Importação de armas sobe 155% na Europa, aponta relatório

Volume global de vendas segue estável, mas lista de principais países compradores mudou drasticamente. Além da Ucrânia, que encabeça ranking, destaque vai para as regiões do Golfo e da Ásia.À primeira vista, a principal frase do mais recente relatório do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (Sipri, na sigla em inglês) pode surpreender: as exportações globais de armas estão, em média, estagnadas e praticamente não mudaram no período de 2010 a 2019. Mas uma análise individual dos países aponta para dramáticas mudanças geopolíticas.

Entre 2020 e 2024, a Ucrânia aparece como o maior destinatário de armas pesadas em todo o mundo – praticamente 9% de todas as exportações globais foram parar em território ucraniano. O país atacado pela Rússia aumentou as importações de armamentos em quase 100 vezes na comparação com o período anterior, de 2015 a 2019.

Agressão russa e incerteza

No mesmo período, as importações de armas de outros países europeus aumentaram 155%, o que também é uma consequência direta da agressão russa, que começou em 24 de fevereiro de 2022. Outro fator que contribui para isso, conforme os pesquisadores suecos, é a incerteza em relação à política externa dos EUA.

Mathew George, um dos autores do estudo, afirma que “os novos números de repasses de armas refletem o rearmamento que começou nos países europeus em resposta à ameaça russa”. “Por outro lado, alguns dos principais importadores de armas do mundo, como a Arábia Saudita, a China e a Índia, apresentaram reduções, apesar do aumento da percepção de ameaça em suas regiões”, observa.

EUA são o maior apoiador da Ucrânia até agora

De acordo com o relatório, 35 países participaram de repasses de armas para a Ucrânia. Entre 2020 e 2024, o país recebeu 8,8% de todas as importações globais. Os EUA foram responsáveis por 45% de todas as entregas, seguidos pela Alemanha, com 12%, e pela Polônia, com 11%.

Os números dão uma ideia da dimensão de uma hipotética reviravolta, caso os EUA, agora sob comando de Donald Trump, de fato se retirarem completamente do apoio militar à Ucrânia – o único país europeu entre os 10 principais importadores de armas do mundo no período entre 2020 e 2024, ainda que outras nações europeias também tenham aumentado significativamente seus pedidos e entregas de armas.

Abastecimento da Europa

Pieter Wezeman, pesquisador do instituto, diz que “depois que a Rússia se tornou cada vez mais beligerante e as relações transatlânticas ficaram sob tensão durante o primeiro mandato de Trump nos EUA (2017-2021), os países europeus da Otan começaram a reduzir sua dependência das importações e a fortalecer os próprios arsenais”.

Na última semana, após uma rusga sem precedentes com o presidente ucraniano Volodimir Zelenski, Trump suspendeu o apoio militar à Ucrânia.

Mas, segundo Wezeman, a estreita cooperação entre a Europa e os EUA no fornecimento de armas tem raízes profundas, e as exportações americanas, especialmente para os parceiros europeus da Otan, seguem crescendo.

Rússia em queda nas exportações

Os EUA continuam sendo o maior exportador: 43% de todas as armas do mundo vêm de fornecedores americanos, que repassaram armamentos a um total de 107 países entre 2020 e 2024.

“Em termos de exportação de armas, os EUA estão em uma posição única: sua participação nas exportações é mais de quatro vezes maior do que a do segundo colocado, a França”, afirma Mathew George.

A Rússia, por outro lado, exportou 63% menos armas entre 2015 e 2024, e nos anos de 2021 e 2022 o volume total exportado foi o mais baixo das últimas duas décadas. Não é para menos, já que, aparentemente, o país já estava se armando para a invasão da Ucrânia e, com isso, vendia cada vez menos armas para outros países. A maioria das entregas russas vai para China e Índia.

“A guerra contra a Ucrânia acelerou a queda nas exportações de armas russas mais uma vez, porque agora eram necessárias mais armas nos campos de batalha. E as sanções tornaram mais difícil para os russos produzirem e venderem armas”, argumenta Wezeman.

Pouco falados, mas importantes: países do Golfo e Ásia

Quatro dos 10 países que mais receberam armas entre 2020 e 2024 são da região do Golfo: Catar e Arábia Saudita (ambos empatados no terceiro lugar), Egito (7º) e Kuwait (9º). Outros quatro estão na Ásia e na Oceania: Índia (2º), Paquistão (4º), Japão (5º) e Austrália (7º).

Siemon Wezeman, que também trabalha para o Sipri, está surpreso com o fato de isso ser tão pouco observado: “Embora as remessas de armas para a Europa e Oriente Médio continuem a receber maior atenção da mídia, a Ásia e a Oceania seguem como a maior região em termos de importação de armas”.

Apesar da guerra na Faixa de Gaza, que começou em outubro de 2023, não houve praticamente nenhuma mudança nas importações de armas por Israel entre 2015 e 2024. Para suas operações militares no conflito, os israelenses usaram principalmente armas que já haviam sido fornecidas, principalmente pelos EUA, de acordo com o relatório.

Estagnação com mudanças

Em suma, o comércio global de armas está estagnado em termos gerais de volume, mas as mudanças entre os países que recebem as armas são profundas.

Além disso, outros movimentos surgem em ritmo acelerado: a Alemanha, por exemplo, planeja investir somas astronômicas na Bundeswehr, as Forças Armadas Alemãs, e em mais apoio à Ucrânia nos próximos anos, com especialistas prevendo um valor de cerca de 400 bilhões de euros.

Todos esses desenvolvimentos estão aumentando os lucros dos fabricantes globais de armas: conforme relatado pelo Sipri em dezembro de 2024, o faturamento das cem maiores indústrias de armamentos do mundo aumentou 4,2%, chegando a cerca de 632 bilhões de dólares somente em 2023.

Um instituto pela paz

O Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (Sipri) é considerado uma das fontes mais respeitadas sobre dados referentes à produção e à exportação de armas. Durante anos, os relatórios dos cerca de 60 pesquisadores formaram a base das negociações de desarmamento entre vários países.

A organização, que também recebe financiamento estatal, foi fundada em 1966, um projeto do então primeiro-ministro sueco, Tage Erlander. A proposta de criação do centro de pesquisa em 1964 ocorreu, na época, em agradecimento ao período de 150 anos de paz no país escandinavo.

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