Putin e Trump selam cessar-fogo parcial de 30 dias na Ucrânia

Rússia aceita suspender ataques à infraestrutura ucraniana, mas faz diversas exigências para impedir Kiev de se rearmar e aderir à Otan. Se implementado, acordo marcará primeira desescalada em mais de 3 anos de guerra.O presidente russo, Vladimir Putin, afirma ter ordenado a suspensão temporária dos ataques à infraestrutura de energia ucraniana após um telefonema nesta terça-feira (18/03) com seu homólogo americano, Donald Trump.

A informação foi divulgada pela Casa Branca e confirmada pelo Kremlin. Trump propôs uma suspensão de 30 dias nos ataques a alvos de energia e Putin “respondeu positivamente e deu imediatamente ao Exército um comando correspondente”, afirmou o governo russo, em nota.

O resultado do telefonema entre os dois, porém, ficou aquém das expectativas, já que Putin não concordou com a proposta americana de um cessar-fogo abrangente, que suspenderia qualquer ataque aéreo ou marítimo por 30 dias e já havia sido aceita pela Ucrânia.

Ainda assim, se for implementado, o acordo desta terça-feira representaria a primeira desescalada real na guerra que já dura mais de três anos.

Rússia impõe condições

Em contrapartida, Putin exigiu garantias de que a Ucrânia não utilize a trégua para se rearmar ou para recrutar novos soldados.

“O lado russo delineou uma série de pontos significativos relacionados a garantir o controle efetivo sobre um possível cessar-fogo ao longo de toda a linha de combate, a necessidade de cessar a mobilização forçada na Ucrânia e o rearmamento das Forças Armadas ucranianas”, disse o Kremlin.

O presidente russo também exigiu que a Ucrânia renuncie à ambição de aderir à Otan e reduza drasticamente seu Exército. Quer ainda proteger o idioma e a cultura russas para manter o país na órbita de Moscou, e manter o controle sobre a totalidade das quatro regiões ucranianas que reivindicou no leste do país.

Putin também deixou claro que quer que as sanções ocidentais contra a Rússia sejam aliviadas e que uma eleição presidencial seja realizada na Ucrânia, o que Kiev diz ser prematuro enquanto a lei marcial ainda estiver em vigor. Insistiu ainda na suspensão da ajuda estrangeira militar e de inteligência à Ucrânia.

A Rússia realizou inúmeros ataques contra instalações de energia e à rede elétrica da Ucrânia, aos quais Kiev respondeu com ataques a refinarias e depósitos de combustível.

A reação da Ucrânia

O presidente ucraniano Volodimir Zelenski afirmou concordar com um cessar-fogo nos ataques à infraestrutura, mas disse que as exigências de Putin demonstravam que ele não está seriamente interessado na paz e quer enfraquecer a Ucrânia.

Zelenski disse esperar poder conversar com Trump e “saber em detalhes o que os russos ofereceram aos americanos, ou o que os americanos ofereceram aos russos”.

Ainda não está claro se os EUA terão alguma contrapartida pelo cessar-fogo parcial. Antes da ligação, o americano disse que esperava discutir com Putin a questão das terras raras e das usinas de energia ucraniana que estão sob controle da Rússia.

Plano de cessar-fogo escalonado

A Casa Branca descreveu o anúncio desta terça-feira (18/03) como o primeiro passo em um “movimento para a paz” que espera que venha eventualmente a incluir um cessar-fogo marítimo no Mar Negro e um fim total e duradouro do conflito.

Segundo Washington, as negociações sobre essas etapas começariam imediatamente, mas não ficou claro se Kiev seria envolvida.

A longa conversa telefônica entre Trump e Putin desta terça ocorreu em meio à pressão da Casa Branca pelo fim definitivo da invasão russa da Ucrânia.

Putin recebeu 1ª proposta de cessar-fogo com reservas

As autoridades ucranianas concordaram na semana passada com a proposta americana de um cessar-fogo amplo e incondicional de 30 dias, durante conversas na Arábia Saudita lideradas pelo secretário de Estado americano, Marco Rubio. O presidente ucraniano, no entanto, se mantém cético quanto à disposição de Putin para a paz enquanto as forças russas mantêm os bombardeios na Ucrânia.

Antes do telefonema entre os dois líderes, o enviado especial da Casa Branca Steve Witkoff se reuniu na semana passada com Putin em Moscou para discutir a proposta.

Putin disse que concordava, em princípio, mas enfatizou que a Rússia buscaria garantias de que a Ucrânia não usaria uma pausa no conflito para se rearmar e reforçar suas tropas.

rc/ra (Reuters, AP, AFP)

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