Com patrocínio de R$ 5 mi até 2026, cinema na rua Augusta vira Espaço Petrobras de Cinema

A Petrobras é a nova patrocinadora do Espaço de Cinema Augusta, localizado no bairro da Consolação, em São Paulo (SP). O estabelecimento receberá R$ 5,055 milhões ao longo de dois e adotará o nome de Espaço Petrobras de Cinema durante o período. O dinheiro será pago em três parcelas, com a primeira já entregue no final de 2024.

Com o novo aporte financeiro, o espaço já investiu na troca do equipamento de projeção das suas cinco salas para um sistema a laser. “A gente não tem 3D, não tem nenhuma peripécia tecnológica, mas temos qualidade de projeção excelente”, diz o diretor e dono do local, Adhemar Oliveira. O patrocínio também assegurou uma nova identidade visual, com mudanças nas cores da decoração e da fachada.

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O espaço ficou mais de 8 meses sem patrocinador, após o Itaú vender as suas operações de sala de cinema em abril do ano passado.

Oliveira celebra a parceira com a Petrobras e afirma que a maior dificuldade de gerir um cinema de rua é arcar com todos os custos. “O cinema de rua tem como característica a administração total do imóvel, das posições de segurança, de tudo. Aquilo que o shopping oferta pro cinema, a gente não tem a oferta disso”, diz. “O desafio maior é você estar sozinho”.

Para a Petrobras, o acordo amplia um projeto de retomada do seu protagonismo no financiamento cultural do país. No ano passado, a petroleira anunciou patrocínio cultural recorde no tamanho de R$ 250 milhões, após um período de baixa iniciado em 2019, durante o governo Bolsonaro. No momento, a empresa também apoia a produção de 26 filmes, além de mostras como os festivais de cinema de Gramado (RS) e Vitória (ES).

Bancos mantiveram cinema nos últimos 30 anos

O Espaço Petrobras de Cinema funcionou durante anos com parceria de instituições financeiras. Inaugurado em 1947 como Cine Majestic, foi adquirido por Oliveira em 1993 através da empresa Arteplex e reinaugurado como “Espaço Banco Nacional de Cinema”. Na época, foi realizada uma troca dos equipamentos por máquinas mais modernas, além da divisão da até então única grande sala de 1300 lugares por três menores.

O Banco Nacional foi incorporado pelo Unibanco e, posteriormente, virou Itaú Unibanco. O Espaço de Cinema também trocou a instituição no seu nome e manteve assistência financeira. “Nós viemos numa trajetória de 39 anos com o mesmo patrocinador”, diz Oliveira, que contabiliza o tempo desde a primeira parceria firmada com um banco, em um cinema do Rio de Janeiro no ano de 1985.

Veja as mudanças na fachada do local na Rua Augusta conforme ocorreram as trocas de proprietário e patrocinador:

Fachada do antigo Cine Majestic durante administração da Gaumont, em 1985 (Crédito:Divulgação)
Fachada do Espaço de Cinema sob administração do Banco Nacional (Crédito:Divulgação)
Fachada do Espaço de Cinema sob administração do Itaú Unibanco (Crédito:Divulgação)
Fachada do Espaço de Cinema da Rua Augusta (SP) sob administração do Itaú Cultural

Em maio de 2025, o Itaú vendeu suas 40 salas de cinemas para o Cinesystem. Oliveira repassou para a rede dois cinemas que mantinha em parceria com o banco no Rio de Janeiro e em Brasília, mas manteve a unidade de São Paulo. “Porque foi o primeiro cinema em São Paulo do nosso trabalho, nossa rede”, diz.

As dificuldades financeiras no entanto persistem mesmo em espaços de grande fluxo de público como o cinema na Augusta, que recebe festivais como a Mostra de Cinema de São Paulo e já liderou bilheterias de filmes brasileiros, como o “Medida Provisória”, dirigido por Lázaro Ramos.

“Por isso você procura acompanhantes”, diz Oliveira. “Teve uma interrupção do contrato [com o Itaú] e a gente ficou passeando no mercado.” Foi a Petrobras quem primeiro procurou o local, logo após o fim do contrato com o Itaú, em maio. “Essa conversa durou 8 meses e agora vai se startar em janeiro”, conclui o empresário.

Para além do espaço na Rua Augusta, Adhemar Oliveira possui vínculos com outros cinemas não vinculados a Arteplex: a Cinesala, uma sala única de rua, também na cidade de São Paulo; o UNA Cine Belas Artes, em Belo Horizonte, patrocinado por uma instituição de ensino; e o Cine Glauber Rocha, em Salvador.

Cinema na Augusta está em meio à briga judicial

O novo patrocinador chega em meio a uma disputa entre a administração do cinema e a incorporadora Vila 11, que busca derrubar duas das cinco salas de exibição. Construídas pela Arteplex e inauguradas em 1995 no lado oposto da rua, em frente ao local do antigo Cine Majestic, as salas 4 e 5 ganharam o nome de “Anexo”.

Tanto o Anexo como o prédio histórico principal são alugados. “Os cinemas normalmente não trabalham com a propriedade do imóvel”, diz Oliveira. “O proprietário foi vender o imóvel e veio comunicar pra gente. Nós falamos que não tínhamos interesse, era a pandemia”, recorda.

Em 2020, o local acabou adquirido pela Vila 11, que anunciou um plano para derrubá-lo e erguer um edifício no local. Moradores da região organizaram uma abaixo-assinado, e o Ministério Público acionou a Justiça para classificar o espaço como Zona Especial de Preservação Cultural – Área de Proteção Cultural (Zepec-APC) e garantir assim proteção das salas contra a demolição.

O último episódio da disputa ocorreu em 6 de janeiro, quando o juiz Evandro Carlos de Oliveira, da 7ª Vara da Fazenda Pública da capital, suspendeu uma autorização emitida em dezembro para demolição. A decisão afirma que a destruição do edifício não pode ocorrer antes da conclusão do processo, para que não haja risco de um “dano de incerta e difícil reparação”. Por ora, as duas salas do Anexo, assim como as três do cinema principal, funcionam normalmente.

Reinauguração com filmes nacionais

Apesar de nunca ter fechado as portas, o agora Espaço Petrobras de Cinema irá promover um evento de reinauguração, com abertura da nova fachada, na próxima terça-feira, 21.

Três filmes brasileiros foram escolhidos para o evento: “Terra Estrangeira” (1992), dirigido por Walter Salles e estrelado por Fernanda Torres; uma pré-estreia de “Kasa Branca” (2025), drama com lançamento oficial em 23 de janeiro; e “Malês” (2023), de Antônio Pitanga, ficção que revisita a Revolta dos Malês.

“A gente tem uma presença nesse incentivo, nesse investimento nas diferentes manifestações do audiovisual brasileiro”, diz Milton Bittencourt Neto, gerente de Patrocínio Cultural da empresa. “Então, ele [o patrocínio] vem ao encontro de um momento do nosso programa Petrobras Cultural de estar atento a essas a essas manifestações, essas oportunidades.”

Com novo patrocínio, cinema oferecerá cortesias

Adhemar Oliveira possui uma visão idealista sobre as qualidades dos cinemas de rua, como os diferenciais do catálogo: “Nós temos filme brasileiro, filme independente, arte e blockbuster conjugando no mesmo lugar”, diz. “Você entra direto e consegue ficar um pouco livre daquela opressão do shopping, né? É isto que eu acho que eles oferecem, a liberdade da rua”, complementa.

Para fortalecer essa vocação para “liberdade”, o Espaço terá agora três projetos de gratuidade. O “Curta Petrobras às Seis”, já realizado entre 1999 e 2006, fará sessões gratuitas de cinco curtas-metragens, com cerca de 1 hora de duração, às 18h. “Era um projeto que dava uma opção de lazer e cultura num momento em que as pessoas enfrentavam trânsito, para fugir do trânsito”, recorda Oliveira.

Já em atividade, o “Clube do Professor” oferece gratuidade para professores em filmes com potencial para serem trabalhados em sala de aula. O “Escola no Cinema” oferecerá sessões gratuitas pela manhã para excursões escolares de instituições de ensino públicas. Por fim, o cinema continuará com o “Sessão Vitrine Petrobras”, que já é realizado periodicamente, com a exibição de filmes nacionais a preços reduzidos.

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