Toninho na esteira ergométrica

toninho e a esteira ergométrica

Toninho retornou do médico bastante abalado. Para um grande fã de peladas como ele, ser proibido de praticar seu hobby preferido não era algo que pudesse encarar de maneira muito pacífica.
– É isso ou sua vida vai pro vinagre -, advertiu o doutor, um gordo bonachão, de bochechas rosadas sob a barba rala e grisalha, enquanto acendia um charuto.
Não restou alternativa a Toninho senão buscar meios de ocupar aquele vácuo. Já na saída do consultório passou em uma loja de materiais esportivos e pediu que entregassem em sua casa uma esteira ergométrica. Mandou que a instalassem na edícula do terraço, de frente para a televisão onde costumava assistir futebol, bem ao lado de sua poltrona predileta.
No dia seguinte, Toninho começou a praticar a arte da corrida em esteira, que para alguns resta muito tediosa, mas a tantos outros agrada pelas possibilidades precisas de controle e mensuração. Aos poucos, foi desenvolvendo uma dinâmica muito particular, diria-se autoral até, de se exercitar: o ritmo das passadas de Toninho era ditado pelo desempenho dos jogadores que via no televisor.
Quando se encontrava um pouco cansado, ele ligava a TV em um jogo de rotação mais baixa, como os campeonatos estaduais, por exemplo. Sentindo-se com mais vigor, sintonizava nas contendas inglesas, italianas ou espanholas. Se o jogador enquadrado pelas câmeras acelerava o passo, Toninho acelerava na esteira; se reduzia a cadência, Toninho suavizava o trote.
Por fim, a tristeza por não jogar mais o futebol semanal foi substituída por uma formidável sensação de satisfação, fruto talvez da associação entre a descarga de endorfina, a satisfação por ter engendrado uma técnica inovadora e o fim das rusgas futebolísticas que, nas peladas, o fazia criar um inimigo por semana, tamanho seu destempero na prática do esporte bretão. Seu contentamento era tal que não via a hora de voltar ao consultório para falar de seu progresso para o rotundo psiquiatra.

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