‘Tech T-Shirt’: Entenda o boom do mercado de camisetas tecnológicas

Em meados de 2017, com apenas um mês de empresa, Carol Matsuse e Yuri Gricheno foram ao Shark Tank Brasil, reality show de negócios, buscando investidores para a Insider Store, marca de camisetas tecnológicas que à época tinha um produto – uma undershirt, camiseta para ser usada embaixo da camisa social e para o público masculino.

+ Insider, de camisetas tecnológicas, traz para o time Guilherme Almeida, ex-CFO da Enjoei

De volta para casa com um “não” de todos os “tubarões” – ou potenciais investidores, os dois fundadores tracionaram a empresa e abriram caminho em um mar ainda muito azul no mercado brasileiro.

Desde então, a companhia cresceu ao menos 100% ao ano em termos de receita – com exceção de 2021 – e segue com a maior fatia de um mercado que agora abarca cada vez mais players e atenção de gigantes do ramo têxtil.

A empresa fechou 2024 com faturamento na casa de R$ 400 milhões e relata ter aberto uma frente para lidar com “questões jurídicas” pela grande quantidade de novos entrantes no mercado que replicam a mesma ideia – aplicar tecnologia em uma camiseta simples, lisa e básica.

O carro chefe da Insider é a Tech T-Shirt, uma camiseta com uma proposta de agregar tecnologias das mais diversas, como ser antiodor, possuir conforto térmico, não amassar, durar mais e ter um tecido confortável e que se ajuste ao corpo.

‘Camiseta tech é propriedade intelectual nossa’

A camiseta é composta por tecido 92% modal e 8% elastano. O modal é uma fibra de origem natural, derivada da celulose extraída da casca da árvore de faia, que é utilizada como uma alternativa ao algodão.

“O INPI cedeu o nome ‘Tech T Shirt’ para a Insider e tudo o que vemos no mercado que seja camiseta tech é uma propriedade intelectual nossa, temos até processos jurídicos rolando por conta da violação desse nome, uma vez que fomos a primeira empresa a usar e registrar ele”, comenta Yuri Gricheno, cofundador da Insider, em entrevista ao IstoÉ Dinheiro.

Gricheno diz que conforme a empresa foi crescendo e ganhando relevância, foram surgindo “réplicas” do seu produto. “Mas pouquíssimas delas entregam valor”, avalia. Segundo ele, testes de laboratórios comprovaram que o produto da Insider seria mais eficaz.

Que tecido é esse?

Gricheno não revela detalhes da tecnologia justamente por conta da alta concorrência no setor, e explica que o fim da cadeia de produção abarca os polos têxteis do Brasil, utilizando a propriedade intelectual da companhia. O grande diferencial no produto da Insider estar no próprio”tecido modal.

O produto custa na faixa de R$ 150, e Gricheno defende que o preço é ‘de um produto premium’, já que a companhia ‘não quer vender commodity’.

A Insider produz suas camisetas com 100% de fabricação nacional, com todo o processo, desde a produção do tecido até a confecção das peças sendo realizado no Brasil, em fábricas auditadas localizadas em São Paulo e Minas Gerais
A Insider produz suas camisetas com 100% de fabricação nacional, com todo o processo, desde a produção do tecido até a confecção das peças sendo realizado no Brasil, em fábricas auditadas localizadas em São Paulo e Minas Gerais (Crédito:Insider/Divulgação)

Gigantes também entram no nicho

Com o mercado crescendo, gigantes do setor têxtil também se viram atraídas pelo potencial desser nicho, seja ensaiando fusões ou aquisições de players, seja com produção própria.

O Grupo Malwee criou recentemente sua própria marca de roupas tecnológicas, a Basicamente e a Basico.com – que une as duas marcas.

Daniel Haddad, CEO da BB&Co, holding responsável pela Basicamente, revela que ao ver o crescimento do nicho, a companhia iniciou um turnaround de marca, passando a focar exclusivamente em roupas tecnológicas, abandonando o que consideram um “oceano vermelho”, que é o segmento de roupas básicas casuais – onde a concorrência é significativamente mais ampla.

“Majoritariamente, a tecnologia é aplicada de duas formas. Uma é aplicada ao fio, produzo o tecido já com a tecnologia, ao processo de fiação, mas a grande maioria das peças é após o tecido ficar pronto, como se fosse um banho de ouro, é um agente químico ou biológico”, explica.

Assim como a Insider, a companhia não revela o processo ou a técnica envolvidos na produção das camisetas, citando que não há patente – tal como nos concorrentes – mas há segredos industriais.  Haddad diz que a empresa registrou crescimento acima de 100% nos últimos anos em termos de faturamento, e em 2024 há um crescimento na casa dos 70%, com a companhia já mais consolidada.

‘Não existe uma patente. É moda’

Em um ‘meio do caminho’ entre esses dois modelos, há outros players também – que já estavam na indústria, mas se repaginaram e cresceram vertiginosamente.

Conrado Almeida é CEO e fundador da Army, e relata em entrevista ao IstoÉ Dinheiro que a marca surgiu em meados de 2018. Desde sempre, esteve voltada para vestuário atrelado a um estilo de vida com práticas esportivas.

Em um passado recente, investiu pesado em tecnologia. Em suas peças – incluindo a camiseta básica tecnológica – utiliza também o tecido modal. O investimento tem dado resultado, segundo Almeida. “Crescemos, de 2022 para 2023 um volume de 1.024% em faturamento. De 2023 para 2024 crescemos três dígitos percentuais agressivos”, relata.

O empresário conta que a marca não foi tão assediada por compradores nos últimos anos, mas já realizou rodada de investimentos. Ainda em 2024, a companhia fez uma rodada com um fundo de investimento da Moriah Asset, que abocanhou 10% na primeira rodada e mais 10% na subsequente.

Sobre o produto em si, Almeida diz que ‘o que pode dividir’ é que não há patente das tecnologias.

“Não existe patente para o tecido. Gosto de desmitificar o que é contado ao cliente final, como se fosse algo desenvolvido muito novo. O tecido é fornecido por qualquer matéria-prima de qualquer fornecedor, não existe uma patente. É moda”, defende.

Mais concorrentes, preço menor

Sendo uma entrante mais nova no meio, a proposta da Basicamente é ser mais acessível em temos de preço do que os seus pares – especialmente por conseguir custos mais baixos pelo tamanho da indústria – mas entregar uma tecnologia igual ou similar.

“Queremos ser uma tech wear acessível, isso está no core [núcleo] do grupo. Temos uma proposta diferente, de não pagar caro para vestir tecnologia. Hoje meu preço de partida é R$ 79,90 para uma camiseta preta. Em relação às margens, temos uma indústria grande por trás, então somos mais competitivos em custos, nossa margem é saudável. Conseguimos vender mais barato e seguirmos sendo rentáveis”, revela Haddad.

Dessa forma, o marketing da empresa também tem focado menos na divulgação massiva com influenciadores, como alguns pares tem feito – a exemplo da Insider.

Haddad cita que o retorno sobre investimento (ROI, na sigla em inglês) é positivo, e que a empresa tem visado crescer com sustentabilidade, sem queimar caixa para campanhas digitais robustas. “Nossa estratégia não é montar a marca, hypar [ficar popular, ou na moda] e depois vender a marca para um conglomerado, queremos ser sustentáveis no longuíssimo prazo”.

Influenciadores e marketing digital

Olhando para um público amplo, já que as roupas do nicho são básicas e versáteis, players como a Insider tem feito aportes grandes no digital, pagando influenciadores com grandes bases de seguidores e patrocinando produtos veiculados em redes sociais.

Como exemplo, a companhia tem contrato com o Flow, um dos maiores podcasts do Brasil atualmente, com 5,6 milhões de inscritos. A parceria fez com que, além dos banners na TV e da impressão 3D da logo em cima da mesa, os dois últimos presidentes da República – Lula e Bolsonaro – recebessem camisetas na abertura dos programas em que foram entrevistados.

“A Insider é presente para públicos diferentes. Temos parceria com o Flow e vários outros desde podcasts até outros segmentos, mas nosso objetivo é sermos inclusivos, não fazemos restrição de endereçamento de público. Falando de números, no digital já passamos a Hering em tamanho, olhando para acessos no site. A Insider já é a maior marca de roupas básicas essenciais da internet, passando players como Zara e Hering”, afirma Gricheno.

Almeida, da Army, diz que a marca também tem investido pesado em influenciadores. “Temos na casa hoje nomes como GKay, Júlio Cocielo, Eslen Delanogare, Renato Cariani”, elenca.

A Army não deixam o varejo físico de lado. Há um ano inaugurou uma loja no Shopping Ibirapuera e recentemente abriu outra no Shopping Morumbi, ambas na capital paulista. Também está em processo de abertura de outras duas em Belo Horizonte (MG).

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