Guerra tarifária prejudica principalmente os EUA e Trump pode reverter medidas

O acirramento de uma guerra tarifária promovida por Trump terá impacto sobretudo para os próprios estadunidenses e poderá isolar o país, analisam economistas ouvidos pela IstoÉ Dinheiro. Ao mesmo tempo, os especialistas consideram que as medidas podem servir apenas como “arma de negociação” e em breve podem ser revogadas.

+As tarifas de importação de Trump são legais?

+Entenda medidas de retaliação da China contra aumento de tarifas anunciado por Trump

“Ele coloca muita força, é a estratégia de negociação dele”, explica Carla Beni, professora da FGV (Fundação Getúlio Vargas) e conselheira do Corecon-SP (Conselho Regional de Economia de São Paulo). Ela lembra que, durante seu primeiro mandato, frequentemente Trump adotou a estratégia de implementar medidas estapafúrdias para conseguir abrir canais de negociação. “Em 2018, ele sobretaxou o aço e durou um ano”, recorda.

“O problema é que ele é um cara imprevisível, então todo mundo fica com medo”, afirma o economista da Corano Capital, Bruno Corano, que também recorda como quase todas as imposições polêmicas feitas por Trump em seu primeiro mandato foram revogadas pouco depois. “A gente não pode então assumir isso como um padrão. Daí vem o aumento desse desconforto.”

Na tarde desta terça-feira, 4, os principais indicadores da bolsa de valores de Nova York operam em queda. Por volta das 15h (horário de Brasília), o S&P 500 recuava 1% e a Nasdaq, 0,76%.

Quem paga guerra tarifária são os EUA

Outro ponto destacado pelos especialistas é de que os Estados Unidos e seus cidadãos serão os mais impactados por um acirramento da guerra tarifária. “Quem vai pagar esses impostos são os próprios americanos”, resume Corano.

“Os Estados Unidos com essa política tá dando um tiro no pé”, afirma o professor da UnB (Universidade de Brasília) José Luis Oreiro, que lembra como muitos componentes usados na indústria dos EUA vêm dos países agora taxados por ele. “Isso vai levar na verdade a uma perda de competitividade da economia norte-americana”, diz.

Os especialistas concordam que as medidas podem levar a uma reorganização das cadeias globais de produção e distribuição, e que outros países, inclusive o Brasil, podem tirar benefícios deste cenário. “A gente tem tanto um problema como uma oportunidade”, resume Corano.

Esta reorganização poderia acontecer de forma rápida, ao longo dos próximos meses. Neste tempo, no entanto, poderia ainda assim haver uma alta da inflação e uma contração da economia mundial, analisa Oureiro. “No curto prazo vai ser muito ruim”, diz. “Depois, o fluxo de comércio e os investimentos vão ser redirecionados.”

Saber quais itens e setores brasileiros poderiam ser beneficiados exigiria uma análise mais minuciosa. Mas a consultoria Cogo Inteligência aponta que a soja pode ser uma das primeiras, com um crescimento das importações para a China em substituição da soja estadunidense.

Entenda a guerra tarifária

Donald Trump confirmou que entram em vigor a partir desta terça-feira, 4, tarifas de 25% sobre os produtos canadenses e mexicanos. além de uma ampliação dos tributos sobre importações provindas da China. Em resposta, China e Canadá aumentaram impostos sobre os Estados Unidos e o México sinalizou que fará o mesmo.

A China anunciou tarifas adicionais de 10% e 15% sobre várias importações alimentícias dos EUA, como soja, trigo e frango, em resposta às novas sanções impostas por Washington sobre produtos chineses. Além disso, tarifas extras de 10% serão aplicadas sobre o sorgo, soja, carne suína, carne bovina, produtos aquáticos, frutas, vegetais e laticínios. O país também suspendeu as licenças de importação de soja de três empresas norte-americanas.

Já o Canadá está impondo tarifas de 25% sobre importações norte-americanas no valor de 30 bilhões de dólares canadenses com efeito imediato, disse o primeiro-ministro Justin Trudeau a repórteres na terça-feira. Segundo Trudeau, caso as tarifas dos EUA permaneçam, a quantidade de produtos estadunidenses taxados no país crescerá dos US$ 3o milhões anunciados hoje para R$ 125 bilhões daqui a 21 dias.

O post Guerra tarifária prejudica principalmente os EUA e Trump pode reverter medidas apareceu primeiro em ISTOÉ DINHEIRO.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.