Os celtas eram bárbaros bêbados ou sofisticados artesãos?

Guerreiros rudes que lutaram contra os romanos ou sociedades matriarcais com artes refinadas e extenso comércio? A história desses povos europeus é cheia de mistérios. Mas alguns deles já foram desvendados.Pesando 3,7 quilos, as 483 moedas de ouro celta são a maior descoberta do gênero no século 20 – e um tesouro de valor inestimável para pesquisadores dessa civilização. Elas foram surrupiadas em novembro de 2022 do Museu dos Celtas e Romanos em Manching, na Baviera, numa operação digna de Hollywood e a despeito dos sistemas de alarme.

Detidos, os suspeitos do roubo vão encarar a Justiça alemã em julgamento que tem início nesta terça-feira (21/01). Mas até agora as autoridades só conseguiram recuperar 500 gramas do tesouro; acredita-se que o resto tenha sido fundido. Se for o caso, a história celta – repleta de mistérios e controvérsias – perdeu um testemunho valioso.

O que se sabe – ou se acha que sabe – sobre os celtas?

Lar na Europa Central

Embora muitos costumem associem os celtas ao Reino Unido – onde o legado deles segue forte, em parte graças a vestígios linguísticos –, a origem dessa civilização está na verdade numa área que vai do nordeste da França até a República Tcheca, cruzando a Alemanha e a Áustria.

Os indícios arqueológicos mais antigos desse povo vêm da cidade austríaca de Hallstatt. Os achados ali datam aproximadamente de 700 a.C., mas estima-se que a cultura celta começou a se desenvolver muito antes, já no segundo milênio antes de Cristo.

Os celtas habitaram boa parte da França e do norte da Espanha, chegaram aos Bálcãs, à área do Mar Negro e até mesmo à Anatólia, área que hoje faz parte do lado asiático da Turquia. A exata movimentação desse povo pelo mapa, contudo, ainda é debatida entre pesquisadores.

Quanto às ilhas britânicas, o termo “celta” entrou na moda no século 18 para descrever civilizações pré-romanas naquela região, mas ainda não há consenso acadêmico sobre até que ponto é correto considerá-los partes de uma comunidade celta maior.

Denominação veio dos gregos

“Celta” é um termo cunhado pelos gregos, que chamava de chamavam de keltoi ou galati as tribos com que fizeram no século 6º a.C.. Os romanos usavam os termos galli ou celtae (o “c” era pronunciado “k”).

Por causa disso, há registros que propõem a pronúncia do termo inglês “celt” tanto com som de “s” quanto com som de “k”. Ele abrange uma série de tribos individuais e heterogêneas que existiram por cerca de 2 mil anos, como os insubres no norte da Itália, os boii na Europa Central, ou os helvetii na Suíça. O que as unia eram elos linguísticos e culturais.

Fama de bárbaros: um ponto de vista

Bárbaros rudes e bêbados que se atiravam em conflitos ao menor sinal de ofensa – muitas vezes nus e pintados de azul –, colecionando cabeças: é mais ou menos assim que muitos escritores romanos e gregos descreveram os celtas.

Mas esses escritores não eram exatamente neutros. Seus povos estavam frequentemente em guerra contra os celtas, que por sua vez não deixaram registros escritos.

Mas as joias requintadas, espadas decoradas e outros artefatos descobertos em cemitérios desse povo apontam para a existência de sociedades complexas e técnicas avançadas de metalurgia, com retratos abstratos e graciosas linhas que sugerem um simbolismo complexo e talento artístico avançado.

Guerreiros acima de tudo?

Leitores das histórias em quadrinhos de Asterix podem imaginar que os celtas – dos quais os gauleses franceses faziam parte – eram guerreiros perpétuos, sempre em batalha contra os romanos.

E embora os celtas de fato tenham guerreado tanto no ataque quanto na defesa, eles prosperaram com o comércio na Europa Central, em boa parte graças ao controle que exerciam sobre diversas vias fluviais.

Escavações em Heuneberg, uma cidade celta fortificada da Idade do Ferro (1200 a.C.-1000 d.C.) no sudoeste da Alemanha, que abrigava cerca de 10 mil moradores, revelaram mercadorias de luxo vindas do Mediterrâneo, como vinho grego, ouro italiano e utensílios de mesa espanhóis. Por sua vez, escavações nas ilhas britânicas até agora revelaram uso da agricultura e da pecuária.

A língua celta está viva

E como soava a língua dos celtas?

Não há uma resposta precisa a essa pergunta, mas há algumas poucas línguas celtas ainda vivas em partes do Reino Unido e da França. Isso inclui o galês, o irlandês, o gaélico, o córnico e o bretão. Todas as demais variantes se extinguiram.

Autores gregos e romanos se referem às línguas das tribos celtas como misteriosas e enigmáticas. A informação entre esses povos era repassada de forma oral, não escrita.

Uma sociedade matriarcal?

E por falar em informação oral e histórias, era aos druidas – um tipo de líder religioso celta – que cabia contá-las. Druidas eram tanto homens quanto mulheres, mas acredita-se que elas tinham uma posição social de mais prestígio.

Artefatos de batalha encontrados em escavações sugerem que as mulheres também foram guerreiras. Vestígios de DNA recolhidos no Reino Unido até apontam que algumas sociedades celtas podem ter sido matriarcais – uma conclusão, contudo, que ainda carece de mais provas.

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