O que é dito pelo silêncio: ‘IMO’ tem pré-estreia em Juiz de Fora

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‘IMO’ tem pré-estreia nesta segunda-feira, no Cine Alameda (Foto: Divulgação)

Por meio do silêncio, muito é dito. Mais que dito, muito é imaginado. No filme “IMO”, dirigido pela mineira Bruna Schelb Corrêa, que chega aos cinemas na próxima quinta-feira (20), com uma remasterização completa, uma narrativa fantástica e surreal acompanha três mulheres revisitando suas histórias por meio de ações do cotidiano. A pré-estreia acontece em Juiz de Fora, no Cine Alameda, nesta segunda-feira (17), às 19h, com entrada gratuita. Na data de estreia, acontece em Belo Horizonte, no Una Cine Belas Artes (Rua Gonçalves Dias 1581 – Lourdes), às 20h30, uma sessão com debate, contando com a participação da diretora e Luis Bocchino. A distribuição do longa é da Descoloniza Filmes com apoio da Lei Paulo Gustavo de Minas Gerais.

Assista ao trailer de ‘IMO’



A história até ‘IMO’

“IMO” começou a surgir em 2017, enquanto Bruna ainda era graduanda de Cinema na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Em um misto de empolgação e “uma certa ingenuidade” – como diz a diretora -, a produção foi iniciada: uma equipe foi reunida, fundos foram angariados para as diárias e demais percalços do audiovisual foram sendo superados com diversas contribuições e intenso trabalho. “O primeiro e único instinto era o de fazer”, afirma Bruna.

Além dessa vontade, “IMO” encontrou muito apoio para ser realizado. Equipe e amigos estavam alinhados em fazer acontecer, os equipamentos foram emprestados pela faculdade, enquanto a locação, a Fazenda da Rosa, em Matias Barbosa, se transformou em residência provisória durante os dias de gravação. Entretanto, o empurrão final para o filme veio de quem acompanhou desde menina os passos de Bruna, sua avó. Após ouvir a proposta da neta, ela deu uma parte para completar o que precisava. “E, na verdade, o que mais importa nisso tudo foi que ela acreditou em mim.” 

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Equipe do filme ‘IMO’ (Foto: Divulgação)

E ela completa: “Passados já oito anos ainda me emociono falando disso porque ela foi parte integral na minha criação enquanto pessoa e enquanto mulher. E é engraçado porque passaram oito anos que eu fiz o filme e também me emociono com ele ainda. Acho que ali foi um momento muito importante da minha vida nessa formação enquanto pessoa e enquanto mulher, que é contínua”.

Devido a um AVC, cinco dias antes do filme estrear na Mostra Aurora do Festival de Cinema de Tiradentes, em 2018, a avó de Bruna faleceu sem ter assistido ao resultado final do longa. “IMO” é dedicado a ela e sua memória, mas também dialoga e homenageia outras mulheres importantes na vida da diretora. 

“Eu escrevi esse roteiro para falar com a minha mãe, minhas duas avós e com as minhas três irmãs que são todas mais novas que eu. De alguma maneira, eu queria que o filme fosse como um presente pra elas. Como se eu quisesse falar, principalmente para as minhas irmãs, com uma vida toda pela frente, que é possível e imperativo reagir ao que nos faz desconfortáveis, oprimidas e tristes. Que tem coisa que dói, mas que é encarando essas dores que a gente segue em frente para reagir mais um dia. E que sempre ia ter alguém para reagir junto com elas.”

Interpretações da realidade

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Filme é alegoria onírica (Foto: Divulgação)

A obra é inteiramente sem diálogos. Por meio de uma questão social realista – a violência e opressão de mulheres -, uma alegoria vai sendo construída com elementos surreais e oníricos. Neste espaço do sonho, as sensações experimentadas são outras, permitindo ao público se reconhecer ou se afastar em seu entendimento dos possíveis significados do que está sendo mostrado. Essa não convencionalidade presente em “IMO”, de acordo com Bruna, permite, além de explorar “outras imagens”, “que outras interpretações da realidade sejam possíveis.”

A diretora acrescenta que são diversos os filmes que representam o sofrimento feminino, com mortes e agressões. “Enquanto isso ainda acontece no mundo, eu acho que deve existir uma proposta diferente para mostrar aquilo que é verdade sem criar e repetir mais imagens de mulheres sofrendo. Isso a gente já viu muito. Ir para esse lugar do absurdo, do onírico, do surreal permite que outras imagens sejam exploradas. A mulher mulher não perde, não cede. Esta história já nos foi contada mais vezes do que o suficiente. As mãos das mulheres, aqui, são mãos que agem de forma autônoma, realizando ações para si mesmas, desde as cenas de abertura, e em todas que atravessam todo o filme. As masculinas, por sua vez, incomodam ou padecem.”

E isso está na atuação das três atrizes: Giovanna Tintori, MC Xuxu e Helena Frade. Durante as gravações, muito da trajetória individual de cada uma surge para interpretar suas personagens. Após lerem o roteiro, segundo Bruna, as atrizes a escolheram tanto quanto ela as escolheu. “Sei que todas nós temos momentos parecidos com os do filme. Todas nós já ficamos sentadas lembrando de algo que aconteceu, revisitando as galerias das nossas memórias e imaginando outros desdobramentos para as nossas realidades.”

Bruna ressalta ainda que, após a exibição do filme, “acontecia uma coisa muito mágica”: várias mulheres vinham lhe abraçar, se dizendo emocionadas e tocadas. “Ouvi coisas lindas e percebi como o retrato do cotidiano da mulher quando sozinha, com suas memórias, pode ser algo muito universal. Talvez uma coisa que o filme faça é trazer à tona o fato de que apesar de diferentes, temos muito em comum enquanto mulheres.”

Pré-estreia

A estreia no Cine Alameda, para Bruna e boa parte da equipe, será simbólica. Foram muitos os filmes vistos naquelas salas de cinema. “Agora passar um que eu fiz é muito emocionante”, conta. Com a remasterização da obra, com um novo tratamento em cor e áudio, diversos aspectos do filme foram valorizados para uma melhor experiência do espectador.

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*Estagiário sob supervisão da editora Cecília Itaborahy

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