‘Emilia Pérez’: Karla Sofía Gascón revela que pensou “o impensável” após polêmicas

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Após a cerimônia do Oscar 2024, a atriz Karla Sofía Gascón, estrela de ‘Emilia Pérez’, se pronunciou sobre o período conturbado que enfrentou devido à repercussão de tweets preconceituosos de anos anteriores.

Em entrevista ao The Hollywood Reporter, Gascón afirmou ter gostado da cerimônia, mas lamentou não ter vivenciado o momento “de forma mais normal”.

“Honestamente, achei muito divertida”, disse a atriz. “Eu teria gostado de vivenciar de forma mais normal, da felicidade de ser indicada, de celebrar, como estou agora, cheia de amor, uma pessoa que coloca sua alma e seu ser no seu trabalho e que se dedica aos outros”.

Gascón reforçou seu pedido de desculpas “a todos que ofendi em algum momento da minha vida e ao longo da minha jornada”, pedindo “perdão” e comprometendo-se a “continuar aprendendo e ouvindo para não cometer os mesmos erros no futuro”.

Ela justificou as “coisas dolorosas” que disse e fez como fruto “do medo, da minha própria ignorância, da minha própria dor”.

A atriz também abordou a polêmica em torno de seus tweets, alguns dos quais ela alega terem sido mal interpretados e fabricados.

“Nesse último episódio, o mais comentado e exposto da minha vida, várias contas falsas foram criadas em meu nome para aumentar a dor e a confusão”, disse Gascón. “Acusações absurdas e até delirantes foram feitas contra mim, o que feriu profundamente o meu espírito. As coisas escalaram a um ponto, e tão rapidamente, que eu nem conseguia respirar”.

Gascón revelou que, durante a controvérsia, chegou a contemplar “o impensável”.

“Houve momentos em que a dor foi tão avassaladora que contemplei o impensável”, confessou. “Tive pensamentos mais sombrios do que aqueles que considerei em algumas das minhas lutas anteriores, não menos íntimas e pessoais”.

A atriz compartilhou o que aprendeu com a experiência.

“Aprendi que o ódio, como o fogo, não pode ser apagado com mais ódio”, afirmou. “Ofensas não podem ser apagadas com mais ofensas, e erros não podem limpar outros erros, especialmente quando mentiras e falsidade proliferam por todo lado e tudo o que me mandam de volta é puro ódio, bullying descarado, vexação, desprezo e até ameaças de morte”.

Gascón também relembrou seus anos de luta por visibilidade para a comunidade trans. “Tenho defendido e refletido a vida de uma mulher trans presa no pior lugar possível: o corpo de um criminoso imerso em um patriarcado extremo”, disse a atriz.

Ela concluiu reafirmando seu compromisso com a defesa dos direitos dos mais desfavorecidos.

“Você sempre me encontrará no lado oposto do fanatismo, imposição, patriarcado, fascismo, ditaduras, terror, abuso e irracionalidade”, afirmou. “Não me prendo a nenhuma bandeira política; só tento ser um ser humano em constante evolução, com sucessos e falhas, mas com uma vontade inquebrável de aprender, ouvir, admitir erros, pedir desculpas e perdoar aos outros, assim como me perdoo pela dor desnecessária que causei”.

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Entenda a polêmica

A atriz Karla Sofía Gascón, estrela de ‘Emilia Pérez’, se emocionou durante uma entrevista recente, onde chorou e desabafou sobre as críticas que recebeu após a internet resgatar tweets polêmicos nos quais ela fazia comentários racistas, ofensas ao Islã, a George Floyd, entre outros.

De acordo com o Deadline, durante a conversa com Juan Carlos Arciniegas, da CNN Espanha, Gascón reafirmou que “não é racista” e pediu desculpas sinceras a todas as pessoas que possam ter se sentido ofendidas pela forma como se expressou no passado, no presente e no futuro.

Ela acrescentou: “Acredito que fui julgada, condenada, sacrificada, crucificada e apedrejada sem julgamento e sem a opção de me defender”.

Gascón também falou sobre sua “maravilhosa filha”, que, segundo ela, a ensinou “valores importantes”.

A atriz compartilhou que se identifica com as lutas das pessoas negras.

“Eu me sinto e me identifico muito com as pessoas que foram expulsas dos ônibus pela cor da pele, com aquelas que não podiam estudar na universidade, com as que eram odiadas simplesmente por existirem, assim como sou odiada neste momento”, disse, emocionada.

Em outro momento, Gascón se emocionou ainda mais ao falar sobre um “relacionamento com uma mulher maravilhosa que é muçulmana” e que a ensinou sobre respeito. Ela afirmou que essa pessoa tem sido seu apoio “100%” neste momento.

A atriz também relembrou o trágico falecimento de seu irmão, quando ela tinha 20 anos: “Quando eu era muito pequena, meu irmão morreu em um acidente de Natal, e sempre senti um ressentimento em relação aos seres humanos de todos os espectros, porque me parece que os seres humanos são algo deplorável, mas também algo no qual tenho uma esperança incrível”.

Ela também revelou que sempre enfrentou ódio por ser trans e, certa vez, foi atacada no México por ser espanhola, com pessoas a chamando de “mulher espanhola que veio de novo roubar o ouro deles”.

Entre lágrimas, ela disse: “Eu não parei de receber ódio, ameaças de morte, insultos, abusos. Eu não vi ninguém sair em qualquer mídia, em qualquer espaço, em qualquer lugar, levantando a mão por mim e dizendo: ‘Ei, o que está acontecendo com essa pessoa que vocês estão massacrando?’ E ninguém, ninguém levantou um dedo por mudança”.

Quando questionada sobre um tweet polêmico no qual chamou George Floyd, assassinado por policiais em 2020, de “viciado em drogas e um vigarista”, Gascón confirmou que escreveu o post e afirmou que, na época, via as redes sociais “infelizmente mais como um diário”, cheio de “reflexões” em vez de algo que pudesse influenciar os outros.

Ela ainda acrescentou que o tweet foi escrito em tom de “ironia, sarcasmo e, às vezes, exagero”, e usou um recurso de “falar em terceira pessoa” para expressar algo negativo.

Gascón enfatizou que, “obviamente”, é uma apoiadora do movimento Black Lives Matter e que escreveu o tweet para apontar os comentários racistas de outros.

A atriz também reconheceu que seu tweet sobre o Oscar de 2021, onde chamou as vitórias de Daniel Kaluuya e Yuh-Jung Youn de “festival afro-coreano”, foi “estupidez” e afirmou que “certamente eles mereceram esses prêmios por todo o trabalho deles, e não pelo que são”.

Sobre um outro tweet, onde comparou a guerra contra Hitler à forma como a representação de negros e mulheres é abordada, Gascón explicou que usava a “terceira pessoa” para se referir a uma visão extremista, como se fosse uma nazista.

Ela acrescentou que, com seus tweets sobre Floyd, muçulmanos e Hitler, “parece que essa é uma pessoa terrível e má, quando precisamente estou tentando refletir o oposto”.

Gascón também desmentiu um tweet que circulou, no qual ela parecia chamar sua colega de elenco Selena Gomez de “rata rica”.

Ela afirmou que a acusação era falsa e que nunca havia feito tal comentário. “Eu disse: ‘Bem, o que fiz na minha vida? O que fiz — se não matei uma mosca, que, quando vou a lugares e vejo uma aranha em minha casa, eu coloco em um copo para não matá-la e a levo para a rua?’”, disse entre lágrimas, expressando que a resposta à controvérsia a fez sentir como se tivesse cometido um “crime.”

Gascón acrescentou que não tem “nada a esconder” e que sua “consciência está limpa”.

“Se o mundo inteiro acha que sou uma pessoa tão má que tenho que voltar para minha casa, então vou para casa com minha família, meus gatos e as pessoas que me amam, e vou continuar minha vida como sempre fiz. Nunca me faltou um prato de sopa porque fiz as coisas de maneira honesta, sem machucar ninguém neste mundo”, afirmou.

Quando perguntada se acredita que o “orgulho” teve algum papel em tudo isso, Gascón respondeu:

“Quando você vem de um lugar onde tem que se defender constantemente… é realmente feio se acostumar a receber violência, e a ser capaz de lutar e viver em um mundo onde você é ameaçado de morte constantemente, às vezes você tem que se elevar acima disso para que não te afundem. Porque se eu fosse um tipo diferente de pessoa, talvez, que tivesse deixado isso passar e não tivesse essa capacidade, com certeza já teria tirado minha vida diante de tudo o que aconteceu comigo”, afirmou.

Gascón concluiu a entrevista pedindo desculpas à sua filha por ela ter que lidar com a controvérsia em vez de celebrar, e acrescentou que está ciente de que suas palavras “vão ser distorcidas para o que [os outros] gostam ou desejam”.

“Isso é óbvio, e eles vão tirar as conclusões que cada um quiser tirar, mas como eu te disse antes, sou responsável apenas pelo que meu coração sente”, concluiu.

“Em Emília Perez, ambientado no México, acompanhamos a história de Rita (interpretada por Zoe Saldana), uma advogada excepcional cujo talento é subutilizado em uma firma de baixa qualidade. Em vez de buscar a justiça, a firma encobre crimes. Um dia, surge uma proposta irrecusável para Rita: ajudar Juan Del Monte, o temido chefe do cartel, a se aposentar de seu negócio e desaparecer para sempre”.

O filme é dirigido por Jacques Audiard (‘O Profeta’), que também assina o roteiro.

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