“Um dos indicadores que temos é o número de ligações que recebemos em um canal que se chama Mais Cuidado. Mais Cuidado é o seguinte, se a pessoa tem um problema que não está diretamente relacionado à medicina tradicional, mas ela precisa de apoio, ela liga para nós, e nós enviamos especialistas para ajudar o colaborador ou a colaboradora – ou até seus familiares – a resolver esse problema. No ano passado recebemos 5 mil ligações. Tanto aqui quanto nos Estados Unidos os campeões de ligações foram problemas de ansiedade e depressão.”

Além disso, Werneck revela que a empresa viu um ‘grande crescimento’ nos últimos anos, especialmente no Brasil, de funcionários com problemas com apostas online.

“As famílias se endividando porque um membro da família está utilizando a renda da família para fazer apostas. No pós pandemia vimos crescimento de uso de remédios controlados, de problemas financeiros”, relata.

“Queremos as pessoas mais felizes e com mais saúde mental, e que possam dedicar melhor o seu tempo à empresa, e ao mesmo tempo que nós como empresa possamos dedicar mais tempo para cuidar delas e das famílias”, completa.

Como o Butão influenciou a Gerdau

Werneck revela que foi estudar com o ex-primeiro-ministro do Butão, Tobgay, e que o conheceu em grupos que tinha com outros executivos.

“Eu participo de muitos grupos junto com outros CEOs, outros líderes, que querem compartilhar aprendizados, problemas, avanços. Num desses conheci o Tshering Tobgay, que foi o primeiro-ministro do Butão quando o Rei pediu para implantar os conceitos de Felicidade Interna Bruta (FIB). Conheci ele num desses eventos e aí então fui atrás. Fiz contato, encontrei o Tshering, fui ao Butão estudar com ele e a equipe dele, conta.

“Eles aprenderam lá que algumas coisas muito simples estão vinculadas à felicidade, por exemplo a qualidade do sono. Dá para trabalharmos na qualidade do sono dos nosso colaboradores? Sim, dá para trabalhar nisso. Coisas como essa que se aplicam a nível de estado também se aplicam a nível de empresa. Aprendemos que quanto maior foi o nível de espiritualidade do time – e não estou falando de religião, mas de espiritualidade – mais felizes e mais produtivas as pessoas são. Quanto mais trabalho voluntário, mais a pessoa é feliz”, completa.

O conceito de Felicidade Interna Bruta (FIB) foi implementado oficialmente no Butão em 1972 pelo então rei Jigme Singye Wangchuck, que governou o país de 1972 até o ano de 2006.

À época, foi decidido que o desenvolvimento do país não deveria ser medido apenas pelo Produto Interno Bruto (PIB), mas sim pela felicidade e bem-estar da população.

O conceito foi estruturado em quatro pilares principais:

  • Desenvolvimento socioeconômico sustentável e equitativo
  • Preservação e promoção da cultura butanesa
  • Conservação do meio ambiente
  • Boa governança

Com o tempo, o FIB foi refinado e passou a ser mensurado através de nove dimensões que avaliam desde o bem-estar psicológico até o uso do tempo e a resiliência da comunidade.

‘Não adotamos políticas de diversidade porque era moda’

Sobre os temas de diversidade e inclusão, o CEO disse que apesar do movimento de empresas voltando atrás no tema, a Gerdau sequer cogita um movimento análogo – nem nos EUA, onde Trump assumiu e impulsionou mudanças nesse sentido.

Werneck defende que as mudanças aplicadas foram bem fundamentadas e causaram melhoras na companhia;

“Esse tema que agora tem talvez uma desaceleração, para nós, sempre fez parte da nossa história. A gente não surfou essa onda de ESG porque todo mundo estava fazendo. Sempre vimos isso como elementos centrais para nossa longevidade”, comenta.

“Às vezes eu descia do escritório para a rua e observava a beleza da demografia brasileira, e olhava para dentro de casa e falava ‘poxa, a gente não representa, aqui no Brasil o que tem na demografia’. Então tem algo errado. Então [entendi] que deveríamos ter no nosso quadro de pessoas uma representação da demografia brasileira, no que tange a mulheres, a gênero, no que tange à raça. As pessoas precisam ter abertura para aprender”, completa.

Sobre os impactos positivos, o executivo conta que a Gerdau segue com os mesmos objetivos, que considera alcançáveis. A empresa, até o fim deste ano, pretende alcançar 30% de mulheres e 30% de pessoas negras em cargos de liderança.

“Nós montamos um plano que vem evoluindo a passos largos. Essas metas públicas que temos divulgado estão sendo atingidas ano após ano, e em uma certeza de que isso faz bem para a empresa. Qualquer indicador da empresa evoluiu quando começamos a colocar os temas de diversidade, equidade e inclusão”, conta.

“Hoje, nas nossas usinas, qualquer atividade que antigamente só o gênero masculino fazia, hoje pode ter mulheres. Um exemplo prático: operação de equipamentos móveis. Você olha o índice de acidentalidade naquelas célular operacionais com mais mulheres, ele é muito mais baixo do que onde se tem um percentual de mulheres menor. Com esses indicadores fomos quebrando os vieses. Nenhuma atividade dessas não pode ser preenchida pelo gênero feminino”, completa o CEO da Gerdau.

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