‘B3 Analógica’: o que a Bolsa perde com a ausência do setor de tecnologia?

Foto: B3/Divulgação

Com apenas duas empresas de tecnologia listadas no principal índice da bolsa brasileira, o Ibovespa, em um total de 87 ações, o Brasil tem um claro reflexo da falta de um setor tecnológico robusto no mercado de capitais. 

Apesar do crescente papel da tecnologia na economia global, o Brasil ainda enfrenta desafios estruturais, políticos e financeiros que limitam o potencial desse segmento. 

A falta de inovação e o baixo número de empresas tecnológicas em bolsa geram consequências negativas, tanto para os investidores quanto para o próprio desenvolvimento econômico do país.

Brasil não acompanha avanço das bolsas globais

Adriano Delfino, da Fami Capital, destaca que, enquanto o setor de tecnologia representa 42% da composição do S&P 500, o índice Ibovespa reflete um contraste evidente, com apenas 0,9% de participação de empresas como a Totvs (TOTS3) e a LWSA (LWSA3), antiga Locaweb. A discrepância não é apenas numérica, mas estratégica. 

O setor de tecnologia é um dos maiores responsáveis pelo crescimento econômico de países como os EUA, devido à sua constante inovação, atração de capital de risco e a criação de produtos disruptivos. 

No Brasil, a falta desse tipo de ambiente de investimentos impede que mais startups se destaquem, o que leva até mesmo a imigração de talentos.

Desafios estruturais e a cultura empresarial 

Matheus Amaral, especialista em Renda Variável do Inter, também observa que a falta de empresas de tecnologia brasileiras não é apenas uma questão de mercado, mas sim uma questão de políticas públicas. A educação e o incentivo à inovação no Brasil ainda são limitados. 

“Enquanto o Brasil tem bons exemplos em tecnologia bancária, como as fintechs e o Pix, nosso mercado carece de players que competem com gigantes globais”, comenta Amaral, apontando que as grandes empresas de tecnologia como Apple e Microsoft estão distantes da realidade brasileira.

Segundo ele, o Brasil precisa criar um ambiente mais favorável para as startups e a inovação, como um sistema educacional mais robusto e leis que incentivem a criação e o crescimento de empresas de tecnologia.

Impacto da ausência do setor no mercado nacional  

De acordo com Gregório Nissel, sócio da Rubik Capital, os fatores que limitam a presença de empresas tecnológicas no mercado de capitais brasileiro são múltiplos: a estrutura do mercado de capitais, a forte presença de empresas familiares e a economia centrada em commodities e finanças.

A burocracia e as altas taxas de juros também tornam os processos de IPO mais difíceis para as startups.

“O Brasil acaba perdendo em inovação e produtividade, pois sua economia continua dependente de setores tradicionais, com baixo valor agregado”, avalia Nissel.

Sem um setor de tecnologia forte, o país acaba concentrando seus investimentos em setores mais estáveis, como bancos e commodities, deixando de atrair investidores globais interessados em inovação.

Políticas públicas e a educação podem mudar cenário

Todos os especialistas concordam que o fortalecimento do setor de tecnologia depende, em grande parte, de uma mudança nas políticas públicas e na forma como o país investe em educação.

A criação de um ecossistema mais favorável para startups, com redução da burocracia e incentivos para inovação, pode ser o primeiro passo para mudar o cenário. Além disso, é importante que o governo brasileiro invista em educação e em programas de incentivo ao empreendedorismo, para que o Brasil se torne um polo de inovação na América Latina, como o Vale do Silício nos EUA.

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