Juiz de Fora ainda registra mortes por Covid-19; baixa adesão à vacinação ainda preocupa

vacinação Covid-19

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Dados do Ministério da Saúde apontam cobertura vacinal com a quarta dose de 16,91% (Foto: Felipe Couri)

Mesmo após cinco anos do início da pandemia da Covid-19, Juiz de Fora ainda registra dados preocupantes sobre a doença. Este ano, a cidade já registrou, até a última terça-feira (28), 18 casos e três óbitosEm 2024, foram quase mil casos e 21 óbitos, segundo dados da Secretaria do Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG). O mês com mais registros de casos no ano passado foi fevereiro, quando 317 confirmações foram notificadas.

A título de comparação, em 2023, segundo dados do Painel de Vigilância Epidemiológica da SES-MG, Juiz de Fora registrou 2.232 casos e 57 óbitos. Apesar da aparente redução das notificações no últimos dois anos, o índice de mortalidade permaneceu semelhante: em 2023 ficou em 2,6% e, no ano passado, em 2,3%. Outro ponto de atenção é o número de internações graves em UTI: 25 pessoas precisaram de cuidados intensivos em 2024 por conta da doença.

No Brasil, segundo matéria divulgada pela Agência Estado nesta quarta-feira (29), 57.713 casos de Covid-19 foram confirmados nas três primeiras semanas de 2025 – o maior registro de casos dos últimos dez meses. O número representa um aumento de 151% nos diagnósticos da doença em comparação com as três últimas semanas do mês passado, que somaram 23.018 infecções.

Um dos pontos citados por especialistas para a prevalência da doença e aumento das notificações é baixa adesão às doses de reforço da vacina contra a Covid-19. A situação reflete no risco de agravamento da doença em grupos vulneráveis, como idosos e pessoas com comorbidades. Além disso, há também uma subnotificação de casos, o que dificultaria o controle contínuo da disseminação do coronavírus.

Declínio da vacinação

Segundo dados extraídos do Painel do Ministério da Saúde, 16,91% da população de Juiz de Fora recebeu a quarta dose da vacina contra a Covid-19. Os números estão abaixo da média nacional de 19,46%. Para o professor do Departamento de Parasitologia, Microbiologia e Imunologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Aripuanã Watanabe, os números são preocupantes quando se considera, principalmente, a baixa cobertura em grupos de risco para a doença.

“A gente sabe que idoso, criança e pessoas com doença crônica têm que ter as vacinas em dia pra poder aumentar a proteção. Essa queda na taxa das coberturas vacinais contra a Covid chama bastante atenção. As pessoas estão deixando de tomar os reforços (da vacina) e isso aumenta a chance de elas adquirirem o vírus e, muitas vezes, se reinfectarem e aumenta a chance de ter a doença na forma mais grave.”

A queda na adesão ao esquema vacinal completo, porém, reflete um fenômeno que vai além da Covid-19, e chega a outras vacinas, como a da gripe, cuja cobertura tem um cenário semelhante. O declínio reflete diretamente no aumento de formas graves e óbitos que poderiam ser evitados. “Na mesma linha, vimos taxas muito baixas de cobertura vacinal contra a gripe, que é outra doença respiratória que também leva muita gente a óbito. Então, as pessoas, no geral, estão deixando de se vacinar. Esse é o fato.”

O professor também alerta que a baixa cobertura vacinal é um dos principais fatores que mantêm o perigo para a contaminação por Covid-19. Watanabe destaca que as vacinas, mesmo com a circulação de variantes, são eficazes na prevenção das formas graves da doença. “O vírus, suas variantes e subvariantes estão mudando, mas ainda não tem nada, virologicamente falando, que indique alguma variante circulando com maior propensão de causar doença grave, ou que ‘escape’ das versões mais novas das vacinas, que já contêm essas variantes.”

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Subnotificação e a realidade epidemiológica

A redução no número de casos e mortes pela doença em relação a períodos críticos da pandemia e pré-vacinação é fato. Entretanto, os números atuais da doença ainda pode estar subnotificados. A possibilidade da testagem domiciliar, que trouxe facilidade para os usuários, também limita a notificação dos casos à Vigilância Epidemiológica. Segundo Aripuanã Watanabe, casos leves e assintomáticos dificilmente entram nas estatísticas, o que cria uma falsa sensação de controle total da doença.

Apenas casos hospitalares graves são registrados, o que distorce a realidade do cenário na cidade. “Erroneamente está se achando que a Covid virou uma doençazinha, um resfriadinho. Para um adulto saudável isso pode até, em partes, ser verdade, mas ainda continua sendo uma doença perigosa para os grupos de risco. E as pessoas não estão testando e quando testam, fazem testes de farmácia e não comunicam à Vigilância Epidemiológica.” explica.

Essa lacuna no monitoramento epidemiológico pode prejudicar o planejamento de políticas públicas e a alocação de recursos da saúde. A subnotificação também contribui para uma falsa percepção de controle da doença, o que leva à maior exposição da população aos riscos. Com informações menos precisas, a capacidade de prever surtos fica comprometida. “O ruim da testagem em casa é que a gente perde controle. Pensando no sistema de saúde, a gente perde controle de quantas infecções estão ocorrendo porque não chega para o sistema. E aí fica difícil de saber quais ações deveriam ser tomadas.”

A retomada de campanhas de conscientização e a ampliação do acesso às vacinas, bem como o reforço das medidas preventivas ainda são fundamentais para conter os possíveis impactos da Covid-19. A doença ainda representa risco, principalmente para os grupos de risco e pessoas em situação de vulnerabilidade. Apesar da aparente redução no número de casos e óbitos confirmados, a subnotificação e a baixa adesão ao esquema completo de vacinação ainda deixam a situação complexa.

A Tribuna entrou em contato com a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), em duas ocasiões, solicitando dados sobre a doença na cidade e um posicionamento sobre a situação. No entanto, as demandas não foram respondidas.

Orientações e prevenção

Manter o esquema vacinal atualizado ainda é a principal forma de proteção contra a Covid-19. Além disso, o uso de máscaras em casos de sintomas respiratórios deve ser retomado, especialmente em ambientes fechados. Higienizar as mãos frequentemente e evitar aglomerações quando doente também são medidas eficazes para evitar a transmissão. A conscientização coletiva pode evitar novos surtos e proteger os mais vulneráveis.

Para o especialista, essas medidas de proteção, como vacinas e uso de máscaras, ainda são indispensáveis. “O principal é estar com a vacina em dia. A gente sabe que essa é a principal forma ainda de se proteger. Além disso, aquelas recomendações que valem para qualquer doença, como lavagem de mãos.” e completa “E uma vez que se está com sintomas respiratórios, usar máscara e, eventualmente, fazer uma testagem para saber realmente se é Covid. A máscara funciona principalmente para proteger outras pessoas, não necessariamente a si próprio.”

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