Cana: tarifas de Trump devem impactar setor de forma pontual

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Foto: Wenderson Araujo / Arquivo CNA

As tarifas do presidente dos EUA, Donald Trump, podem impactar o setor sucroalcooleiro do Brasil, mas isso deve ocorrer de forma pontual, de acordo com o analista da área de cana-de-açúcar da StoneX Marcelo di Bonifacio Filho.

Segundo ele, pode ocorrer que empresas do país norte-americano optem por cortar o fluxo dos produtos brasileiros, mas também há possibilidade de manutenção dessas compras, uma vez que o etanol do Brasil pontua mais do que o produto dos EUA nos programas de incentivo a biocombustíveis.

O etanol de cana do Brasil mitiga mais a emissão de gases no comparativo com o etanol de milho americano“, ressalta o especialista.

“Além disso, a exportação brasileira é pequena no comparativo com a demanda total, então o setor tem sim válvulas de escape para esse produto que não vai mais aos EUA: o mercado doméstico tende a absorver”, acrescenta.

José Guilherme Nogueira, CEO da Orplana (Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil), destaca que outros países têm dificuldade de competir com o Brasil em preços.

“Entretanto, o que tem que se avaliar é o jogo econômico que o Trump vem realizando, em que não está inserido somente o açúcar, mas todos os produtos de pauta de exportação do Brasil e importação”, lembre o executivo.

Açúcar passa por momento misto em 2025

O açúcar tem estado em momento misto em 2025. O ano de 2024 como um todo foi baixista, refletindo o superávit da safra global 2023/24 (out-set), aliado a ampla oferta de açúcar branco no Hemisfério Norte e recorde nas exportações brasileiras, descreve Bonifacio.

Neste ano, essa tendência continuou até meados de janeiro, quando os preços caíam abaixo dos 17 centavos de dólar para alguns contratos com vencimento em 2025, mas o crescente pessimismo na safra da Índia trouxe os preços de volta para um patamar que próximo dos 18,50 centavos de dólar por libra-peso.

Para o país asiático, a StoneX estima uma produção em forte queda de 17%, para 26,5 milhões de toneladas, a pior safra desde 2019/20.

Atualmente, o cenário de oferta e demanda para o açúcar está apertado e os preços devem ficar estáveis nos altos patamares atuais pelos próximos dois ou três meses, até que a safra brasileira inicie, em abril, e ganhe tração, explica Carlos Murilo de Mello, chefe da mesa de Açúcar para as Américas da Hedgepoint Global Markets.

“Contudo, uma vez iniciada a safra brasileira, acreditamos que os preços devam baixar, visto que teremos uma vigorosa produção de açúcar no Brasil e a criação de um excedente de produção considerável”, comenta.

O otimismo ocorre mesmo com o alerta de agentes do mercado sobre um clima mais seco neste primeiro trimestre de 2025 para o Centro-Sul.

Nas estimativas da StoneX, a produção de açúcar na safra 2025/26 deve ser de 41,7 milhões de t, “porque o mix de açúcar tem potencial para crescer para 51% – ao passo que o açúcar paga bem mais que o etanol há bastante tempo, e os preços em reais para exportação propiciam margens boas às usinas”, destaca Bonifacio.

Segundo o especialista, os principais desafios do setor sucroenergético estão mais voltados ao etanol, “que ainda vem pagando menos que o açúcar e sempre fica sujeito a decisões no campo político”, aponta.

Nesse sentido, as sinalizações do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, de que o governo deve aumentar o percentual de etanol na gasolina de 27% para 30%, animam o mercado. Porém, Bonifacio destaca que ainda existe dúvida de quando deve vir esse aumento, que pode já acontecer entre junho e julho.

“Mas é importante uma comunicação bem clara para as usinas preparem seus contratos e fornecimento do álcool. Ainda há essa distância expressiva entre a remuneração do açúcar e do etanol, então por exemplo destilarias (que não possuem fábrica de açúcar) tem tido menores ganhos nos últimos 2-3 anos. Porém, já vemos preços de etanol bem melhores no comparativo com 2023, por exemplo, e 2025 deve ser, na média, melhor que 2024”, avalia o analista da StoneX.

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