Crise da Bombril: veja as razões listadas pela empresa ao pedir recuperação judicial

Apesar de já ter dominado seu mercado e estar presente em vários lares brasileiros, a Bombril teve sua crise agravada e pediu recuperação judicial nesta semana.

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Em documento judicial obtido pelo site IstoÉ Dinheiro, a E.Munhoz Advogados, que assessora a Bombril, aponta que o principal motivo para a crise ‘uma estrutura de capital inadequada e uma capacidade operacional limitada’.

Esses problemas estariam atrelados às operações praticadas pela Cragnotti & Partners – veículo do empresário italiano Sérgio Cragnotti que assumiu a operação do Grupo Bombril no início da década de 2000, após o falecimento do fundador, Roberto Ferreira.

 

Os três filhos do empresário herdaram o negócio e realizaram a venda de suas participações para a Cragnotti & Partners, que até então não possuía qualquer relação com o fundador ou com os anteriores acionistas e administradores da empresa.

No documento da E.Munhoz Advogados, a empresa acusa os novo administradores de ‘contrariar as boas práticas empresariais que vinham sendo implementadas desde a fundação’.

Segundo a empresa, os novos administradores ‘incorreram em diversos atos de má gestão’, incluindo transações financeiras no exterior, como a aquisição de títulos de dívida norte-americanos (T-Bills e T-Bonds) e argentinos (Argentine Global Bonds) transferidos a título de mútuo para a Bombril.

“Tais operações resultaram em autuações bilionárias da Receita Federal, que, mesmo após décadas marcadas por disputas administrativas e judiciais, continuam a impactar severamente a estrutura de capital do Grupo Bombril”, diz o documento.

Nesse sentido, a defesa da Bombril cita três motivos principais para a crise da empresa.

  • Bloqueios na Justiça
  • Pressão no Caixa
  • Incertezas sobre o futuro dos negócios

No primeiro ponto, a defesa alega que as fábricas da empresa em São Bernardo do Campo (SP), Sete Lagoas (MG) e Abreu e Lima (PE), junto com suas máquinas, estão sendo usadas como garantia em processos judiciais e administrativos.

Isso impede que esses bens sejam usados como garantia para novos financiamentos e dificulta investimentos para manutenção e modernização da operação.

Sobre a pressão no caixa, a companhia aponta que ‘já enfrenta dificuldades financeiras’ e precisa reservar parte de seu faturamento (mais de 0,5% da receita operacional líquida) para cumprir decisões judiciais.

Esse dinheiro, que vai para depósitos judiciais, reduz a verba disponível para manter as operações e expandir o negócio.

Sobre o último ponto, a defesa detalha que a companhia herdou problemas financeiros da antiga gestão, que pioraram com o aumento das dívidas.

O balanço financeiro mais recente (dezembro de 2023) aponta um sério risco sobre a capacidade da empresa de continuar funcionando, já que possui dívidas que precisam ser renegociadas para alinhar os pagamentos à sua geração de caixa.

De quanto é a dívida da empresa

Conforme fato relevante, as dívidas e passivos somam cerca de R$ 2,3 bilhões em um total agregado – cuja maior parte são de dívidas tributárias.

“Conforme detalhado nas Demonstrações Financeiras, no Formulário de Referência e em informações periódicas e eventuais prestadas pela Companhia ao mercado, a Bombril possui contingências tributárias relevantes, especialmente as relacionadas a autuações da Receita Federal por suposta falta de recolhimento de tributos incidentes em operações de aquisição de títulos de dívida estrangeiros (T-Bills), realizadas no período entre 1998 e 2001 pela Companhia e por veículo do grupo empresarial italiano Cragnotti & Partners, que era controlador da Bombril naquela época”, diz o documento oficial da empresa.

O documento ainda diz que a diretoria considera que o atual risco de perda nos Processos Judiciais representa ‘ameaça aos bons resultados contábeis que vêm sendo obtidos pela Bombril’, expondo a Companhia a riscos considerados elevados.

Bombril ficou anos em gestão judicial

O conflito entre os herdeiros e o veículo de investimentos italiano não parou por aí.

Em meados de 2002, Ronaldo Sampaio Ferreira – um dos três herdeiros da Bombril – acusou o veículo de investimento italiano de não realizar o pagamento de aquisição de ações da empresa e ajuizou execução perante a 10ª Vara Cível de São Paulo, para satisfação desse crédito.

Com isso, foi requerida intervenção judicial, para que os administradores da Bombril indicados pela Cragnotti & Partners fossem afastados, nomeando-se gestor judicial até o encerramento do processo.

O pedido foi acatado, no mesmo ano, pelo juízo da execução.

Estrutura societária do Grupo Bombril

Somente em 2006 – após cerca de quatro anos de gestão judicial – a 4ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) determinou o fim do regime excepcional. Foi quando Ronaldo Sampaio Ferreira, filho do fundador do Grupo Bombril, recuperou o controle das empresas da família.

Nesse cenário os negócios do Grupo Bombril se estabeleceram como um grupo econômico plurissocietário, que conta com diversas sociedades, todas coordenadas e dirigidas a partir de políticas financeiras e empresariais únicas.

Atualmente, a estrutura de capital consiste na Bombril, que é dona da Bril Store, e também da Brilmaq, que por sua vez detém Bril Cosméticos e BB Logística.

Geração de caixa é pedra no sapato

O documento mostra que há comprometimento da saúde financeira do grupo, citando que ‘a geração de caixa é assunto de tremenda relevância para a Bombril’.

Uma auditoria externa constatou que a empresa apresentava prejuízo acumulado, ao fim de 2023, de R$ 1,018 milhão, excesso de passivos sobre ativos circulantes no encerramento do exercício no montante de R$ 66,7 millhões na controladora e R$ 58,5 milhões no consolidado, e passivo a descoberto no valor de R$ 55,5 milhões.

“Parte substancial desse passivo a descoberto se refere a empréstimos e financiamentos, os quais precisam ter seus prazos de pagamento renovados para permitir um alinhamento entre os fluxos de pagamentos de principal e juros com a disponibilidade e a geração de caixa da Bombril. Essa situação, entre outras, indicam a existência de incerteza relevante que pode levantar dúvida significativa sobre a sua continuidade operacional. Nossa opinião não está ressalvada em relação a esse assunto”, diz o documento da E.Munhoz Advogados.

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