Ibovespa está mais averso ao risco, afirma operador

Fonte: Divulgação

A volatilidade no cenário internacional, impulsionada por medidas do governo norte-americano, impacta diretamente o comportamento dos investidores, tornando-os mais cautelosos e, muitas vezes, direcionando o capital para ativos considerados mais seguros.

No Brasil, esse movimento se reflete na oscilação do Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores brasileira, que reage às expectativas em torno de inflação, taxa de juros e políticas fiscais.

Como os investidores estão ajustando suas estratégias em meio a um ambiente de crescente incerteza? Em entrevista ao BP Money, Gabriel Redivo, Diretor de Gestão da Aware Investments, reflete sobre o comportamento do índice e como a política econômica dos EUA, apetite ao risco e guerras nublam o cenário, mas com uma solução sólida logo mais.

Confira a entrevista na íntegra:

A incerteza nos EUA leva investidores a buscar empresas americanas ou a investir em empresas brasileiras consolidadas?

Os investidores sim tem sido mais cautelosos. Isso muito até pelo movimento após a posse do presidente Donald Trump em que ele vem impondo algumas tarifas, vem mexendo e movimentando os mercados. 

Todas as políticas que ele pretende de implementar, elas tendem a gerar inflação, então isso fez com que o mercado olhasse com o foco maior para o mercado americano e principalmente para os dados de emprego, desemprego, inflação, e o comportamento da inflação. Tudo isso que já era muito observado por todo o mundo, até porque os EUA são mais do que 40% do PIB mundial. 

 Com as taxações, as possíveis guerras comerciais que isso pode gerar, o mercado tem olhado para os EUA e até sido mais cauteloso, não em investir nos Estados Unidos, mas em ser mais averso a risco.  Mas cada um vai ter um apetite. Uns vão ser mais agressivos, outros mais moderados nos seus investimentos e alguns ultraconservadores ou conservadores. 

Então que vai ditar o nível de apetite é o momento do mercado e como os mercados estão se comportando dentro de uma estratégia location estabelecida para cada cliente. Nesse cenário, a moeda forte mundial é o dólar.  

É possível perceber tendências ideológicas no mercado brasileiro, mesmo com mudanças na gestão fiscal?

Eu não acho que o mercado ele tem uma ideologia, um lado A, um lado B, pelo contrário. Eu entendo que o mercado ele é racional, ele olha números, indicadores.

Então quando eu tenho uma inflação mais forte e uma Selic mais alta, eu vou ter empresas mais alavancadas e se eu tenho empresas mais alavancadas, consequentemente essas empresas elas vão estar mais endividadas, vão prejudicar os seus lucros e aí esse movimento sim impacta diretamente o investidor.

Impactando o investidor, uma inflação mais forte, um nível de desemprego maior, dados de produção industrial, do comércio, o quanto o consumidor está gastando, o quanto que a indústria tá produzindo, todos esses dados econômicos, eles sim fazem preço no mercado. Porque o mercado ele precisa olhar esses indicadores.

Eu não diria que seria uma ideologia, mas sim, como a economia se comporta e os resultados que essa economia vai gerar, para aquela ação específico na bolsa e consequentemente, ela vai performar bem ou mal.

O Ibovespa tem uma tendência clara de reação aos gastos do governo, como vimos nas bolsas europeias com decisões da Alemanha?

O mercado ele entende que o problema não é o gasto em si, mas é o controle dos gastos. Quando uma pessoa física, uma pessoa jurídica, ela ganha e gasta menos do que ganha, ela tem lucro.

Quando ela ganha x e gasta 2x, ela vai ter prejuízo. E se ela tem prejuízo, ela precisa gerar dívida.  Se ela gera dívida, ela desvaloriza a si mesmo. E a lógica é a mesma. O mercado ele analisa o governo e vê se o governo está gastando mais do que gera de receita. Se ele gasta mais do que ele gera de receita, ele vai ter que buscar alternativas.

Fazer dívida e aumentar a dívida pública, se aumenta dívida pública ele vai interferir em outros pontos, em outros indicadores do mercado, um deles, por exemplo, é a desvalorização da moeda frente o dólar. O dólar se valorizando frente o real gera inflação, um dólar forte pressiona os preços e aumenta a inflação. Então, o mercado ele analisa o controle dos gastos.

Bolsas de valores em países desenvolvidos, como EUA e Europa, têm um comportamento de alternância entre alta e queda, parecido com “montanha russa”?

Tem um dia que vai positivo, outro dia negativo. E essa toda essa oscilação que o mercado acionário tem, é porque o mercado de ações ele é um pregão eletrônico. Então eu tenho ali uma força compradora e uma força vendedora, onde qualquer pessoa quando vai comprar um produto, ele vai buscar um desconto.

Então nesse cenário onde eu tenho alguém que quer vender mais caro e alguém que quer comprar mais barato, eu tenho duas forças de negociação, uma lutando contra outra. As empresas elas são avaliadas em tempo real a partir do dos dados que ali existem.

Esse sentimento para um investidor pessoa física que está iniciando no mercado de ações, ele olha essa oscilação, que o mercado financeiro chama de volatilidade e ele acaba até assustando.  Aquele investidor mais inicial que ele acaba comprando na alta e atendendo na baixa, precisa tomar muito cuidado.

O ideal é que o investidor compre empresas sólidas, boas pagadoras de dividendos e que dão lucro. Ele faz uma análise de longo prazo, porque a bolsa vai ter anos que vai performar mal, igual o ano passado. 

Como vai ter anos que ela vai performar muito bem. Mas no longo prazo, ela tem de ser um investimento no longo lucrativo. Você investindo em empresas que tem lucratividade a anos , como o Banco do Brasil, por exemplo, está listado em bolsa e tem mais de 200 anos de existência. É um negócio lucrativo.

Até onde a queda do dólar é propícia para a alta do índice?

Hoje a economia brasileira, na verdade, até a economia mundial, ela é dolarizada. O consumo das empresas brasileiras e os custos delas são em dólar. Quando eu tenho dólar mais forte, eu tenho custos mais altos para produzir. Seja na indústria, custo para importar insumos, custo na commodity em si. Os custos das empresas são dolarizados e dólar alto gera inflação.

E se gera inflação, a inflação faz com que o governo precisa aumentar juros. A política monetária e o Banco Central precisam elevar juros, fazendo com que empresas alavancadas tenham um custo maior para manter a sua alavancagem. Então, o custo do dinheiro fica mais alto. Isso prejudica as despesas financeiras.

A retração econômica dos EUA e o possível fim da guerra na Ucrânia são boas notícias para um comportamento do Ibovespa?

A guerra na Ucrânia gera inflação. Se gera inflação, prejudica as bolsas mundiais, o investidor, acaba buscando alocar em títulos de renda fixo e não na bolsa. Sem dúvida, isso acaba prejudicando. Então, é um ponto sensível em qualquer economia e obviamente o ponto da recessão dos EUA, é o cenário desafiador.

Se ele entrar num processo de recessão, isso pode prejudicar as bolsas e acredito que não seria uma notícia favorável para os mercados. Hoje o mercado precifica um pouso suave em que o Fed vai conseguir controlar a inflação. Os juros americanos vão sendo reduzidos gradativamente e vai existir o que o mercado chama de pouso.

Se entrar em recessão, e houve uma fala recente do presidente Donald Trump, dizendo que existe essa possibilidade, isso não será bom para os mercados mundiais.

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