‘Já fez história’: o que significa a vitória de Fernanda Torres no Globo de Ouro para o cinema nacional e para as indicações de ‘Ainda estou aqui’

fernanda torres

fernanda torres
(Foto: goldenglobes.com)

Na noite de domingo (5), Fernanda Torres foi a primeira mulher brasileira a ganhar um Globo de Ouro por atuação em filme de drama. Essa premiação acontece durante a campanha do filme “Ainda estou aqui”, dirigido por Walter Salles, em que ela interpreta Eunice Paiva. Com a vitória, exatamente 25 anos depois de sua mãe, Fernanda Montenegro, também concorrer na premiação, ela se aproxima de outras conquistas cinematográficas e chama atenção para o filme no cenário internacional. Mas o que isso significa, na prática, para o avanço no cinema nacional e para as chances da obra conquistar um Oscar?

Apesar do Globo de Ouro ser um termômetro interessante, é difícil saber o que acontece em seguida. Érika Savernini, professora de Cinema e Audiovisual na Faculdade de Comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e organizadora do Cineclube Lumière e Cia, explica que o percurso da obra, daqui para frente, depende de vários fatores. “O filme é inquestionavelmente maravilhoso. Mas a gente sabe que a premiação não envolve só a qualidade, mas questões de mercado que são muito importantes”, explica. Ela destaca, por exemplo, que a presença de grandes estúdios defendendo indicações e as iniciativas de marketing fazem toda a diferença para obter uma conquista como essa. “Ainda estou aqui”, por sua vez, conta com o apoio da Sony, que ajuda a alavancar essa disputa.

Apesar do filme ter sido indicado na categoria direcionada para produções estrangeiras, não obteve a estatueta – quem ganhou foi “Emília Perez”, filme francês. Mas Érika garante que um marco já foi conquistado: “O ‘Ainda estou aqui’ já faz história pela quantidade de público que está levando ao cinema. Isso é um ciclo muito importante dentro de qualquer cinematografia dos países, porque vai estimular o público a procurar outras produções nacionais e se envolver com o cinema. Tem gente que nunca prestou atenção e está acompanhando e torcendo, aquela coisa de brasileiro passional. Vira uma torcida parecida até com a de futebol. Isso gera um impacto no cinema antes mesmo da vitória dela”, destaca.

Ainda que o Globo de Ouro sinalize uma grande possibilidade, como ela destaca, a indicação para um Oscar (tanto na categoria de “melhor atriz” quanto “melhor filme internacional”) ainda é incerta. Ainda mais porque, como conta, o Oscar ainda é mais restrito quanto a premiar pessoas estrangeiras em suas categorias principais. O papel que Fernanda Torres interpreta também foge dos padrões mais óbvios reconhecidos pela Academia, que costuma privilegiar aqueles indivíduos que tiveram transformações físicas ou estão em histórias com um tom dramático forte. Nada, portanto, que o filme brasileiro tenha se proposto a trazer. O reconhecimento desse tipo de atuação também chama atenção dela: “A Fernanda Torres é maravilhosa desde sempre, mas essa atuação dá uma dimensão maior. É algo feito nos pequenos gestos, no olhar, na postura do corpo. E o diretor também tem um papel importante nisso, tá todo mundo muito bem ali. É só assim que funciona essa sutileza”, diz.

Cinema nacional, para eles e para nós

Embora o cinema brasileiro já tenha uma produção de alta qualidade há muitos anos, como destaca a professora e pesquisadora, ainda há dificuldades para essas produções chegarem até o público, e também das pessoas conhecerem os filmes produzidos no país. “O problema continua sendo a exibição, por isso a necessidade das cotas de tela”, destaca, sobre a lei que traz a obrigatoriedade de ocupação dos filmes nacionais nas salas de exibição. 

Por isso também o marco que a produção conseguiu alcançar. Com mais de 3 milhões de espectadores no país e toda essa “corrida” por prêmios internacionais, foram espectadores bastante diversos se aproximando da narrativa apresentada. “É uma história que é muito local, é a nossa história, do Brasil, sobre a ditadura militar e um deputado cassado e desaparecido. Mas tem um caráter universal: é a história de uma família. As pessoas conseguem se identificar. Está no contexto da ditadura militar, mas é sobre os impactos dessa perda tão terrível”, destaca.

Mudança no perfil dos votantes

Como destaca Érika, a mudança no perfil dos votantes é um fator determinante para as premiações apresentarem ganhadores mais diversos nos últimos anos. Isso acontece a partir de novos jurados de fora de Hollywood, trazendo votantes mais diversos, e gera um impacto também na abertura maior a escolher gêneros considerados “menores”, como o terror – Demi Moore também foi uma das vitoriosas da noite, com sua atuação em “A substância”. O mesmo vem acontecendo em muitas outras premiações, não só o Globo de Ouro. “Isso acaba levando a uma maior diversidade nas indicações e, consequentemente, para a premiação”, destaca. De qualquer forma, toda essa visibilidade já coloca o cinema brasileiro nos holofotes em 2025.

Confira todos os vencedores do Globo de Ouro: 

​​Melhor atriz coadjuvante

Selena Gomez (“Emilia Pérez”)

Ariana Grande (“Wicked”)

Felicity Jones (“O brutalista”)

Margaret Qualley (“A substância”)

Isabella Rossellini (“Conclave”)

Zoe Saldaña (“Emilia Pérez”) – vencedora 

Melhor atriz em série de comédia ou musical

Kristen Bell (“Ninguém Quer”)

Quinta Brunson (“Abbott Elementary”)

Ayo Edebiri (“O urso”)

Selena Gomez (“Only murders in the building”)

Kathryn Hahn (“Agatha desde sempre”)

Jean Smart (“Hacks”) – vencedora

Melhor ator coadjuvante

Denzel Washington (“Gladiador II”)

Kieran Culkin (“A verdadeira dor”) – vencedor 

Guy Pearce (“O brutalista”)

Jeremy Strong (“O aprendiz”)

Yura Borisov (“Anora”)

Edward Norton (“Um completo desconhecido”)

Melhor ator de drama em série de TV

Donald Glover (“Sr. e Sra. Smith”)

Jake Gyllenhaal (“Acima de qualquer suspeita”)

Gary Oldman (“Slow horses”)

Eddie Redmayne (“O dia do Chacal”)

Hiroyuki Sanada (“Xógum: A gloriosa saga do Japão”) – vencedor

Billy Bob Thornton (“Landman”)

Melhor atriz coadjuvante em título para a televisão ou streaming

Liza Colón-Zayas (“O urso”)

Hannah Einbinder (“Hacks”)

Dakota Fanning (“Ripley”)

Jessica Gunning (“Bebê rena”) – vencedora

Allison Janney (“A diplomata”)

Kali Reis (“True detective: Night country”)

Melhor ator coadjuvante em título para a televisão ou streaming

Tadanobu Asano (“Xógum: A gloriosa saga do Japão”) – vencedor

Javier Bardem (“Monstros: Irmãos Menendez”)

Harrison Ford (“Falando a real”)

Jack Lowden (“Slow horses”)

Diego Luna (“A máquina”)

Ebon Moss-Bachrach (“O urso”)

Melhor ator em série de comédia ou musical

Adam Brody (“Ninguém quer”

Ted Danson (“Um espião infiltrado”)

Steve Martin (“Only murders in the building”)

Jason Segel (“Falando a real”)

Martin Short  (“Only murders in the building”)

Jeremy Allen White (“O urso”) – vencedor

Melhor roteiro

“Emilia Pérez”

“Anora”

“O brutalista”

“A verdadeira dor”

“A substância”

“Conclave” – vencedor

Melhor Comediante

Jamie Foxx (“What had happened was”)

Nikki Glaser (“Someday you’ll die”)

Seth Meyers (“Dad man walking”)

Adam Sandler (“Love you”)

Ali Wong (“Single lady) – vencedora

Ramy Youssef (“More feelings”)

Melhor filme de língua não-Inglesa

“Tudo que Imaginamos como luz”

“Emilia Pérez” – vencedor 

“The girl with the needle”

“Ainda estou aqui”

“The seed of the sacred fig”

“Vermiglio”

Melhor ator de filme para TV ou série limitada

Colin Farrell  (“Pinguim”) – vencedor

Richard Gadd (“Bebê Rena”)

Kevin Kline (“Disclaimer”)

Cooper Koch (“Monstros: Irmãos Menendez”)

Ewan McGregor (“Um cavalheiro em Moscou”)

Andrew Scott (“Ripley”)

Melhor atriz de filme para TV ou série limitada

Cate Blanchett (“Disclaimer”)

Jodie Foster (“True Detective: Night country”) – vencedor

Cristin Milioti (“Pinguim”)

Sofía Vergara (“Griselda”)

Naomi Watts (“Feud: Capote vs. the Swans”)

Kate Winslet (“O regime”)

Melhor atriz em filme de comédia ou musical

Amy Adams (“Canina”)

Cynthia Erivo (“Wicked”)

Karla Sofía Gascón (“Emilia Pérez”)

Mikey Madison (“Anora”)

Demi Moore (“A substância”) – vencedora

Zendaya (“Rivais”)

Melhor ator em filme de comédia ou musical

Jesse Eisenberg (“A verdadeira dor”)

Hugh Grant (“Herege”)

Gabriel LaBelle (“Saturday Night”)

Jesse Plemons (“Tipos de gentileza”)

Glen Powell (“Assassino por acaso”)

Sebastian Stan (“Um homem diferente”) – vencedor 

Melhor filme de animação

“Flow” – vencedor

“Divertida mente 2”

“Memórias de um caracol”

“Moana 2”

“Wallace & Gromit: Avengança”

“Robô selvagem”

Melhor direção

Jacques Audiard (“Emilia Pérez”)

Sean Baker (“Anora”) 

Edward Berger (“Conclave”)

Brady Corbet (“O brutalista”) – vencedor

Coralie Fargeat (“A substância”)

Payal Kapadia (“Tudo que imaginamos como luz”)

Melhor trilha sonora

“O brutalista”

“Conclave”

“Robô selvagem”

“Emilia Pérez”

“Rivais” – vencedor 

“Duna: Parte 2”

Melhor canção original

The Last Showgirl (“Beautiful that way”)

Rivais (“Compress/Repress”)

Emilia Pérez (“El mal”) vencedor

Better Man (“Forbidden road”)

Robô Selvagem (“Kiss the sky”)

Emilia Pérez (“Mi camino”)

Maior evento cinematográfico do ano

“Alien: Romulus”

“Os fantasmas ainda se divertem: Beetlejuice Beetlejuice”

“Deadpool & Wolverine”

“Gladiador 2”

“Divertida mente 2”

“Twisters”

“Wicked” – vencedor

“Robô selvagem”

Melhor filme para TV ou série limitada

“Monstros”

“Bebê rena” – vencedor 

“Difamação”

“Pinguim”

“True detective: Terra noturna”

“Ripley”

Melhor série de comédia

“Abbott elementary”

“O urso”

“Magnatas do crime”

“Hacks” – vencedor

“Ninguém quer”

“Only murders in the building”

Melhor atriz de drama em série de TV

Kathy Bates (“Matlock”)

Emma D’Arcy (“A casa do dragão”)

Maya Erskine (“Sr. e Sra. Smith”)

Keira Knightley (“Black doves”)

Keri Russell (“A diplomata”)

Anna Sawai (“Xógum: A gloriosa saga do Japão”) – vencedora 

Melhor série de drama

“O dia do Chacal”

“A diplomata”

“Sr. e Sra. Smith”

“Xógum: A gloriosa saga do Japão” – vencedor

“Slow horses”

“Round 6”

Melhor atriz em filme de drama

Pamela Anderson (“The last showgirl”)

Angelina Jolie (“Maria Callas”)

Nicole Kidman (“Babygirl”)

Tilda Swinton (“O Quarto ao lado”)

Fernanda Torres (“Ainda estou aqui”) – vencedora

Kate Winslet (“Lee”)

Melhor ator em filme de drama

Adrien Brody (“O brutalista”) – vencedor

Timothée Chalamet (“Um completo desconhecido”)

Daniel Craig (“Queer”)

Colman Domingo (“Sing sing”)

Ralph Fiennes (“Conclave”)

Sebastian Stan (“O aprendiz”)

Melhor filme de drama

“O brutalista” – vencedor

“Um completo desconhecido”

“Conclave”

“Dune: Parte 2”

“Nickel boys”

“Setembro 5”

Melhor filme de comédia ou musical

“Anora”

“Rivais”

“Emilia Pérez” – vencedor 

“A verdadeira dor”

“A substância”

“Wicked”

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