A água pede água!

Galeria pluvial, é usada para lançar esgoto

Aida Franco de Lima – OPINIÃO

O dia 22 de março é comemorado como o Dia da Água. Muito provável que nas escolas, principalmente nos anos iniciais, o tema tenha sido pautado em sala. Estudantes devem ter desenhado lindos rios com peixinhos felizes ou fontes de água tomadas pelo lixo, sem vegetação, com os peixinhos tendo uma cruzinha nos olhos, que nunca fecham.

Também as prefeituras, os estados, devem ter colocado fotografias fofas dos rios e mensagens otimistas ou “conscientizadoras” em suas redes sociais.

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E no mundo real, tudo vai para o brejo. Ou melhor, ladeira abaixo, porque o brejo também está ameaçado. Aliás, o ser humano tem a capacidade de transformar elementos da natureza em coisas pejorativas. O termo ir para o brejo ou ir para a roça virou sinônimo de coisas ruins, quando nada pode piorar. Sendo que o brejo é um espaço riquíssimo, como se fosse um banco de investimento, para a água. E o que o ser humano faz? Ocupa esse espaço, que não é dele, e o destrói.

Brejo

No Instagram, há uma conta de um influencer que mostra sua rotina com vários filhos. Ele conta com orgulho que pagou uns 40 caminhões de terra para aterrar o brejo que havia no fundo do seu quintal. Ele tem cerca de 1,6 milhão de seguidores, e não vi ninguém comentando que quem estava no lugar errado era a casa, não o brejo.

Em uma universidade do Paraná, uma das áreas de lazer, tomada de árvores e banquinhos que lembravam paisagens bucólicas, foi revitalizada. E revitalização na concepção de gestores público rima com impermeabilização, devastação. Cortaram todas as árvores, e o piso – que era em formato de pequenos paralelepípedos, que auxiliam na absorção de água – deu lugar ao concreto.

Transformaram aquele microclima em uma pequena sauna ao livre. Nos dias de sol, não há uma única folha para fazer sombra, pois a galhada das árvores foi substituída por arbustos “clean”, desses que não sujam muito o ambiente com as folhas que insistem em cair.

Em outra cidade, também do Paraná, o prefeito, que pode representar milhares de outros, insiste na revitalização das praças, enquanto as galerias pluviais estão tomadas de lixo. O problema se repete: arrancam-se gramados, e as áreas drenantes viram espaços sufocantes. E as palmeiras? Ah, as palmeiras-imperiais, veneradas, são plantadas no meio do cenário cinza para dar um ar de elegância e sofisticação.

A empresa que é responsável por cuidar de nossa água potável deu de presente aos moradores de outra cidade no Paraná a semana sem água. E o que vimos foram moradores vestindo nariz de palhaço protestando, enquanto outros abasteciam os baldes em fontes de água, já conhecidas por serem impróprias ao consumo. Para desculpar-se com os moradores, o benefício será um mês sem cobrar tarifa de água. Mas como dizem por aí, não há almoço grátis.

A mesma empresa, lança esgoto diretamente no Rio Fantasminha, em Cianorte. E absolutamente nada, nada acontece. Essa mesma companhia, que cobra altos valores para tratar esgoto e recolher o lixo, também deixa esgoto vazar dentro do Parque Municipal do Cinturão Verde.

E então, como é que autoridades, como é que empresas, querem cobrar da população que ela cuide da água, sendo que não dão o exemplo?

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