As contradições no debate sobre as mudanças climáticas

editorial

As mudanças climáticas continuam se manifestando de forma  sistemática. O Rio Grande do Sul, que no ano passado viveu uma tragédia em decorrência das fortes chuvas, vive, agora, uma situação inversa. Mesmo estando no extremo sul do país, o estado registra as maiores temperaturas do país, com termômetros perto dos 40 graus celsius, o que compromete, sobretudo, a produção agrícola, além dos danos naturais à saúde da população.

De acordo com especialistas, o mês de janeiro foi o mais quente já registrado no mundo. O observatório europeu observa que o índice é um alerta para as mudanças climáticas, que mantêm o planeta há mais de 18 meses sob recordes de calor. As previsões sobre os efeitos do La Niña, com o resfriamento dos oceanos, para diminuir o calor, não se confirmaram.

Não se trata de um erro dos especialistas, mas sim da constatação da imprevisibilidade do clima nos dois hemisférios. Nos Estados Unidos, até a Flórida, uma ilha de calor e polo turístico do país, registrou intensa queda de neve, o que não ocorria a despeito de a região estar no inverno.

Os constantes alertas continuam sendo ignorados pelas autoridades que insistem no discurso de não haver ligação entre tais eventos e a emissão de gases. O presidente americano Donald Trump já avisou que vai ampliar a exploração de petróleo e decidiu tirar os EUA dos fóruns que discutem a demanda ambiental do planeta.

No Brasil, no qual vai ocorrer a COP-30, a partir de novembro, em Belém do Pará, o presidente Lula caminha pela rota inversa da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e também está propenso a autorizar a prospecção de petróleo na região amazônica. Em entrevista a emissoras de rádio de Belo Horizonte, ele defendeu a necessidade de se encontrar uma solução para a exploração de petróleo na Margem Equatorial.

E foi adiante: “Nós queremos o petróleo, porque ele ainda vai existir por muito tempo. Temos que utilizar o petróleo para fazer nossa transição energética, que vai precisar de muito dinheiro. E temos, perto de nós, Guiana e Suriname pesquisando petróleo muito próximo à nossa Margem Equatorial. Precisamos fazer um acordo. Encontrar uma solução em que a gente dê garantia ao país, ao mundo e ao povo da Margem Equatorial de que a gente não vai detonar nem uma árvore, nada do rio Amazonas, nada do oceano Atlântico”, disse Lula.

A Margem Equatorial abrange uma área que vai do litoral do Nordeste à foz do Rio Amazonas. E um dos trechos com óleo possivelmente viável à exploração fica a 500km da foz do Amazonas – o que os especialistas dizem ser uma distância pequena por causa da possibilidade de as correntes marítimas espalharem petróleo em toda a área da foz em caso de vazamento.

A fala do presidente foi questionada por ambientalistas e, certamente, receberá cobranças na COP, uma vez que o país tem sido um dos players no debate global sobre meio ambiente. Para alguns setores, a despeito das observações do presidente, trata-se de uma contradição.

 

 

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