‘O passo depois da tramoia’: Roça Nova lança álbum ‘Corta quebranto’

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Roça Nova Corta quebranto
Roça Nova é atualmente formada por Pedro Tasca, Marco Maia, Hector Eiterer, João Manga, Tiago Croce, Bernardo Leitão e Thalles Oliveira (Foto: Digo Ferreira/ Divulgação)

Roça Nova começou o ano com um novo anúncio. A banda da Zona da Mata mineira lançou, bem no primeiro dia de 2025, um novo álbum: um sinal indicativo de qual é o caminho a ser seguido a partir de então. “Corta quebranto”, já disponível nas plataformas digitais, segue fiel ao “caipigroove”, como eles chamam, mas com os pés ainda mais fincados no chão de terra e nos cenários do interior – sem perder de vista as músicas latino-americana que aparecem ainda mais nesse álbum mais recente. As influências ali, todas nítidas, quando misturadas, mostram a identidade que a Roça Nova vem cultivando desde o começo, fortalecida, dessa vez, pelas andanças dos shows. A primeira música, “Carroça nave, câmbio”, uma vinheta, já avisa: “Preparar para a decolagem”.

“Tramoia”, o primeiro álbum lançado pelo grupo, já dizia muito qual seria esse caminho a ser percorrido por eles. Sobretudo nos temas das canções, que dizem do cotidiano do interior, das crenças, salvações e os encontros entre o rural e o urbano. O próprio instrumental vai de encontro a isso, no entanto, com uma guitarra mais presente. É como pedir licença e anunciar: “O que queremos é isso aqui”. Esse trabalho foi lançado assim que a banda surgiu e parte da turma foi reunida. Mas já nos shows foi possível perceber a elaboração de uma nova ideia que culmina, então, em “Corta quebranto”.

Roça Nova é atualmente formada por Pedro Tasca (vocal e violão), Marco Maia (guitarra), Hector Eiterer (baixo), João Manga (bateria e vocal), Tiago Croce (viola, guitarra e rabeca), Bernardo Leitão (percussão) e Thalles Oliveira (percussão). E a chegada de Tiago e Thalles ao grupo adiciona outras regionalidades ao som. Isso porque viola e rabeca, tão regionais, se mostram mais presentes e ao som de ritmos muito próprios dos interiores: reforçando, por isso, a construção de uma música própria partindo do que foi feito em “Tramoia”.

Uma continuação

Pode-se dizer que “Corta quebranto” é mesmo o encontro dos sete e a conexão ainda mais fortalecida pelo chão rodado nesses quase quatro anos que separam os dois trabalhos. Roça Nova fez muitos shows e, dessa forma, testou as músicas ao vivo para então ir para estúdio. As músicas e os arranjos são criações dos sete e de imersões na roça. E é por isso que é um trabalho diferente.

“Tramoia”, por sua vez, já chamou muita atenção. E pensar em um outro disco depois disso traz uma responsabilidade. “Não sei se a gente se cobra para ser melhor, mas pelo menos que seja tão impactante e surpreendente como foi o primeiro para quem curte o nosso som e para a gente mesmo. Por outro lado, a gente teve ao nosso lado a vantagem de estar mais maduro, das composições terem sido compostas e arranjadas coletivamente e de a gente ter tido mais oportunidade de testar ao vivo e ver a recepção da galera”, garante Pedro Tasca.

O músico que foi um dos responsáveis pela criação do projeto entende que “Corta quebranto” é uma continuação de “Tramoia”. Isso porque o primeiro traz já no nome um ato de pensar e bolar um plano em cima de questionamentos que cada um já trazia consigo. “Por outro lado, ‘Corta quebranto’ já surge com a banda formada, uma amizade sólida, e momentos que a gente viveu muito juntos, meses viajando e imersão na roça. Então, as composições vêm desde a pré-produção de ‘Tramoia’.” O nome, da mesma forma, também sugere o caminho: “Porque cortar quebranto é curar. E a gente busca isso para a gente e para quem ouve, um acalanto para o coração. É um movimento de cura e o passo depois da tramoia”. Essa continuação faz ainda mais sentido visto que a produção dos dois álbuns é de Henrique Villela, quase como um oitavo integrante que conhece toda essa ideia por trás das músicas.

Ouça ‘Corta quebranto’

Experimentações

Roça Nova é uma banda independente e usa disso, inclusive, para experimentar e abordar temas diversos nas composições. Dois singles foram lançados antes do álbum e são retrato disso. Se “Tucano do bico verde” fala sobre o encontro entre eles e pede proteção ao caminho traçado, “Rio Doce” é uma manifestação contra o que acontece de pior no campo, a usar de exemplo o rompimento da barragem em Mariana. Essa música, como afirma Pedro, é lançada justo depois da absolvição das empresas envolvidas na tragédia e nasceu logo na pré-produção de “Tramoia” e foi uma das primeiras a entrar em “Corta quebranto”.

Junto com ela, um clipe-documentário que traz as imagens do lugar e o que, pode-se dizer, restou do episódio. “Para a gente usar o nome Roça Nova a gente tem que continuar lutando pelas belezas e falar das dores do interior que faz parte da nossa criação e que a gente carrega no nosso nome. Isso é uma responsabilidade nossa”, garante Pedro.

Outra forma de experimentação muito presente no trabalho é o que eles fazem nas músicas instrumentais que servem também como vinhetas de momentos de “Corta quebranto”. Pedro diz que a maioria das músicas surgem dessa forma. E, com tantos instrumentistas, usar desses momentos é também mostrar o que eles fazem e a importância desse encontro de instrumentos para dar o tom do que é Roça Nova.

Participações afetivas

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As referências da banda estão ainda mais presentes nesse trabalho mais novo. O álbum conta com duas participações que dizem muito sobre o trabalho da Roça Nova: Banda de Pau e Corda, em “Caipora”, e André Prando, em “Cavião cigano”. Banda de Pau e Corda, como conta Pedro, tem tudo a ver com a ideia da concepção da banda e o que eles queriam criar. Já André Prando é amizade fortalecida com a estrada, com trabalhos que dialogam e ideias semelhantes. “Essas participações, mais que tudo, são muito afetivas para a gente.”

Outra participação afetiva está exposta logo na capa. Quem assina as telas que representam cada faixa e o álbum é Leonardo Leitão, que começou a produzi-las ainda em 2022 a partir das mensagens de cada música e do trabalho completo. Ela ainda pode ser vista ampliada, já que “Corta quebranto” vai virar vinil e a pré-venda começa em fevereiro. Ainda neste mês, a turnê vai ser lançada com as datas dos shows pelo sudeste divulgadas.

O álbum foi feito a partir do patrocínio da Prefeitura de Juiz de Fora, por meio do Programa Cultural Murilo Mendes da Funalfa.

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