CK Hutchison: o império de Hong Kong por trás dos portos do Canal do Panamá

A CK Hutchison, o colossal império de negócios do bilionário de Hong Kong Li Ka-shing, tem estado no centro das atenções desde que os Estados Unidos denunciaram a suposta influência chinesa sobre o Canal do Panamá, onde o grupo controla dois dos cinco portos.

Na semana passada, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, considerou “inaceitável” que as empresas sediadas em Hong Kong controlem os pontos de entrada e saída do canal, argumentando que elas poderiam fechar a passagem se Pequim assim o ordenasse.

– Quem administra os portos? –

A Hutchison Ports PPC (também conhecida como Panama Ports Company SA) administra o porto de Cristobal, no lado atlântico do canal, e Balboa, no lado do Pacífico, desde 1997.

A concessão inicial concedida pelo governo panamenho foi renovada por um acordo tácito por mais 25 anos em 2021. A Hutchison Ports declarou em janeiro que havia pago US$ 59 milhões (339 milhões de reais) ao estado panamenho nos últimos três anos e que sua equipe era quase inteiramente panamenha.

Sua empresa controladora, a CK Hutchison Holdings, é um dos maiores grupos empresariais de Hong Kong. Suas atividades incluem finanças, varejo, imóveis, telecomunicações e logística. O grupo opera 53 portos em 24 países, incluindo Reino Unido, Espanha e Austrália.

– Quem controla o canal? –

Enquanto a CK Hutchison administra dois dos cinco portos de entrada do canal, a passagem de 82 km de comprimento é administrada pela Autoridade do Canal do Panamá, um órgão independente estabelecido pela Constituição panamenha.

É essa autoridade que define os pedágios para os navios que passam pelo canal. Em 5 de fevereiro, esse órgão negou categoricamente que tenha permitido que navios de guerra dos EUA passassem pelo Canal sem pagar, como Washington havia afirmado.

– O “Super-Homem” de Hong Kong –

A CK Hutchison foi criada por Li Ka-shing, o homem mais rico de Hong Kong e apelidado de “Super-Homem” por sua visão aguçada dos negócios.

Fundada em 1971, sua empresa, a Cheung Kong Holdings, prosperou no mercado imobiliário de Hong Kong durante a era colonial britânica e começou a se expandir para o exterior na década de 1980.

Em 2015, a Cheung Kong se fundiu com outro conglomerado de Hong Kong, a Hutchison Whampoa, para formar a CK Hutchison. Três anos depois, Li se aposentou aos 89 anos de idade e passou as rédeas do império para seu filho mais velho, Victor.

A CK Hutchison opera em vários setores na China continental, especialmente em portos. Li Ka-shing tinha laços estreitos com a liderança chinesa antes da chegada de Xi Jinping ao poder.

Victor Li é um membro de longa data da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CPPCC), uma assembleia influente sob a liderança do Partido Comunista Chinês.

– Isso depende de Pequim? –

Marco Rubio argumenta que o acordo entre o Panamá e a KK Hutchison é contrário ao interesse nacional dos Estados Unidos. Em sua opinião, se Pequim ordenasse o fechamento do Canal do Panamá, uma empresa de Hong Kong em território chinês, ela não teria outra escolha a não ser obedecer.

Ex-colônia britânica, Hong Kong foi devolvida à China em 1997 sob o regime “um país, dois sistemas”, que lhe prometeu ampla autonomia e sistemas financeiros e jurídicos separados dos da República Popular da China.

Mas Pequim tomou a cidade de volta em suas próprias mãos após grandes manifestações pró-democracia em 2019, impondo uma lei de segurança nacional draconiana.

Em 2020, Israel se recusou a conceder à CK Hutchison um contrato público para uma usina de dessalinização, após uma intervenção do Secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo.

Um porta-voz do governo de Hong Kong disse à AFP que as autoridades da cidade “nunca interferiram nas operações comerciais da empresa”. Hong Kong é um “forte defensor do sistema de comércio multilateral e se opõe a qualquer país que imponha medidas ou restrições que impeçam o comércio normal”, acrescentou.

A AFP entrou em contato com a CK Hutchison para comentar o assunto, mas não obteve resposta.

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