‘Com este livro, pretendo trazer à tona os meus pecados da juventude’, confessa Guilherme Ferreira

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Radicado em Juiz de Fora, o poeta de Três Corações, Guilherme Ferreira, lança, na Autoria, livro de poemas e contos em que apresenta confissões de um jovem interiorano – Foto: Guilherme Fortunato Ferreira

A frase que dá título a este texto é uma confidência feita pelo poeta, na introdução de “A impressão dos sentidos” (Editora Telha), segundo livro publicado pelo mineiro de três Corações, radicado em Juiz de Fora, Guilherme Ferreira. Composta por uma série de poemas escritos quando o autor tinha entre 17 e 25 anos, além de três contos, a obra será lançada nesta quinta-feira (23), às 19h, na Autoria Casa de Cultura. Em suas páginas, você, leitor, encontrará, ainda, ancestralidade e leitura da sociedade.

“Confesso que tenho dificuldades em analisar a gênese de uma obra concebida há muitos anos. A poesia é uma forma de conhecimento, baseada na experiência concreta do sujeito no mundo. Embora seja associada a certas condições etéreas, como inspiração, por exemplo, a meu ver, consiste exatamente em resgatar e transformar a realidade vivida em um discurso poético, que pode assumir a forma de um poema”, afirma Guilherme, reforçando que o processo de produção do livro buscou dar voz a um jovem interiorano. “Um jovem que buscava se afirmar no mundo, que impõe condições extremamente difíceis a pessoas periféricas e que não correspondam a determinados padrões.”

Diante de tal revelação, não resta dúvida de que, em “A impressão dos sentidos”, escorrem as inquietações do próprio poeta. “A poesia é a linguagem do ‘eu’, portanto, também fala do sujeito que escreve. Para me exprimir poeticamente, utilizo sobretudo imagens ditas como visionárias pela escola surrealista, de modo que as figuras de linguagem utilizadas, por exemplo a metonímia, transformam as situações do cotidiano abordadas na obra em experiências poéticas irrealistas e fantasiosas.”

Mas deve haver limites entre autobiografia e ficção? “O limite é estabelecido por mim a partir de uma consciência crítica do fazer poético, que vai além da inspiração e vivência cotidiana, e inclui a capacidade de manipular os símbolos, as figuras de linguagem, as formas fixas como sonetos, a escolha das métricas e palavras que possam ser percebidas como portadoras de sentido pelo leitor.”

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Capa do livro “A impressão dos sentidos” – Foto: divulgação

Uma poesia que abre caminhos

E é com “Beco sem saída” que o poeta abre a publicação: “o que sabe a rua/ do homem que passa/ fora o cansaço/ cachaça ou o triste/ silêncio dos sapatos”. Na leitura do escritor José Renato Amorim, responsável pelo prefácio, após os versos iniciais, “a poesia vai abrindo caminhos, propondo reflexões, semeando dúvidas, abordando dores, paixões, ironias, até chegar na corda bamba ao último poema, urutu.” De acordo com o autor, a estrutura da obra foi pensada de forma a causar impacto emocional progressivo no leitor.

“O título do primeiro poema é indicativo de um certo momento de vida, e sintomaticamente abre o livro para provocar um choque no leitor, com a intenção de prepará-lo para o estilo provocativo da obra. Mais do que relacionado à jornada pessoal ou social do autor, a estrutura do livro condiz com uma necessidade estética, para que o leitor responda emocionalmente aos poemas de forma progressiva”, conta Guilherme. Ele explica ainda que, pelo fato de os escritos terem sido produzidos em momentos distintos, os textos foram dispostos com a intenção de obedecer a um certo ritmo de leitura.

Sobre a inserção dos três contos no livro, Guilherme diz que não tinha textos suficientes para lançar uma publicação só desse gênero. No entanto, ele queria dar um destino para o que já tinha escrito. Dessa forma, surgiu a ideia de finalizar “A impressão dos sentidos” com as produções em prosa. “O primeiro texto, na minha opinião, mistura poesia e prosa. Os demais podem ser classificados como conto. Os textos complementam a experiência poética na medida em que representam um desafio para expressar em uma forma curta, seja conto ou crônica, uma experiência cotidiana. Desafio esse que busquei superar.”

Além de poeta, Guilherme é psicólogo formado pela Universidade Federal de Juiz de Fora, com especialização em Inteligência Artificial e Computacional pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). Também estudou Letras na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Três Corações. “Poemas de Elba”, de 1982, marcou sua estreia na literatura. Depois, ele integrou a coletânea poética “Passageiros da noite”, lançada em 1985. Em sua cidade natal, foi redator do Jornal Três e coeditor da revista A Tuba.

Janeiro na Autoria

Lá na Autoria as férias realmente acabaram. O espaço, comandado por Carol Canêdo, entra em 2025, com uma série de eventos que incluem música, literatura, cinema e debates.

Nesta sexta-feira, dia 24, às 19h, o samba é protagonista, com apresentação do grupo Flor de Samambaia, composto exclusivamente por mulheres. Os ingressos para participar da Roda de Samba estão à venda por R$ 15.

Já no sábado, dia 25, às 18h, a literatura ganha destaque com o lançamento do e-book “Por dentro’, da poeta e professora Graci Apolinário. Publicado de forma independente pela Editora Autoria, o livro será disponibilizado gratuitamente na Amazon. O evento inclui um bate-papo com a autora, transmitido ao vivo pelo Instagram da Autoria. Será uma oportunidade de o público conhecer mais sobre a obra e o processo criativo por trás dela.

E no dia 30, às 19h, o cinema também terá espaço na programação, com uma sessão especial, dedicada ao filme “O Auto da Compadecida”. Organizado pela idealizadora do projeto, a advogada Lídia Amoroso, o encontro propõe uma análise descontraída e enriquecedora da obra de Ariano Suassuna. A entrada é gratuita.

Por fim, na sexta-feira, dia 31, às 19h, será realizado um bate-papo sobre gênero e transexualidade. Pérola Augusto Franco, autora de “Ontologias de uma fracassada”, e  Brune Coelho Brandão, doutora em Psicologia, participarão do evento, que terá entrada gratuita e trará reflexões sobre temas atuais e relevantes.

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