Crítica | Kasa Branca – Um Dos Filmes Mais Sensíveis dessa Temporada

Cena do filme 'Kasa Branca', de Luciano Vidigal

Em tempos de redes sociais, emprego terceirizado, hiperinflação e corre atrás de corre para pagar os boletos, torna-se virtualmente impossível parar e observar a beleza das coisas simples da vida. Ou apenas a beleza. Porque a luta do dia a dia tem sido tão intensa e desgastante, que, sozinhos, não conseguimos avançar em nada. Estes temas embasam o argumento do surpreendente ‘Kasa Branca’, filme brasileiros que teve exibições em uma penca de festivais nos últimos meses (inclusive, vai encerrar a Mostra de Cinema de Tiradentes este ano) e que estreia no circuito nacional de cinema no próximo dia 30.

Cena do filme 'Kasa Branca', de Luciano Vidigal

Em uma casinha na Baixada Fluminense, (Big Jaum) passa os dias e as noites cuidando de sua vozinha, Dona Almerinda (Teca Pereira), diagnosticada com Alzheimer em fase terminal. Essa rotina é muito puxada para este jovem sem mãe e com o pai (Babu Santana) ausente, mas felizmente ele pode contar com uma rede de apoio muito presente no lugar onde mora: os amigos Martins (Ramon Francisco), Adrianim (Diego Francisco) e Talita (Gi Fernandes) fazem de tudo para ajudá-lo com tudo que precisa, seja para arrecadar dinheiro para pagar o aluguel e comprar os remédios da vó Almerinda, seja para organizar um show na ‘Kasa Branca’ onde o rapper L7nnon prometeu se apresentar.

Escrito e dirigido por Luciano Vidigal (que estreia na direção de longas-metragens com este projeto, após longa carreira como ator), ‘Kasa Branca’ é um dos filmes mais sensíveis deste ano – não à toa está sendo exibido em tantos festivais. Em uma camada mais evidente, é claro que o filme está retratando todas as inúmeras dificuldades que um jovem preto e periférico enfrenta cotidianamente nos tempos atuais em um estado cosmopolita como o Rio de Janeiro: os grandes deslocamentos, a dependência do transporte público, a falta de recursos dos hospitais públicos quando precisamos deles, o desemprego, o abandono parental, entre outros. Sim, todos esses temas estão no filme e são abordados com muita responsabilidade por Luciano Vidigal, mas sem fazer com que esses elementos pesem no filme ao ponto de transformarem a produção em algo excessivamente dramático.

Cena do filme 'Kasa Branca', de Luciano Vidigal

Ao contrário, Luciano prefere abordar o “apesar de”. Ou seja, apesar de todos esses elementos cercarem a juventude periférica, há esperança, há amor, há amizade, porque felizmente há aquilombamento, única forma de sobreviver quando se é preto e periférico numa cidade grande. A beleza sutil que o filme de Luciano encontra é mostrar um quilombo jovem, de garotos e garotas experimentando a vida em muitos aspectos, forçados a amadurecerem prematuramente por motivos variados, mas, ainda assim, “apesar de” tudo isso, eles estão lá, uns para os outros.

Tal cumplicidade é mérito desse elenco potente, entrosado e dinâmico que Luciano encontrou para dar vida à personagens tão reais. O trio principal de rapazes tem sintonia e interage tal qual na vida real, com tamanha desenvoltura que faz com que todo carioca tenha a sensação de conhecê-los de algum lugar. Em um belo encontro de gerações, os três dividem muitas cenas com a querida Dona Teca, e são essas as cenas mais comoventes de ‘Kasa Branca’, pois os rapazes – especialmente o doce Big Jaum – imprimem tanta ternura no trato com Teca Pereira, que fica evidente o respeito e a honra que sentem em contracenar com ela. Disso, Luciano pode se orgulhar.

Encantador, ‘Kasa Branca’ precisa ser visto pelo maior número de pessoas possível, pois “apesar de” todas as dificuldades do dia a dia, é preciso ver beleza nas coisas para seguir adiante.

kasa branca

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